Admirado por Lêdo Ivo, policial alagoano lança primeira obraEm Laringes de Grafite, Adriano Nunes diz que escreveu sobre o que pensa e sente com relação ao mundo
“Sou médico e policial federal. Mas, além e acima de tudo, sou poeta”. É assim que ele se define. Entre a ciência que lhe permite cuidar da saúde das pessoas e a profissão que faz com que investigue crimes praticados na esfera da União por pessoas comuns e agentes públicos, Adriano Nunes prefere se ‘perder’ na criação de versos, que, ainda que por apenas alguns instantes, transcende-o para um mundo que permite o seu afastamento da vida cotidiana, daquela vida que, em tese, nem tem doentes e nem criminosos por perto.
Há menos de um mês, no final de novembro, Adriano Nunes lançou sua primeira obra: Laringes de Grafite. O livro surge após três décadas de produção literária. Acredite! Ele escreve desde os cinco anos de idade. “Esse livro representa a minha vontade íntima e necessária de desafiar o infinito, de pôr à vista da crítica do leitor o meu mundo do pensamento e sentimento, de expor-me, sem medo”, disse ele.
O nome do título é o mesmo de um poema escrito há tempos, mas que, após a seleção do conteúdo que seria incluído na publicação, foi guardado para outra oportunidade. “Sou médico e escritor, então, o nome do livro é uma mistura do que me penso e sinto. Já escrevi um poema chamado Laringes de Grafite, mas não nessa obra”, contou o escritor.
A orelha de Laringes de Grafite foi escrita pelo imortal da Academia Brasileira de Letras Lêdo Ivo, alagoano falecido há uma semana após ter passado mal, em viagem a Espanha. “Lêdo deu-me imensa alegria quando se propôs a escrever sobre a minha poesia. Eu o admirava muito e ele me disse várias vezes gostar do que eu escrevia. Sinto-me honrado por terem as orelhas do meu livro sido escritas por ele. Perdi um amigo, um protetor, um poeta, o maior poeta alagoano de todos os tempos”, lamentou Nunes.
O filósofo Antonio Cícero (irmão da cantora Marina Lima) escreveu o prefácio. “Cicero é meu amigo. Fiquei muito feliz ao saber que o meu livro o agradou bastante. Por ele ser um ser voltado para a razão, de medir o que se diz e escreve, as suas palavras são um prêmio. Sou bastante grato a ele por tudo o que fez por mim”, declarou o poeta.
As motivações para compor
Quando começa a escrever, Adriano Nunes tenta unir o que sente às formas de rima e métrica. “Quando inicio um verso, percebo, sinto, constato que a partir dali posso produzir um poema. A primeira palavra já vem carregada de uma grande responsabilidade estética, pois ela vai moldar as minhas ideias, vai ter que orientar-me feito bússola, terá que guiar-me, sem receios, até o fim do túnel, terá que acender todas as luzes ou mesmo criá-las, terá que me prender a atenção, terá que me oferecer, de imediato, uma direção: ou por seu número de sílabas poéticas, ou pelo seu significado, ou pelo impacto que pode causar visualmente, ou pela possibilidade de ofertar-me figuras de linguagem, a exemplo de metáforas, aliterações e quebras silábicas. Ou imprimir um ritmo em minha mente. Não aceito o poema pronto, não o vejo concebido para o público ainda, sem que o mesmo passe pelo crivo da minha razão crítica. Tento fazer o melhor para o poema. E tudo serve de inspiração”, explicou.
E tanto amor à poesia não é fruto de uma relação recente entre criações e criador. O encantamento de Adriano Nunes pelos versos começou ainda na infância dele. “A literatura é anterior à medicina, em minha vida. Escrevo desde os cinco anos de idade. Quando eu era criança e pré-adolescente, as letras das canções eram poemas para mim e os meus poetas eram os compositores e cantores. A relação afetiva e efetiva que eu tenho com as palavras, com as letras, é de contemplação, de espanto, de susto, de milagre mesmo”, revelou o escritor.
E foi o português Fernando Pessoa o maior inspirador de Adriano Nunes. “O primeiro poeta a entrar em meu mundo foi Fernando Pessoa, meu mestre maior. Com a vinda da medicina, outros poetas invadiram o meu eu para sempre. Aprendi, com todos os escritores que amo, a tratar os meus versos como um filho e como um paciente. Feito um filho, o meu verso precisa ser educado. Às vezes, rigidamente. Mas sempre amado, muito amado. Quando digo que trato um verso meu como um paciente, quero expressar o cuidado que tenho por ele, o carinho em expô-lo ao universo sem as amarras do tempo, sem o hermetismo da contemporaneidade, sem que a ferrugem, os estigmas, os dogmas caiam sobre ele, sem que o impregnem de classificação, rótulos. Não pertenço a nenhuma escola literária e não me ponho em nenhum estilo. Cito até Walt Whitman para me caracterizar: “Sou amplo, contenho multidões. Os meus poemas querem muito, eu sei. Mas querem a sua própria natureza, querem ser apenas poemas”, defendeu.
“Nunes recebeu ainda influências dos poetas clássicos Horácio, Shakespeare, Homero e Camões. Mas ele também ‘passeia’ pela modernidade e adora ler os trabalhos de Arnaldo Antunes, Antônio Cicero e Eucanaã Ferraz. “E a música é outra fonte de inspiração e influência. Assim, inspiro-me em Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto e Péricles Cavalcanti”, detalhou.
E duas novas produções literárias já começaram a ser ‘desenhadas’ por Adriano Nunes. Elas ainda não têm nome, entretanto, seus formatos já estão definidos na cabeça do poeta. “Um será somente de sonetos. O outro, de poema visuais e concretos. Quero poder fazer literatura até meu último dia de vida”, idealizou.
Link da reportagem: http://gazetaweb.globo.com/noticia.php?c=330674&e=6
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