"Ao que de mim não sai jamais"
Quando Sócrates morreu,
Eu ainda não tinha entendido
O que era ter perdido o amigo.
Sempre dizem isso:
"A gente só sabe o peso da perda
Quando ela súbita
aparece!"
Mas eu sempre o tive
Perto. Desde jovem,
A ideia mais que norte,
A ideia em riste!
A ausência... Na hora inerte,
Para que estar triste serve?
É que dos mundos da mente
Para a vida ateniense,
É impossível não pensar
A fundo, aqui,
No futuro aleijado,
No amor que se quer amor
Por todos os fraternos laços.
Quando ele se foi, escrevi
Até a noite alta!
Era para ver se encurtava
A tal distância, a da alma
Ao corpo. Ao outro.
O fato é que morri, aos poucos,
Entre dúbias violências,
Sem o meu amigo.
Dizem que quando a gente cresce
Sara a chata mágoa, a dor passa,
A ferida cicatriza, e nada
Importa mesmo. Estou velho.
Que à vez calha?
É noite. Só o ruído esquisito do ar
Brincando entre as colunas
De mármore gasto
Parece sinalizar para mim,
Para a minha inquietação sem fim,
Que dói não ter o grande Sócrates,
Ao lado,
Não o ter de qualquer modo,
Para vivíssimo abrigá-lo
No coração,
Nos báratros ignotos dos olhos.
Muitas coisas morrem
Em meu ser, qual ordem,
Como verdades e sonhos. Depois,
Engendram outras cores e
Ressurgem
Com os matizes da esperança.
A que Atenas agora se lança?
"Cuida-te, Platão!"- A meu ser digo.
Parecem até nuvens! Nuvens!
Sempre dizem que adianta
Seguir adiante, confiante.
Desafia-me o infinito.
Tensa noite... E a ideia capaz
Foi de trazer o abraço
Do maior Sábio entre os sábios
Ao que de mim não sai jamais.
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