"o infinito ou nem isso"
alguns nascem para os esforços físicos
outros para estímulos do intelecto
alguns almejam os mais altos títulos
outros travam conflitos somente íntimos
uns vivem de razão
outros só de ilusão
muitos vivem à-toa
aqueles vivem só
uns têm sorte pra tudo
outros lançam-se ao mundo
alguém tem que sonhar
alguém tem que sofrer
alguém tem que se dar
alguém agora acaba de morrer
e os dias seguem suaves, pra todos
e os dias seguem árduos, para todos
e os dias nos tornam uns, alguns, outros,
alguém, muitos, aquele...
uns nascem para os esboços do corpo
outros surgem pra os apegos do gosto
uns atiram as pedras
outros flertam as flores
uns escondem tesouros
outros pulam o muro
um tem trauma cervical num mergulho
outro tem todo o tempo para tudo
alguns só somam, somem, se consomem
outros ainda precisam de um nome
alguém acende a luz
alguém entrega o ingresso
alguém está por perto
alguém agora aguarda mil porquês
eu? eu vingo de susto
vez ou outra me faço
na folha em branco, canto
o infinito ou nem isso -
apenas solto um grito...
em meu silêncio de silício, busco
palavras, peles de palavras, restos
de palavras, os sonhos das palavras...
os fósseis de palavras
e mais nada, nem vida
nem morte, nem sorteio
nem forca, nem revólver:
não me interessa nada
a não ser a palavra
mágica que me salve
do espetáculo inútil
de ser só quem me sinto.
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