terça-feira, 27 de setembro de 2011

Adriano Nunes: "Na intermitência do tédio"

‎"Na intermitência do tédio"



Pela janela do quarto do hotel
Consigo ver o poema
Dissecar toda a cidade.
Apago o mesmo cigarro
Na intermitência do tédio.
Quem será que tanto sabe
Para que lado seguem as minhas certezas?
Por que agora, sem voz, elas me deixam?
Retorno ao espaço-morto do papel 

Em branco. Arrisco alguns versos 
E não sou capaz de saber onde me encontro.
Talvez Tebas, Pasárgada, Bagdá, Macondo... 

Trucido o tempo, enquanto mal me penso.

Da janela do quarto do infinito,
Pressinto a noite desfazer os meus olhos.
Ao que me proponho, como saber? 

A sólida solidão 
É que me remete à busca 
Da palavra certa. Tudo 
É monótono, tudo me embriaga e
Encarcera-me... A paisagem
De passagem sobre as entrelinhas. A vida 

E a morte a brincar, de cabra-cega, lá fora.
O ventilador do teto 

Continua a girar, a girar, a girar...
Tudo é substantivamente secreto.


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