"O dorso de Ζέφυρος"
Noite. Chove. Bach percorre os desvãos
Do lar. São concertos para violinos.
Nada me importa agora. Nem o caos
Metafísico. Sequer os estragos
Da solidão. Chove. Tem sido sempre
Noite para o acaso das esperanças.
Desde muito cedo. Quando a inocência
Fazia festa em meu ser. São concertos
Para violinos. Bach ronda as fronteiras,
Os arredores dos alheamentos.
Eis a Beleza. O ar mais atravessa
O ar. Zéfiro chega. Tudo dói
No instante intacto de haver a Beleza.
Eis a grã Beleza. Zéfiro zarpa
Sem pressa. Tento alcançar o seu dorso.
Para mim que importam a chuva e o cinza
De tudo que se liquefaz em mim?
Chove, e há a beleza contemplada.
Chove. Bach me carrega nos braços.
O som dos violinos mescla-se aos ecos
Da chuva. Sim, preciso inaugurar
Minha vida. Como ainda me caço?
Adriano Nunes
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