sexta-feira, 21 de junho de 2013

Adriano Nunes: "Aos deuses do olvido"

"Aos deuses do olvido"


Deixar o ar 
Da despedida
Penetrar pelas frestas do que se forma
Com o fôlego das dúvidas remotas,
Forçá-lo a ir pela saída mais íntima
Do flerte, do gesto, do riso, pô-lo à prova
Dos desejos que a alma contornam,
Expirá-lo num êxtase incontido,
Vê-lo vento a virar furacão,
Balançar o cabelo da palavra
Que, por mais que se procure,
Não se acha esculpida
Na vontade de encontrá-la, nave e nuvem,
Acenar para quem passa,
Atravessar a ponte que já vai longe, fora
Do alcance dos arames farpados da memória,
Saber o seco de ser e ser,

E em um fragmento fundar o que suspenso
Pode estar: o instante in-
Terminável sobre os termos táteis, totais,
Do contrato estabelecido
Entre o Ego e Eros,
Engendrar a volta por cima das cinzas, fênix
Dos acasos práticos do medo.
Escrever um verso e dá-lo,
Sem o fórceps do tempo,
Sem o velcro dos espaços corrosivos,
Sem as vestes dos discursos nítidos,
Sem a voz que aparente cantá-lo pretende,
Ante o destino convulso de tudo...
Ser feliz, mesmo na estranhíssima entrelinha
Do agora. Abrir portas.

2 comentários:

Joana Lavôr disse...

Altamente sublime. Verdadeira contribuição sensível. Muito belo, Adriano.

Um grande abraço,
Joana Lavôr

ADRIANO NUNES disse...

Cara Joana,

muito obrigado!


Abraço forte!
Adriano Nunes