terça-feira, 11 de julho de 2017

Adriano Nunes: "Não há escapatória"

"Não há escapatória"


Na guerra inescapável da política,
Todos estão
Procurando pelos culpados. 
Apontam os dedos então
Para cima, para baixo,
Para trás, para frente.
Ninguém ousa falar
A verdade. Ela pesa sempre
Mais do que a vaidade
De compactuar com
A miséria e a desgraça.
Ainda não se sabe
O que é potencialmente bom.

Os direitos
Na corda bamba das conveniências
Balançam-se,
Para lá, para cá,
Para além do que pode o pensar.
Vez ou outra, admitem
Os mais ousados:
"Somos todos os culpados!"
Depois, parece que, rápido,
Passa o tempo e,
Por esquecido, tudo dá-se.
Os símiles corruptos e corruptíveis,
Os conhecidos ladrões das verbas para a merenda
Das crianças escolares,
Os de ágeis e práticos discursos,
Os espúrios que nunca entram em apuros,
Os que jamais nenhum apoio dispensam.

Errado, tu, leitor, não me entendas.
Retirando de ti a tua venda,
Talvez, a visão do todo possa, um pouco,
Melhorar. Um pouco. De cada vez, um pouco.
Não vês? Como não vês?
Estamos numa sopa de podridão e amarguras,
De ideais que já não servem mais.
Nossos políticos -
Como tolos somos! -, queiramos ou não,
Dilaceraram a nossa já manca esperança,
Eles furtam, fazem o jogo sujo,
Conchavos contra o povo.
Não apontemos para um ou outro
Nome. Que nome da Justiça não se esconde?
Não é justo. O poço é sem fundo.
Não se salva ninguém? Não se salva?

No País das malas fartas
E das mesadas pagas,
Só ratos, gabirus, sanguessugas cantam alto,
Trazendo vida e êxtase ao submundo
Das negociatas e trapaças.
Ó, eleitor, por que choramingas agora
Que te puseram no pescoço a corda?
Da esquerda, da direita,
Não há escapatória.
Procurando pelos culpados,
Apontam os dedos inflamados
Para todos os lados.
Da ilusão, dentro e fora.
A sujeira não tem partido.
A astúcia não tem partido.
Apenas tu, leitor,
Queres ainda essa bitola?

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