segunda-feira, 30 de julho de 2018

Adriano Nunes: "O dorso de Ζέφυρος"

"O dorso de Ζέφυρος"


Noite. Chove. Bach percorre os desvãos 
Do lar. São concertos para violinos.
Nada me importa agora. Nem o caos
Metafísico. Sequer os estragos 
Da solidão. Chove. Tem sido sempre 
Noite para o acaso das esperanças. 
Desde muito cedo. Quando a inocência 
Fazia festa em meu ser. São concertos 
Para violinos. Bach ronda as fronteiras, 
Os arredores dos alheamentos. 
Eis a Beleza. O ar mais atravessa 
O ar. Zéfiro chega. Tudo dói 
No instante intacto de haver a Beleza. 
Eis a grã Beleza. Zéfiro zarpa 
Sem pressa. Tento alcançar o seu dorso.
Para mim que importam a chuva e o cinza 
De tudo que se liquefaz em mim? 
Chove, e há a beleza contemplada. 
Chove. Bach me carrega nos braços. 
O som dos violinos mescla-se aos ecos 
Da chuva. Sim, preciso inaugurar 
Minha vida. Como ainda me caço?


Adriano Nunes

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