Diego Hurtado de Mendoza: "Canción LXXXVII"
"Canção LXXXVII" (Tradução de Adriano Nunes)
Esta é a justiça
que mandam fazer
ao que por amores
dispôs-se a perder.
Burlou o mesquinho
muita formosura,
faltou a ventura,
sobrou desatino,
errado o caminho
não pôde volver,
o que por amores
dispôs-se a perder.
Entrou simples, cego,
mas não sem razão;
tornou-se afeição
do que era jogo;
acendeu o fogo
em que irá arder,
quando por amores,
dispô-se a perder.
Sem estudo algum
deu o Amor sentença;
julgou-o em presença
por maçante cego;
não creu ser nenhum
o que era de ser,
esta é a justiça
que mandam fazer.
Mandam-no servir,
mesmo descontente,
e, se se arrepende,
não dá pra fugir,
e até sucumbir
sequer pode ser,
esta é a justiça
que mandam fazer.
Seja aos d'olho abrigos,
se fala ou se mira;
tratam-no mentira
amigos de amigos
e a seus inimigos
se vital for ser,
esta é a justiça
que mandam fazer.
Sofra desfavores
feitos por cismar,
fazem-se do olhar
seus competidores
e os observadores
vertem-no de ver,
esta é a justiça
que mandam fazer.
Se acaso algum dia
fale à sua dama,
veja ela o que ama
e com ele ria;
de invídia e porfia
se há de manter
o que por amores
dispôs-se a perder.
Diga seu cuidado
sem ser convencido,
que antes de ouvido,
seja condenado,
queira ser visado
não o queiram ver,
o que por amores
dispôs-se a perder.
MENDOZA, Diego Hurtado de. Poesía completa. Edición, introducción y notas de José Ignacio Díez Fernández. Barcelona: Planeta, 1989, p. 193-194.
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