quarta-feira, 7 de março de 2018

Adriano Nunes: "Manhã"

"Manhã"


Não há qualquer barco no mar.
Ítaca do sono se vale
E brilha em seu quase silêncio. 
Que aprontam as Moiras agora
Em que tudo espera se faz?
Que vácuo alimenta o grã cais?
Ainda não é manhã. Dentro
Do palácio a vida é costura
Desfeita, são fios infindos
Enfeitando a astúcia e o horror
De ter que aceitar outro amor.
Ah, se não houvesse manhãs
Após manhãs, se não houvesse
Este lascivo labirinto
De promessas e chances vãs!
Não há qualquer barco no mar.
Somente o corpo de Odisseu
Estendido na praia, vivo,
A almejar estar com os seus.

Nenhum comentário: