"A pequena cidade" - Para José Mariano Filho
Outra noite... Apenas
Pirilampos e postes põem-se à vida.
As laringes de grafite
O meu tédio abriga,
Esqueletos de ócios, as faíscas
Da memória. Há
Uma singela alegria lá fora,
Talvez as estrelas
Ou breu ou o brilho
De algum olho, outro
Brilho... Mas não sei,
Não sei, não sei não.
Pouquíssimo importa.
É noite. É noite.
Nota-se o corre-corre a se esvair,
Disperso no ar,
Nada do rastro dos monstros ainda.
A pequena cidade se despede
Da algaravia constante que a tudo
Mais consome. O meu coração adentra
A estranha entranha dos silêncios de silício:
É preciso dar-me
A tanto. Rapaz, por onde? Por onde?
Por que afagas o pranto das vitrines
Despidas dos flertes,
Do comércio ululante, da existência
De cores, transeuntes e transtornos?
Ai, meu coração agora me esmaga!
É noite, e a treva se atrela ao cinema
Do inesperado, ao grã clichê das chances,
Ao farol do que me penso e corrói-me,
Fragmenta-me, finge
Ser possível cantar-te, desenhar-te.
Ó noite, violenta noite sobre a cidade!
Ó vilarejo de medos e corvos!
Não vês, ó rapaz,
Tantas peripécias
Feitas, as armadilhas, as quimeras,
Os assaltos de sombras, sacrifícios,
Pra dar-te, dessa pequena cidade,
O luar, o além?
Não vês? Já é noite!
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