quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Adriano Nunes: "Os 70 anos de Antonio Cicero"

"Os 70 anos de Antonio Cicero"



Não se espantem se ouvirem, hoje, por aí, a flauta de Euterpe, a lira de Erato. Não se espantem se Baco aparecer com o melhor vinho, com seu séquito de bacantes. É o aniversário do grande poeta e filósofo Antonio Cicero, meu amigo amado. A poesia está em festa. O pesamento lúcido, preciso, sob os ditames da razão está em festa. A música brasileira está em festa. Tentar resumir a obra e a importância de Cicero para a poesia e para a música brasileira seria praticamente impossível, até porque poucos sabem que por trás de canções marcantes, belíssimas, por exemplo, está a mão do poeta Antonio Cicero, irmão da cantora e compositora Marina Lima. Assim, vejam, meus amigos, que foi Cicero quem fez a letra para "O Ultimo romântico" cantada por Lulu Santos, e que Caetano Veloso eternizou ao solo de Jacques Morelenbaum (https://www.youtube.com/watch?v=A7H4ElbZUPA). Sabiam que a belíssima canção de Ritchie "Loucura e mágica" (https://www.youtube.com/watch?v=is9X8RXi5GQ) foi feita por Cicero? E a magistral "Inverno" (https://www.youtube.com/watch?v=JpZH7SmEboc) cantada por Adriana Calcanhotto; a perfeita "Granito" (https://www.youtube.com/watch?v=6hP5Fu2H44g) cantada por João Bosco? E a enigmática e brilhante "Bobagens, meu filho, bobagens" (https://www.youtube.com/watch?v=3OjaEmgTfpw) que Caetano deu ar de imortalidade? E as tantas compostas e interpretadas por Marina, como a belíssima e viciante "Fullgás" (https://www.youtube.com/watch?v=ZOZLN7HxMJU), a belíssima "Virgem" (https://www.youtube.com/watch?v=F7u2e8UCyLM) e a ótima e linda "Acontecimentos"? (https://www.youtube.com/watch?v=nzUTdutb4xU). Bem, a lista seria imensa e levar-me-ia a passar horas a repetir as palavras "belíssima", "perfeitas", etc e tal. Cicero, acima de tudo, é humilde, generoso, humano, amigo. Fala mais de 8 idiomas. Traduz. Responde sempre que possível a e-mail e comentários de seus fãs e amigos. Autor do grande poema "Guardar", um dos mais belos escritos em quaisquer idiomas. Não se espantem ao saber que Caetano Veloso disse em "Verdade Tropical" que parte do seu pensamento foi moldado por Antonio Cicero. Veja aqui a passagem do livro:

"Cícero destrói a falsa opção para o Brasil entre a bizarria estridente e imitação modesta. Ter ele chegado a esse ponto, para mim, representa uma confirmação da identidade profunda que senti com sua percepção das coisas, desde Londres. E o faz situar-se, em minha imaginação, não distante do Mautner do transliberalismo delirante - e com batuque.
Mautner é três anos mais velho que Gil e eu, e foi, sob vários pontos de vista, um precursor do tropicalismo (nós o chamávamos com ternura e ironia, de mestre), enquanto Cícero, uns quatro anos mais novo que nós dois (uns sete mais novo que Mautner), foi ele próprio levado a dar guinadas em seu pensamento por causa do que julgava ver no que fazíamos, sendo assim, em alguma medida, uma espécie de seguidor do tropicalismo - embora, é claro, não tivesse motivos para nos chamar, mesmo brincando, de mestres.
Mas eu os apresento aqui juntos nesse paralelo por atribuir a ambos - Mautner sendo mais influente do que Cícero na fase Londrina, e este o sendo mais do que aquele depois da volta ao Brasil - papel decisivo na (não por culpa deles precária) organização do meu pensamento."

Não é à-toa que o mais novo CD de Gal Costa "Estratosférica" abre com a belíssima canção-rock "Sem medo nem esperança" (https://www.youtube.com/watch?v=gJQFzOLgldk) composta por ele e pelo grande Arthur Nogueira, amigo que muito estimo. Bem, Cicero é a Grécia e Ipanema. É a Roma Antiga e as delícias suburbanas de Salvador. Em seu último livro "Porventura", ele dedicou um belo poema a mim chamado "Leblon" (página 55), o que me deixou emocionadamente feliz e grato por existir contemporaneamente a ele, um dos maiores da poesia, da filosofia e música brasileiras. Viva Cicero! Não se espantem se ouvirem as nove filhas de Mnemosine e Zeus louvarem, hoje, alto, alegremente aquele que era chamado pelo pai de "inocente do Leblon".


Adriano Nunes

Nenhum comentário: