domingo, 30 de junho de 2013

José Gorostiza: "Pausas II"

"Pausas II" (Tradução de Adriano Nunes)


Não canta o grilo. Ritma
a música
de uma estrela.

Mede
as pausas luminosas
com seu relógio de areia.

Traça
Suas órbitas d'ouro
na desolação etérea.

A boa gente pensa
-entretanto-
que canta uma caixinha
de música na erva.



José Gorostiza: "Pausas II"



No canta el grillo. Ritma
la música
de una estrella.

Mide
las pausas luminosas
con su reloj de arena.

Traza
sus órbitas de oro
en la desolación etérea.

La buena gente piensa
-sin embargo-
que canta una cajita
de música en la hierba.

(1925)



In: GOROSTIZA, José. "Poesía y Poética". Madri: ALLCA XX, 1996, p. 25.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

William Butler Yeats: "The Spur"

"O estímulo" (tradução de Adriano Nunes)


Crês que é horrível que a fúria e a fanfarrice
Devam atentar pra minha velhice;
Quando jovem, pragas não eram não;
Que mais ter pra incitar-me na canção?



William Butler Yeats: "The Spur"



You think it horrible that lust and rage
Should dance attention upon my old age;
They were not such a plague when I was young;
What else have I to spur me into song? 





YEATS, William Butler. The love poems. London: Kyle Cathie Limited, 2010, p. 111.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Adriano Nunes: "Do amor que me faz saber poeta"

"Do amor que me faz saber poeta"


Louvei demais os poetas gregos
E os latinos, eram os meus deuses
Nas tardes de memória, sementes,
Somas e sonhos correspondentes.

Dei-me aos mitos, enigmas, mistérios,
Fui Cloto, Cila, Leda, Medeia,
Raptei-me em Helena, transformei-me,
Por temor a Medusa, em silêncios.

Labirintos de sóis para Dédalo
Fiz, pra totalidade do tempo
Nas ruínas de Troia, chorei.

Com Baco, dei-me à hora que é esta,
Co' Erato, aprendi toda a grã métrica
Do amor que me faz saber poeta.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Juan Ramón Jiménez: "Cuadro"

"Quadro" (Tradução de Adriano Nunes)


Do jardim um rincão de radiante verdura
onde o Sol não desliza seus áureos fulgores;
um rosal entreaberto, de suaves olores,
e uma brisa repleta de luz e frescura...

Encantado dossel de vivente escultura,
um jasmim matizado de nítidas flores,
onde entonam a doce canção, os cantores
rouxinóis, venturosos, com voz terna e pura...

Pedestal, um montão de violetas e rosas,
combinando fragrâncias e tintas formosas
em grinalda de olor e cores sorridentes...

E no centro, Eva virgem, desnuda, incitante,
com o mórbido seio de amor palpitante,
com a alma inflamada em anseios ardentes...



Juan Ramón Jiménez: "Cuadro"



Cuadro



Para Enrique Gómez Carrillo



Del jardín un rincón de radiante verdura
donde el Sol no desliza sus áureos fulgores;
un rosal entreabierto, de suaves olores,
y una brisa cargada de luz y frescura...

Encantado dosel de viviente escultura,
un jazmín matizado de nítidas flores,
donde entonan su dulce canción, ruiseñores
amorosos, felices, com voz tierna y pura...

Pedestal, un montón de violetas y rosas,
combinando fragancias y tintas hermosas
en guirnaldas de olor y colores rïentes...

Y en el centro, Eva virgen, desnuda, incitante,
con el mórbido seno de amor palpitante,
con el alma inflamada en Ensueños ardientes...




JIMÉNEZ, Juan Ramón. Ninfeas. Antología Poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madrid: Alianza Editorial, 2006, p. 47.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Juan Ramón Jiménez: "[Poesia; rocío]"

"[Poesia; rocio]" (Tradução de Adriano Nunes)


Poesia; rocio
de cada aurora, filho
de cada noite; fresca, pura
verdade das estrelas últimas,
sobre a verdade terna
das primitivas flores!

Rocio, poesia;
caída matinal do cosmo ao mundo!



Juan Ramón Jiménez: "[Poesia; rocío]"



¡Poesía; rocío
de cada aurora, hijo
de cada noche; fresca, pura
verdad de las estrellas últimas,
sobre la verdad tierna
de las primeras flores!

¡Rocío, poesía;
caída matinal del cielo al mundo!



JIMÉNEZ, Juan Ramón. Unidad. Antología Poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madrid: Alianza Editorial, 2006, p. 251.

sábado, 22 de junho de 2013

Juan Ramón Jiménez: "La memoria"

"A memória" (Tradução de Adriano Nunes)


Que tristeza este passar
o caudal de cada dia
(voltas por cima e por baixo!),
pelo corredor da noite 
(voltas por baixo e por cima!),
ao outro sol!

Quem soubesse
deixar o manto, contente,
dentro das mãos do passado;
não olhar mais pra o que foi;
entrar de frente e com gosto,
todo desnudo, na livre
alegria do presente!



Juan Ramón Jiménez: "La memoria"



La memoria

!Qué tristeza este pasar
el caudal de cada día
(!vueltas arriba y abajo!),
por el puente de la noche
(!vueltas abajo y arriba!),
al otro sol!

!Quién supiera
dejar el manto, contento,
en las manos del pasado;
no mirar más lo que fue;
entrar de frente y gustoso,
todo desnudo, en la libre
alegría del presente!



JIMÉNEZ, Juan Ramón. Unidad. Antología Poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madrid: Alianza Editorial, 2006, p. 266-267.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Adriano Nunes: "Aos deuses do olvido"

"Aos deuses do olvido"


Deixar o ar 
Da despedida
Penetrar pelas frestas do que se forma
Com o fôlego das dúvidas remotas,
Forçá-lo a ir pela saída mais íntima
Do flerte, do gesto, do riso, pô-lo à prova
Dos desejos que a alma contornam,
Expirá-lo num êxtase incontido,
Vê-lo vento a virar furacão,
Balançar o cabelo da palavra
Que, por mais que se procure,
Não se acha esculpida
Na vontade de encontrá-la, nave e nuvem,
Acenar para quem passa,
Atravessar a ponte que já vai longe, fora
Do alcance dos arames farpados da memória,
Saber o seco de ser e ser,

E em um fragmento fundar o que suspenso
Pode estar: o instante in-
Terminável sobre os termos táteis, totais,
Do contrato estabelecido
Entre o Ego e Eros,
Engendrar a volta por cima das cinzas, fênix
Dos acasos práticos do medo.
Escrever um verso e dá-lo,
Sem o fórceps do tempo,
Sem o velcro dos espaços corrosivos,
Sem as vestes dos discursos nítidos,
Sem a voz que aparente cantá-lo pretende,
Ante o destino convulso de tudo...
Ser feliz, mesmo na estranhíssima entrelinha
Do agora. Abrir portas.

Adriano Nunes: "À vez do que se fez" - Para Adriana Calcanhotto

"À vez do que se fez" - Para Adriana Calcanhotto


Já que poderá ser
Mais tarde, não será
Tão tarde, para o amor
Que em tantas graças arde?

Ó, tantálico amor,
Que carne e alma invade,
Não será gafe, dar-se
À vontade de opor-se

À vez do que se fez
Todo o amor que bem há?
Ó, titânico amor,

Grã parte não fará
Do instante da verdade
O que supor se sabe?

Rubén Darío: "Nocturno"

"Noturno" (Tradução de Adriano Nunes)


Silêncio dessa noite, doloroso silêncio
noturno... Por que a alma treme de tal maneira?
Ouço o zumbido de meu sangue,
dentro do meu crânio passa suave uma tormenta.
Insônia! Não poder adormecer, e, no entanto,
sonhar. Ser a auto-peça
de dissecção espiritual, o auto-Hamlet!
Diluir a tristeza
em um vinho de noite
no maravilhoso cálice da escuridão...
E reflito: a que hora virá a aurora?
Fechara-se uma porta...
Passara um transeunte...
Dera o relógio treze horas.... Se será Ela!



Rubén Darío: "Nocturno"



Nocturno



Silencio de la noche, doloroso silencio
nocturno... ¿Por qué el alma tiembla de tal manera?
Oigo el zumbido de mi sangre,
dentro de mi cráneo pasa una suave tormenta.
¡Insomnio! No poder dormir, y, sin embargo,
soñar. Ser la auto-pieza
de disección espiritual, ¡el auto-Hamlet!
Diluir mi tristeza
en un vino de noche
en el maravilloso cristal de las tinieblas...
Y me digo: ¿a qué hora vendrá el alba?
Se ha cerrado una puerta...
Ha pasado un transeúnte...
Ha dado el reloj trece horas... ¡Si será Ella!...


In: DARÍO, Rubén."Antología". Madri: Espasa Calpe, 2005, p. 208. Edición Carmen Ruiz Barrrionuevo. Con "El caracol y la sirena" de Octavio Paz.

domingo, 16 de junho de 2013

Idea Vilariño: "Todo es muy simple"

"Tudo é tão simples" (Tradução de Adriano Nunes)

Tudo é tão simples

Tudo é tão simples muito
mais simples e no entanto
'inda assim há momentos
em que é demasiado para mim
em que não entendo
e não sei se sorrir com gargalhadas
ou se chorar de medo
ou estar aqui sem pranto
sem risos
em silêncio
assumindo minha vida
meu trânsito
meu tempo.



Idea Vilariño: "Todo es muy simple"



Todo es muy simple



Todo es muy simple mucho
más simple y sin embargo
aun así hay momentos
en que es demasiado para mí
en que no entiendo
y no sé si reírme a carcajadas
o si llorar de miedo
o estarme aqui sin llanto
sin risas
en silencio
asumiendo mi vida
mi tránsito
mi tiempo.




VILARIÑO, Idea. Poesía Completa. Montevideo: Cal y Canto, 2012, p. 118.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Adriano Nunes: "A poesia"

Adriano Nunes: "A poesia"

a poesia 
se-para a 
poesia super - a - 
poesia sol-
ve a poesia le-
ve a poesia so-
pesa a poesia
serve a si
em seu silêncio
de silício in-
contido: sangue e

sombra e
signo.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Samuel Taylor Coleridge "The Presence of Love"

"A Presença do Amor" (Tradução de Adriano Nunes)


A Presença do Amor

E na mais ruidosa hora do existir,
Lá sussurra ainda o infindo Amor de Ti,
O solilóquio e o consolo do coração.

Moldas minhas Esp'ranças, moldas-me adentro;
E à pulsação do Amor mor ao Peito atado
Através do meu Ser, dos meus batimentos;
Pairas em todo meu pensar, tal clarão,
Tal alva Alvorada, ou Vésp'ra de verão
No ondulado Riacho, ou nuvem vista em Lago.

E vendo o Céu, que se curva sobre ti,
Vez Quanta! O Além louvo, que te amar me fez.



Samuel Taylor Coleridge "The Presence of Love"



And in Life's noisiest hour,
There whispers still the ceaseless Love of Thee,
The heart's Self-solace and soliloquy.

You mould my Hopes, you fashion me within;
And to the leading Love-throb in the Heart
Thro' all my Being, thro' my pulses beat;
You lie in all my many Thoughts, like Light,
Like the fair light of Dawn, or summer Eve
On rippling Stream, or cloud-reflecting Lake.

And looking to the Heaven, that bends above you,
How oft! I bless the Lot, that made me love you.




COLERIDGE, Samuel Taylor. The Complete Poems. London: Penguin Classics, 1997.

domingo, 9 de junho de 2013

Samuel Taylor Coleridge: "Desire"

"Desejo" (Tradução de Adriano Nunes)


Quando o amor real arde o Desejo é do amor chama pura;
é o espelho de nossa terrena arquitetura,
que tira da magna parte, sua equação,
e assim traduz a linguagem do coração.



Samuel Taylor Coleridge: "Desire"



Desire


Where true Love burns Desire is Love's pure flame;
It is the reflex of our earthly frame,
That takes its meaning from the nobler part,
And but translates the language of the heart. 




COLERIDGE, Samuel Taylor. The Complete Poems. London: Penguin Classics, 1997.

sábado, 8 de junho de 2013

Adriano Nunes: "Narciso"

"Narciso" 


Todo poeta se acha
Poeta se faz poeta
Se diz poeta se quer
Poeta se vê poeta

Se realiza poeta
Se concretiza poeta
Se reconhece poeta
Se considera poeta

Se congratula poeta
Se reinventa poeta
Todo poeta se sabe
Poeta se impõe poeta

Se intui poeta se molda
Poeta se lê poeta
Se concebe se consome
Se confirma se constrói

Se assume se consolida
Se imagina se arquiteta
Se elabora se desdobra
Se rotula se projeta

Sempre poeta. O Poeta,
Do hálux esquerdo à ponta
Do nariz, feliz, um dia,
À tez líquida do ser,

De todo infinito íntimo
Em que só se afundaria,
Em seu frágil faz-de-conta,
O poeta em si encontra.

Adriano Nunes: "Proximidade"

"Proximidade"


Eu, só feixes de sintaxes e céu fechado.
Eu, disperso no quarto, sem o pó do sonho,
Atado à solidão que impera e põe-me à prova,
Devastado por tempos que nunca mais voltam.
Saudade inatingível de ser fome e efígie.

Por que entregar-me ao fluxo bruto do pensar
Ante a falta de esp'ranças? E por que injetaram
Tanto tédio em minh'alma e feriram sem dó
Meu coração? Não basta o furor de saber-me
Solitário, cansado, imerso em signo e ácaros?

Eu, só remorso e lágrimas, nesta manhã,
À procura do quanto de mim, em um êxtase
De existir, a insistir nos óxidos do oxímoro
Próximo, todo o amor, o que me afirma vate
E, à socapa, valer faz o infinito do agora.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Juan Ramón Jiménez: "El viaje definitivo"

"A viagem definitiva" (Tradução de Adriano Nunes)


... E eu irei. E ficarão os pássaros
cantando;
e ficará meu horto, com sua verde árvore,
e com seu poço branco.

Todas as tardes, o cosmo será azul e plácido;
e tocarão, como esta tarde estão tocando,
as campanas do campanário.

Aqueles que me amaram morrerão;
e o povo se fará novo cada ano;
e no recanto aquele de meu horto florido e caiado,
meu espírito errará, nostálgico...

E eu irei; e estarei só, sem lugar, sem árvore
verde, sem poço branco,
sem cosmo azul e plácido...
E fincar-se-ão os pássaros cantando.



Juan Ramón Jiménez: "El viaje definitivo"



El viaje definitivo



…Y yo me iré. Y se quedarán los pájaros
cantando;
y se quedará mi huerto, con su verde árbol,
y con su pozo blanco.

Todas la tardes, el cielo será azul y plácido;
y tocarán, como esta tarde están tocando,
las campanas del campanario.

Se morirán aquellos que me amaron;
y el pueblo se hará nuevo cada año;
y en el rincón aquel de mi huerto florido y encalado.
mi espíritu errará, nostálgico…

Y yo me iré; y estaré solo, sin hogar, sin árbol
verde, sin pozo blanco,
sin cielo azul y plácido…
Y se quedarán los pájaros cantando.



Poemas agrestes (1910-1911)




JIMÉNEZ, Juan Ramón. Poemas agrestes. Antología poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madri: Alianza Editorial, 2006, p. 105.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Adriano Nunes: "O verso'

"O verso"


Como eu queria
ter qualquer alegria,
Embriagar-me do âmago
Dos risos,
Das rotas de um pensar vivo, dos reinos 
Do inatingível,
Dos restos
Irrestritos
De algum risco,
Do sonhar-me infinito,
Ante um verso conhecido, e

Verter-me em um dito,
Numa declaração de múltiplos sentidos,
Numa canção,
Para devolver ao meu coração
O salto inusitado
Para a realidade incontida,
O flerte fixo,
O feitiço do íntimo, o álcool fortíssimo
Dos impulsos do lirismo,
Ter qualquer alegria,
Ai, como eu queria!

Adriano Nunes: "Medida"

"Medida"


Ante o escombro do desejo,
O desconforto, o que feito 
Fora de um tempo imperfeito,
Do que não mais ouço ou vejo.

A dor: Dever e direito...
Sem medida, para o ensejo
Da vida que tanto almejo
E que em mim afago e aceito.

Tudo em que me reconheço
Salta ao sonho de rever-
Ter quem sou, claro começo...

E dado ao assombro do ver-
So imerso no agora, teço
O que sobra pra viver.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Alfonso Reyes: "Arte"

"Arte" (Tradução de Adriano Nunes)


Perfeita rosa que adoro
e em suas pét'las de vento
carrega os aromas mudos,
os vórtices soma quietos.

Cifra e cápsula de mundos
que em mil anos de segredo
juntado houvera os arroubos
de luas e de mistérios.

Úmida como criada,
fugitiva como sonho,
como iluminações rápida,
medrosa como o olhar perto:

Se a desvanecer-te vais
em todo aperto do peito
bebe antes em meu sangue
o sal todo que te devo.

Leva-te meu ser ao fundo
de teus abismos de céu:
não me deixes neste mundo
cativo de meus desejos.

Signo sou de tua conta,
Dança de teu movimento,
e ao instante que teu reboque,
âmbito sou de teu voo.

Quando aspiras, quando sobes,
pássaro de sentimento,
para encher tuas auroras
a luz não possui sustento.

Uma legenda de sábios
que muito faz estou lendo
te esconde como mentira,
te despreza como conto.

Mas eu que tuas leis sigo
e em teus ares me governo,
sei que nos usos da alma
és o emprego mais perfeito:

Que és, assim como a música,
doce plenário do tempo,
e mestra em acomodar
a voz com o pensamento.

Que vives de não viver
em outro viver mais certo:
sede insaciável d'água
que não bebe seu elemento.

Perfeita rosa que adoro:
pra implorar-te não encontro
senão medir as palavras
com as batidas do peito.



Alfonso Reyes: "Arte"



Arte 



Perfecta rosa que adoro
y en sus pétalos de viento
lleva las aromas mudas,
suma los vórtices quietos.

Cifra y cápsula de mundos
que en mil años de secreto
ha juntado los arrobos
de lunas y misterios.

Húmeda como creada,
fugitiva como sueño,
como las vislumbres rauda,
miedosa como el acecho:

Si a desvanecerte vas
en los ahogos del pecho,
bebe antes en mi sangre
toda la sal que te debo.

Llévate mi ser al fondo
de tus abismos de cielo:
no me dejes en el mundo
cautivo de mis deseos.

Número soy de tu cuenta,
danza de tu movimiento,
y a la vez que tu remolque,
ámbito soy de tu vuelo.

Cuando aspiras, cuando subes,
alondra de sentimiento,
para saciar tus auroras
la luz no tiene sustento.

Una leyenda de sabios
que hace mucho estoy leyendo
te esconde como mentira,
te desaira como cuento.

Mas yo que tus leyes sigo
e en tus aires me gobierno,
sé que en los usos del alma
eres el uso perfecto:

Que eres, como la música,
dulce plenitud del tiempo,
y maestra en ajustar
la voz con el pensamiento.

Que vives de no vivir
en otro vivir más cierto:
insaciable sed del agua
que no bebe su elemento.

Perfecta rosa que adoro:
para implorarte no encuentro
sino medir las palabras
con los latidos del pecho.

(México, 1940)




REYES, Alfonso. Antología Cátedra de Poesía de las Letras Hispánicas. Selección e introducción de José Francisco Ruiz Casanova. Madrid: Ediciones Cátedra, 2005, pp. 627-8.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Adriano Nunes: "A preparar o grã resgate"

"A preparar o grã resgate" 


O mar ante a angústia noturna,
O lapso convulso de entrega 
Líquida, sobre o véu sináptico
De haver além, outras saídas.

Talvez o farol dos sentidos
Fareje um porto pra os acúmulos
De desencontros presos ao peito,
Um barco qualquer, um disfarce

Na amplidão das ondas, do olhar.
O cais do silêncio aparente
Da vida a cantar o infinito

Dos sonhos: O naufrágio súbito
Do amor... E a palavra corrente
A preparar o grã resgate.

Jacinto Polo de Medina: "Nacimiento de Venus"

"Nascimento de Vênus" (Tradução de Adriano Nunes)


Nascimento de Vênus



Da nevada de espuma,
da vida que inspirou o cosmo em grão,
sobre o regaço de cristal formosa
contra o comum nascer, Vênus, nasceste.
Desse nascer o estilo preferiste
porque não se presuma
que possui de vulgar alguma coisa
a que custa um milagre a formosura,
a que deve às alturas a ventura,
a beleza, a quem deve
enfeites de coral, rosa de neve.



Jacinto Polo de Medina: "Nacimiento de Venus"



Nacimiento de Venus

De la nieve de espuma,
de la vida que el cielo inspiró en grana,
sobre el regazo de cristal hermosa,
contra el común nacer, Venus, naciste.
Del nacer el estilo preferiste
porque no se presuma
que tiene de vulgar alguna cosa
la que cuesta un milagro su hermosura,
la que debe a los cielos su ventura,
la belleza, a quien debe
afeites de coral, rosa de nieve. 




MEDINA, Jacinto Polo de. Antología Cátedra de Poesía de las Letras Hispánicas. Selección e introducción de José Francisco Ruiz Casanova. Madrid: Ediciones Cátedra, 2005, p. 388.

*Jacinto Polo de Medina (1603-1676)

sábado, 1 de junho de 2013

Adriano Nunes: "Arte"

"Arte" 


A quase verticalidade
Da chuva, o disfarce rapace
Dessa madrugada a impregnar
A vista, enquanto as vidas ardem.

Decerto, não seria um canto,
Ululante elegia aquática,
Ou, talvez, grácil chamuscar
Dos acasos, evento prático?

E, sobre silêncios, a casca
Líquida, à tez de um farto instante,
A fincar-se em quimeras quânticas...

Toda a natura: Regra ou lágrimas?
Depois, o manto horizontal,
Rio a escorrer rente às calçadas.