"L'anatomie de l'amour"
Je voudrais mieux te connaître,
Ó mon coeur!
Non seulement
Veines
Artères
Rythmes
Cavités
Sang
Battements.
Mais la ruse
Et les rêves!
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
Adriano Nunes: "Nota técnica sobre um sentimento"
"Nota técnica sobre um sentimento"
Sem defeito visível, sem defeito
Palpável, sem defeito imaginável,
Sem defeito de fábrica, inegável,
Sem nítido defeito, assim foi feito
O enigmático amor em vosso peito,
Tendo ali grácil lar, e inconfessável
Mostrou-se a vós se dar, indecifrável,
Imerso em grãs quimeras, satisfeito,
Sem registro de um erro, sem defeito
De verdade, sem falha irreparável,
Sem distorções ou máculas, perfeito,
Sem ser etiquetado, insofismável,
As peças ante as peças, magno efeito,
Sem defeito de mágica, insondável.
Sem defeito visível, sem defeito
Palpável, sem defeito imaginável,
Sem defeito de fábrica, inegável,
Sem nítido defeito, assim foi feito
O enigmático amor em vosso peito,
Tendo ali grácil lar, e inconfessável
Mostrou-se a vós se dar, indecifrável,
Imerso em grãs quimeras, satisfeito,
Sem registro de um erro, sem defeito
De verdade, sem falha irreparável,
Sem distorções ou máculas, perfeito,
Sem ser etiquetado, insofismável,
As peças ante as peças, magno efeito,
Sem defeito de mágica, insondável.
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Christopher Marlowe: "Who Ever Loved That Loved Not at First Sight?"
Christopher Marlowe: "Who Ever Loved That Loved Not at First Sight?"
It lies not in our power to love or hate,
For will in us is overruled by fate.
When two are stripped, long ere the course begin,
We wish that one should love, the other win;
And one especially do we affect
Of two gold ingots, like in each respect:
The reason no man knows; let it suffice
What we behold is censured by our eyes.
Where both deliberate, the love is slight:
Who ever loved, that loved not at first sight?
"Quem que sempre amou não amou à primeira vista?" (Tradução de Adriano Nunes)
Em nosso poder não está amar ou odiar,
Pois o fado invalida o nosso desejar.
Quando dois se despem, um longo curso começa,
Almejamos que um amar deva, o outro vença.
E sentimos especial feição por um
Dos dois lingotes d'ouro, como a cada um:
Por razão que ninguém sabe, suficiente
O que a nossos olhos censurado se encontre.
Quando se deliberam, o amor de pesos dista:
Quem que sempre amou não amou à primeira vista?
In: MARLOWE, Christopher. "The collected poems of Christopher Marlowe". Oxford University Press, 2006.
It lies not in our power to love or hate,
For will in us is overruled by fate.
When two are stripped, long ere the course begin,
We wish that one should love, the other win;
And one especially do we affect
Of two gold ingots, like in each respect:
The reason no man knows; let it suffice
What we behold is censured by our eyes.
Where both deliberate, the love is slight:
Who ever loved, that loved not at first sight?
"Quem que sempre amou não amou à primeira vista?" (Tradução de Adriano Nunes)
Em nosso poder não está amar ou odiar,
Pois o fado invalida o nosso desejar.
Quando dois se despem, um longo curso começa,
Almejamos que um amar deva, o outro vença.
E sentimos especial feição por um
Dos dois lingotes d'ouro, como a cada um:
Por razão que ninguém sabe, suficiente
O que a nossos olhos censurado se encontre.
Quando se deliberam, o amor de pesos dista:
Quem que sempre amou não amou à primeira vista?
In: MARLOWE, Christopher. "The collected poems of Christopher Marlowe". Oxford University Press, 2006.
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domingo, 24 de fevereiro de 2013
Adriano Nunes: "Que ser do que me fizeste?"
"Que ser do que me fizeste?"
Grande amigo, companheiro,
Há tempos versos escreves
Para a lida vingar leve,
O impossível, corriqueiro.
Em seu grácil cerne ferve
Um alegre cancioneiro
De amor ao amor primeiro,
Aquele às Musas, às Verves.
Ante ao sintático espelho,
Contemplo-te em mim, co' a veste
Da tua língua inconteste.
Ó magno vate, parelho!,
Dá-me apenas um conselho:
Que ser do que me fizeste?
Grande amigo, companheiro,
Há tempos versos escreves
Para a lida vingar leve,
O impossível, corriqueiro.
Em seu grácil cerne ferve
Um alegre cancioneiro
De amor ao amor primeiro,
Aquele às Musas, às Verves.
Ante ao sintático espelho,
Contemplo-te em mim, co' a veste
Da tua língua inconteste.
Ó magno vate, parelho!,
Dá-me apenas um conselho:
Que ser do que me fizeste?
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sábado, 23 de fevereiro de 2013
Adriano Nunes: "Mysterium Cosmographicum" - Para Johannes Kepler
"Mysterium Cosmographicum" - Para Johannes Kepler
A noite contemplando...
Estrelas a brilhar,
O infinito e os planetas,
O que eu nem sei se há,
Como me olham de lá!
Hipóteses e cálculos,
O Sol quase a ganhar
Altura, o grã mistério
Tomando o meu pensar,
Ante abrupta mudança.
E saltam das sinapses
Elipses e constantes,
Tempos, raios e regras,
Giram astros e ideias,
Dançam signos no ar.
A noite observando...
Silêncios e satélites,
Todo o acaso celeste,
O que nunca se sabe,
Como me olham de lá!
A noite contemplando...
Estrelas a brilhar,
O infinito e os planetas,
O que eu nem sei se há,
Como me olham de lá!
Hipóteses e cálculos,
O Sol quase a ganhar
Altura, o grã mistério
Tomando o meu pensar,
Ante abrupta mudança.
E saltam das sinapses
Elipses e constantes,
Tempos, raios e regras,
Giram astros e ideias,
Dançam signos no ar.
A noite observando...
Silêncios e satélites,
Todo o acaso celeste,
O que nunca se sabe,
Como me olham de lá!
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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
José Zorrilla y Moral: "¡Ay del triste!"
José Zorrilla y Moral: "¡Ay del triste!"
"¡Ay del triste!"
¡Ay del triste que consume
su existencia en esperar!
¡Ay del triste que presume
que el duelo con que él se abrume
al ausente ha de pesar!
La esperanza es de los cielos
precioso y funesto don,
pues los amantes desvelos
cambian la esperanza en celos
que abrasan el corazón.
Si es cierto lo que se espera,
es un consuelo en verdad;
pero siendo una quimera,
en tan frágil realidad
quien espera desespera.
"Ai do triste!" (Tradução de Adriano Nunes)
Ai do triste que consome
sua existência em esp'rar!
Ai do triste que presume
que a dor com qu'ele se oprime
ao ausente há de pesar!
A esp'rança é dos altos elos
mérito funesto e grão,
pois os amantes desvelos
mudam a esperança em zelos
que abrasam o coração.
Se é correto o que se espera,
é um consolo na verdade;
porém sendo uma quimera,
em tão frágil realidade
quem espera desespera.
In: ZORRILLA, José. "Obras Completas". Librería Santarén, 1943.
"¡Ay del triste!"
¡Ay del triste que consume
su existencia en esperar!
¡Ay del triste que presume
que el duelo con que él se abrume
al ausente ha de pesar!
La esperanza es de los cielos
precioso y funesto don,
pues los amantes desvelos
cambian la esperanza en celos
que abrasan el corazón.
Si es cierto lo que se espera,
es un consuelo en verdad;
pero siendo una quimera,
en tan frágil realidad
quien espera desespera.
"Ai do triste!" (Tradução de Adriano Nunes)
Ai do triste que consome
sua existência em esp'rar!
Ai do triste que presume
que a dor com qu'ele se oprime
ao ausente há de pesar!
A esp'rança é dos altos elos
mérito funesto e grão,
pois os amantes desvelos
mudam a esperança em zelos
que abrasam o coração.
Se é correto o que se espera,
é um consolo na verdade;
porém sendo uma quimera,
em tão frágil realidade
quem espera desespera.
In: ZORRILLA, José. "Obras Completas". Librería Santarén, 1943.
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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Adriano Nunes: "Este poema não era para esta noite"
"Este poema não era para esta noite"
Este poema não era para esta noite.
Entretanto, por causa de insólito instante
De incerteza em que me vi sozinho, sozinho,
A friamente desafiar o meu íntimo,
Desvencilhando-me de memórias e amores,
Desvendando que não desvendo mesmo nada,
Que quem me penso e sinto é sim uma furada,
Resolvi dá-lo a mim, agora, nesta noite
Quando parar parecem as reativas horas,
Quando o peito aperta e a existência, à espreita, pesa.
Um poema qualquer, sem qualquer pretensão.
Um poema a correr o risco de até não
Ser. Mas por que será que o seu campo magnético
Assalta-me, cerca-me, sonda-me e disseca-me?
Que pretende co' a sua desmedida métrica,
Com estas palavras repetidas e gastas?
Que conchavo arquiteta com a folha em branco,
À socapa, enquanto incapaz sou d'uma anáfora?
Este poema não era para esta noite:
É que me encontro triste demais e não quero
Impregnar nenhum verso meu com um eu lírico
Decadente e mesquinho, ritmado e romântico.
Um poema é sempre uma alegria, um playground,
Um circo, um bilhete quente de loteria,
A descoberta da fonte da juventude.
É, este poema não era pr' esta noite,
Todavia, não irei guardá-lo, rasgá-lo
Nem dedicá-lo a ninguém. E não vou moldá-lo
À primeira sinapse voraz. Que voz tem
À tez do discernimento? Estou pronto. Aceito-o.
Viva! Mas... Quando haverá de ser sua vez?
Que dor! Que dor! Este poema é um diabinho.
Bem qu' eu poderia queimá-lo e não ouvir
Os seus gemidos ou sua satisfação
Para com isso. Este poema não é
Que me trouxe uma inviolável felicidade!
Este poema não era para esta noite.
Entretanto, por causa de insólito instante
De incerteza em que me vi sozinho, sozinho,
A friamente desafiar o meu íntimo,
Desvencilhando-me de memórias e amores,
Desvendando que não desvendo mesmo nada,
Que quem me penso e sinto é sim uma furada,
Resolvi dá-lo a mim, agora, nesta noite
Quando parar parecem as reativas horas,
Quando o peito aperta e a existência, à espreita, pesa.
Um poema qualquer, sem qualquer pretensão.
Um poema a correr o risco de até não
Ser. Mas por que será que o seu campo magnético
Assalta-me, cerca-me, sonda-me e disseca-me?
Que pretende co' a sua desmedida métrica,
Com estas palavras repetidas e gastas?
Que conchavo arquiteta com a folha em branco,
À socapa, enquanto incapaz sou d'uma anáfora?
Este poema não era para esta noite:
É que me encontro triste demais e não quero
Impregnar nenhum verso meu com um eu lírico
Decadente e mesquinho, ritmado e romântico.
Um poema é sempre uma alegria, um playground,
Um circo, um bilhete quente de loteria,
A descoberta da fonte da juventude.
É, este poema não era pr' esta noite,
Todavia, não irei guardá-lo, rasgá-lo
Nem dedicá-lo a ninguém. E não vou moldá-lo
À primeira sinapse voraz. Que voz tem
À tez do discernimento? Estou pronto. Aceito-o.
Viva! Mas... Quando haverá de ser sua vez?
Que dor! Que dor! Este poema é um diabinho.
Bem qu' eu poderia queimá-lo e não ouvir
Os seus gemidos ou sua satisfação
Para com isso. Este poema não é
Que me trouxe uma inviolável felicidade!
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Adriano Nunes: "Depois, a alegria celebro" Para Carmen Silvia Presotto
Adriano Nunes: "Depois, a alegria celebro" Para Carmen Silvia Presotto
Tento fazer a coisa certa. A
Coisa é certa. ( Que coisa é certa?)
Co’ alma atenta, de corpo aberto,
Entrego-me à tinta: Liberto
O verso dos grilhões do cérebro.
Depois, a alegria celebro.
O meu coração quase para: A
Vida é dada à ideia mais rara!
Tento fazer a coisa certa. A
Coisa é certa. ( Que coisa é certa?)
Co’ alma atenta, de corpo aberto,
Entrego-me à tinta: Liberto
O verso dos grilhões do cérebro.
Depois, a alegria celebro.
O meu coração quase para: A
Vida é dada à ideia mais rara!
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Adriano Nunes: "Angústia"
"Angústia"
Kierkegaard,
Numa tarde
Tensa - Foram tantas
Idas ao frágil perímetro
Do que me imagino! -
Disse-me:
O âmago do teu ser
É algo assim sem lei,
Impregnado de angústia,
Daquela busca estúpida
Por louros e prazer,
Eu sei.
Depois, sumiu.
Friíssimo dia, triste.
Dez para as três...
E os dragões dos remorsos retornaram
Aos seus postos,
Ante a lúcida engrenagem
Dos impulsos comuns.
Ai, agora a minha vida desse sumo se vale e
Esvai-se,
Entre quimeras, louros e prazer,
Numa tensa tarde.
Kierkegaard,
Numa tarde
Tensa - Foram tantas
Idas ao frágil perímetro
Do que me imagino! -
Disse-me:
O âmago do teu ser
É algo assim sem lei,
Impregnado de angústia,
Daquela busca estúpida
Por louros e prazer,
Eu sei.
Depois, sumiu.
Friíssimo dia, triste.
Dez para as três...
E os dragões dos remorsos retornaram
Aos seus postos,
Ante a lúcida engrenagem
Dos impulsos comuns.
Ai, agora a minha vida desse sumo se vale e
Esvai-se,
Entre quimeras, louros e prazer,
Numa tensa tarde.
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domingo, 17 de fevereiro de 2013
Adriano Nunes: "Tempo" - Para a minha mãe
"Tempo" - Para a minha mãe
Um cabelo.
Um cabelo entre tantos.
Um cabelo de cor diferente.
Um cabelo revolto, rebelde, que marca
Em mim muito.
Um cabelo
Branco, agora, visto ao espelho.
Um pelo intruso, antes ausente.
Um cabelo anárquico, antípoda, que data
Em mim tudo:
Sustos
Somas
Sumos
Sonhos
Surtos.
Um cabelo.
Um cabelo entre tantos.
Um cabelo de cor diferente.
Um cabelo revolto, rebelde, que marca
Em mim muito.
Um cabelo
Branco, agora, visto ao espelho.
Um pelo intruso, antes ausente.
Um cabelo anárquico, antípoda, que data
Em mim tudo:
Sustos
Somas
Sumos
Sonhos
Surtos.
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Adriano Nunes: Por que Antonio Cicero merece a vaga deixada por meu amigo Lêdo Ivo na Academia Brasileira de Letras?
Por que Antonio Cicero merece a vaga deixada por meu amigo Lêdo Ivo na Academia Brasileira de Letras?
Porque, dos concorrentes atuais, nenhum possui a verve clássica e popular ao mesmo tempo. Cicero há muito vem fazendo um trabalho de divulgação da Poesia em seu belo blog "Acontecimentos", além de sair pelo Brasil e pelo mundo engendrando palestras tanto sobre a arte poética quanto sobre o pensar filosófico. A sua popularidade daria uma nova luz à Academia, uma dimensão alegre, viva. A sua poesia está entre as mais célebres da atualidade, seus textos e ensaios são de uma beleza rara, Cicero é versado e hábil em vários idiomas, tais como francês, inglês, russo, grego, latim, espanhol, alemão, o seu livro "O mundo desde o fim" é um marco na filosofia brasileira, sem dizer que as suas letras de músicas são um fulgor à parte. Ora, quem nunca cantou "O último romântico" e não sabe de cor o refrão? Quem nunca dançou ao som de "fullgás" e tantos outros sucessos emplacados pela sua irmã Marina Lima? Cicero é um gentleman acima de tudo: humilde, dado aos amigos, nem parecendo ser uma celebridade, sempre visto em sebos e livrarias, andando pelas ruas da cidade do Rio, nos eventos poéticos, disposto a divulgar os trabalhos de todos os poetas. E tendo o status que lhe cabe, nunca deixou de comunicar-se com seus leitores através do seu blog ou email. Antonio Cicero reluz. Além do fato de que Lêdo Ivo tinha uma grande admiração por ele, não só me relatando pessoalmente como explicitou isso em meu livro. A cadeira dez pertencia a um excelente poeta. Que volte para outro! Viva Cicero!
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sábado, 16 de fevereiro de 2013
William Shakespeare: "Sonnet XLVI"
William Shakespeare: "Sonnet XLVI"
Mine eye and heart are at a mortal war,
How to divide the conquest of thy sight;
Mine eye my heart thy picture's sight would bar,
My heart mine eye the freedom of that right.
My heart doth plead that thou in him dost lie,
A closet never pierced with crystal eyes,
But the defendant doth that plea deny,
And says in him thy fair appearance lies.
To 'cide this title is impannelled
A quest of thoughts, all tenants to the heart;
And by their verdict is determined
The clear eye's moiety, and the dear heart's part:
As thus: mine eye's due is thine outward part,
And my heart's right, thine inward love of heart.
William Shakespeare: "Soneto XLVI" (Tradução de Adriano Nunes)
Coração e olhos meus, em letal guerra,
Pretendem donos ser de teu retrato;
Longe do peito o olhar teu ser encerra,
Privando-o do seu direito de fato.
Clama o coração nele haver teu 'spectro,
Cofre que o cristal do olhar não traspassa,
Mas o que advoga opõe-se, vê-se certo,
E diz que em si o belo há que és e não passa.
Para a pugna findar é convocada
Junta de ideias cardiodependentes
E, por voto, a fração é separada
Do terno peito, dos olhos luzentes:
Ao olhar cabe teu aspecto exterior,
Ao meu peito, do coração o amor.
In: SHAKESPEARE, William. "The Complete Works of William Shakespeare". London: Wordsworth Editions, 1996.
Mine eye and heart are at a mortal war,
How to divide the conquest of thy sight;
Mine eye my heart thy picture's sight would bar,
My heart mine eye the freedom of that right.
My heart doth plead that thou in him dost lie,
A closet never pierced with crystal eyes,
But the defendant doth that plea deny,
And says in him thy fair appearance lies.
To 'cide this title is impannelled
A quest of thoughts, all tenants to the heart;
And by their verdict is determined
The clear eye's moiety, and the dear heart's part:
As thus: mine eye's due is thine outward part,
And my heart's right, thine inward love of heart.
William Shakespeare: "Soneto XLVI" (Tradução de Adriano Nunes)
Coração e olhos meus, em letal guerra,
Pretendem donos ser de teu retrato;
Longe do peito o olhar teu ser encerra,
Privando-o do seu direito de fato.
Clama o coração nele haver teu 'spectro,
Cofre que o cristal do olhar não traspassa,
Mas o que advoga opõe-se, vê-se certo,
E diz que em si o belo há que és e não passa.
Para a pugna findar é convocada
Junta de ideias cardiodependentes
E, por voto, a fração é separada
Do terno peito, dos olhos luzentes:
Ao olhar cabe teu aspecto exterior,
Ao meu peito, do coração o amor.
In: SHAKESPEARE, William. "The Complete Works of William Shakespeare". London: Wordsworth Editions, 1996.
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TRADUÇÃO
Adriano Nunes: "Risco exato"
"Risco exato"
Foge ao engenho
A palavra
Almejada.
Pista ou rastro,
Quem os acha?
No vernáculo,
Pelas páginas
Pesquisadas,
Vácuo e nada...
E o alheamento
Assim salta
À tez d'alma.
Rima ou alvo
Verso? Sério,
Com que metro
Outro tempo
Abrigar?
Com que regra
Reverter
Os anseios
Dessa espera?
Falta ao empenho
A palavra
Leve, magna.
Brilho, báratros...
Quem os capta?
Em silêncio,
Quantas dádivas
Alcançadas
Pelo lápis!
A sintaxe?
Enfim, ver-
Tê-la em mágica -
Risco exato,
Grã mistério,
Sorte e prática.
Que sinapse
Empregar
Contra os lapsos?
Foge ao engenho
A palavra
Almejada.
Pista ou rastro,
Quem os acha?
No vernáculo,
Pelas páginas
Pesquisadas,
Vácuo e nada...
E o alheamento
Assim salta
À tez d'alma.
Rima ou alvo
Verso? Sério,
Com que metro
Outro tempo
Abrigar?
Com que regra
Reverter
Os anseios
Dessa espera?
Falta ao empenho
A palavra
Leve, magna.
Brilho, báratros...
Quem os capta?
Em silêncio,
Quantas dádivas
Alcançadas
Pelo lápis!
A sintaxe?
Enfim, ver-
Tê-la em mágica -
Risco exato,
Grã mistério,
Sorte e prática.
Que sinapse
Empregar
Contra os lapsos?
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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Adriano Nunes: "Teseu" - Para Alberto Lins Caldas
"Teseu" - Para Alberto Lins Caldas
O Touro é temido.
À Creta preciso
Ir, mesmo indeciso.
Os louros ou o olvido?
"Ouve o sério aviso,
Ó filho querido!",
Clama Egeu, Ferido
Pelo próprio siso.
"De branco vestida
A grã vela iças
Na volta, e as Justiças
Deem-me a tua vida."
"Das cruéis cobiças
Tira a tua lida,
Segue da saída
A luz... Que te atiças?"
Cupido Infalível
À Ariadne o fio
Do amor doentio
Entrega, insensível.
Do vil desvario,
Revela-se o nível
Do afeto imiscível,
O abandono a fio.
Em Naxos a dita
Torpe, a alegoria
Do qu'inda viria:
Ariadne aflita.
Cego, à revelia,
Teseu logo incita
Todos. Ó maldita
Saga, ó vez sombria!
Da costa marítima
Egeu vê o agito
Da vela, contrito.
Que mágoa mais íntima!
Do báratro, o grito
Os deuses intima.
Pelo mundo a estima
Perdeu, imperito.
Os louros ou o olvido?
O Touro vencido...
Ao Hades preciso
Ir, mesmo indeciso.
O Touro é temido.
À Creta preciso
Ir, mesmo indeciso.
Os louros ou o olvido?
"Ouve o sério aviso,
Ó filho querido!",
Clama Egeu, Ferido
Pelo próprio siso.
"De branco vestida
A grã vela iças
Na volta, e as Justiças
Deem-me a tua vida."
"Das cruéis cobiças
Tira a tua lida,
Segue da saída
A luz... Que te atiças?"
Cupido Infalível
À Ariadne o fio
Do amor doentio
Entrega, insensível.
Do vil desvario,
Revela-se o nível
Do afeto imiscível,
O abandono a fio.
Em Naxos a dita
Torpe, a alegoria
Do qu'inda viria:
Ariadne aflita.
Cego, à revelia,
Teseu logo incita
Todos. Ó maldita
Saga, ó vez sombria!
Da costa marítima
Egeu vê o agito
Da vela, contrito.
Que mágoa mais íntima!
Do báratro, o grito
Os deuses intima.
Pelo mundo a estima
Perdeu, imperito.
Os louros ou o olvido?
O Touro vencido...
Ao Hades preciso
Ir, mesmo indeciso.
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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
William Shakespeare: "Sonnet XL"
William Shakespeare: "Sonnet XL"
Take all my loves, my love, yea take them all;
What hast thou then more than thou hadst before?
No love, my love, that thou mayst true love call;
All mine was thine, before thou hadst this more.
Then, if for my love, thou my love receivest,
I cannot blame thee, for my love thou usest;
But yet be blam'd, if thou thy self deceivest
By wilful taste of what thyself refusest.
I do forgive thy robbery, gentle thief,
Although thou steal thee all my poverty:
And yet, love knows it is a greater grief
To bear love's wrong, than hate's known injury.
Lascivious grace, in whom all ill well shows,
Kill me with spites yet we must not be foes.
"Soneto XL" (Tradução de Adriano Nunes)
Amor meu, toma todos meus amores;
Que t'rás de mim que teu não fosse antes?
Nenhum amor, amor, que amor chamares,
Tudo meu era teu, dos dons estreantes.
Se por amor de mim o que amo captas,
Não posso culpar-te, se do amor usas;
Mas reprova-te, se ao engano te adaptas
Logrando assim tuas próprias recusas.
Gentil ladrão, perdoo-te a tua ofensa,
Embora me retires a penúria:
No entanto, sabe o amor que é dor intensa
Sofrer faltas do amor que d'ódio a injúria.
Graça lasciva, em que se espelha o mal,
Mate-me o teu desdém, sem ser rival.
In: SHAKESPEARE, William. "The Complete Works of William Shakespeare". London: Wordsworth Editions, 1996.
Take all my loves, my love, yea take them all;
What hast thou then more than thou hadst before?
No love, my love, that thou mayst true love call;
All mine was thine, before thou hadst this more.
Then, if for my love, thou my love receivest,
I cannot blame thee, for my love thou usest;
But yet be blam'd, if thou thy self deceivest
By wilful taste of what thyself refusest.
I do forgive thy robbery, gentle thief,
Although thou steal thee all my poverty:
And yet, love knows it is a greater grief
To bear love's wrong, than hate's known injury.
Lascivious grace, in whom all ill well shows,
Kill me with spites yet we must not be foes.
"Soneto XL" (Tradução de Adriano Nunes)
Amor meu, toma todos meus amores;
Que t'rás de mim que teu não fosse antes?
Nenhum amor, amor, que amor chamares,
Tudo meu era teu, dos dons estreantes.
Se por amor de mim o que amo captas,
Não posso culpar-te, se do amor usas;
Mas reprova-te, se ao engano te adaptas
Logrando assim tuas próprias recusas.
Gentil ladrão, perdoo-te a tua ofensa,
Embora me retires a penúria:
No entanto, sabe o amor que é dor intensa
Sofrer faltas do amor que d'ódio a injúria.
Graça lasciva, em que se espelha o mal,
Mate-me o teu desdém, sem ser rival.
In: SHAKESPEARE, William. "The Complete Works of William Shakespeare". London: Wordsworth Editions, 1996.
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SHAKESPEARE,
TRADUÇÃO
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
William Shakespeare: "Sonnet XXXVIII"
William Shakespeare: "Sonnet XXXVIII"
How can my muse want subject to invent
While thou dost breathe, that pour’st into my verse
Thine own sweet argument, too excellent
For every vulgar paper to rehearse?
O give thyself the thanks, if aught in me
Worthy perusal stand against thy sight.
For who’s so dumb that cannot write to thee,
When thou thyself dost give invention light?
Be thou the tenth muse, ten times more in worth
Than those old nine which rhymers invocate;
And he that calls on thee, let him bring forth
Eternal numbers to outlive long date.
If my slight muse do please these curious days,
The pain be mine, but thine shall be the praise.
"Soneto XXXVIII" (Tradução de Adriano Nunes)
Como quer qualquer tema minha Musa
Se vivo estás, entregando ao meu canto
Teu próprio argumento, de fulgor tanto
Para que um vil papel o reproduza?
Oh! Dá graças a ti, se algo em mim
Perceberes de valor, de teu ver.
Quem parvo será por não te escrever,
Quando a todo invento luz dás, enfim?
Sê a Musa dez, que dez vezes vale
Mais que as nove velhas que o vate clama,
E àquele que te invoca, dá-lhe a chama
De grãs versos sem que nada os iguale.
Se minha Musa contenta ao que for,
Meu seja o pesar, teu todo louvor.
In: SHAKESPEARE, William. "The Complete Works of William Shakespeare". London: Wordsworth Editions, 1996.
How can my muse want subject to invent
While thou dost breathe, that pour’st into my verse
Thine own sweet argument, too excellent
For every vulgar paper to rehearse?
O give thyself the thanks, if aught in me
Worthy perusal stand against thy sight.
For who’s so dumb that cannot write to thee,
When thou thyself dost give invention light?
Be thou the tenth muse, ten times more in worth
Than those old nine which rhymers invocate;
And he that calls on thee, let him bring forth
Eternal numbers to outlive long date.
If my slight muse do please these curious days,
The pain be mine, but thine shall be the praise.
"Soneto XXXVIII" (Tradução de Adriano Nunes)
Como quer qualquer tema minha Musa
Se vivo estás, entregando ao meu canto
Teu próprio argumento, de fulgor tanto
Para que um vil papel o reproduza?
Oh! Dá graças a ti, se algo em mim
Perceberes de valor, de teu ver.
Quem parvo será por não te escrever,
Quando a todo invento luz dás, enfim?
Sê a Musa dez, que dez vezes vale
Mais que as nove velhas que o vate clama,
E àquele que te invoca, dá-lhe a chama
De grãs versos sem que nada os iguale.
Se minha Musa contenta ao que for,
Meu seja o pesar, teu todo louvor.
In: SHAKESPEARE, William. "The Complete Works of William Shakespeare". London: Wordsworth Editions, 1996.
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Adriano Nunes: "Elegia VI"
"Elegia VI"
São efêmeras horas
As que a Sorte devora.
Mas elas sambam, sambam,
Sós, o samba das horas,
E tudo, saibam, saibam,
Samba o samba das horas.
Tanta desgraça à porta!
Tanta crendice torta!
São inúmeras horas
As que a Sorte nos prova:
As horas que não passam!
Deuses brincam lá fora...
São efêmeras horas
As que a Sorte devora.
Mas elas sambam, sambam,
Sós, o samba das horas,
E tudo, saibam, saibam,
Samba o samba das horas.
Tanta desgraça à porta!
Tanta crendice torta!
São inúmeras horas
As que a Sorte nos prova:
As horas que não passam!
Deuses brincam lá fora...
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Adriano Nunes: "El mar"
"El mar"
Gesto salobre
Que a mi ser cubre
De sueños tantos,
De móvil canto,
Líquido canto.
Todo vestido
De verde y azul,
Del cielo blanco,
De enigma y miedos,
De vida y muerte.
Fortuito, así,
Como el amor.
Gesto salobre
Que a mi ser cubre
De sueños tantos,
De móvil canto,
Líquido canto.
Todo vestido
De verde y azul,
Del cielo blanco,
De enigma y miedos,
De vida y muerte.
Fortuito, así,
Como el amor.
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William Butler Yeats: "When You Are Old"
William Butler Yeats: "When You Are Old"
When you are old and grey and full of sleep,
And nodding by the fire, take down this book,
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep;
How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true,
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face;
And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how Love fled
And paced upon the mountains overhead
And hid his face amid a crowd of stars.
"Quando fores velha" (Tradução de Adriano Nunes)
Quando fores velha e triste e cansada,
E em ordem co' o fogo, pega este livro
E lê lentamente, e lembra o olhar vivo
Que tinhas, e da sombra aprofundada.
Amaram-te dias de graça grácil,
E teu fulgor co' amor falso ou sincero,
Mas amou-te um ser n'alma o destempero,
E as mágoas da tua face volátil.
E curvando-te à lenha incandescente,
Murmura, amarga, como o amor fugiu
E seguiu monte acima, a subir sempre
E a face em grupos d'astros encobriu.
In: YEATS, William Butler. "The love poems". London: Kyle Cathie Limited, 2010, page 31. Edited with an indrotuction and notes by A. Norman Jeffares.
When you are old and grey and full of sleep,
And nodding by the fire, take down this book,
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep;
How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true,
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face;
And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how Love fled
And paced upon the mountains overhead
And hid his face amid a crowd of stars.
"Quando fores velha" (Tradução de Adriano Nunes)
Quando fores velha e triste e cansada,
E em ordem co' o fogo, pega este livro
E lê lentamente, e lembra o olhar vivo
Que tinhas, e da sombra aprofundada.
Amaram-te dias de graça grácil,
E teu fulgor co' amor falso ou sincero,
Mas amou-te um ser n'alma o destempero,
E as mágoas da tua face volátil.
E curvando-te à lenha incandescente,
Murmura, amarga, como o amor fugiu
E seguiu monte acima, a subir sempre
E a face em grupos d'astros encobriu.
In: YEATS, William Butler. "The love poems". London: Kyle Cathie Limited, 2010, page 31. Edited with an indrotuction and notes by A. Norman Jeffares.
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