segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Adriano Nunes: "Tudo fica"

"Tudo fica"


Sob as lápides,
Alguns lapsos,
Alguns laços
Bem atados,
Outros não.
Certamente
Nada sobra,
Nem um olho!
Muito menos
Coração.
Só memória
De algum ente
Se parente, e
Olhe lá!
Os haveres,
Os desejos
Que ninguém
Sequer sabe...
Ah, desfazem-se!
Ossos todos,
Uns roídos
Pelo tempo.
Uns porosos
Desde quando o
- Feito máquina -
Corpo andava.
Pensamentos
Nunca expostos?
Pouco importam!
Até vermes
Podem ter
Seus propósitos
Definidos.
"O existir
Goza em ser
Comestível",
Clamam os
Tapurus
Eruditos.
"Por enquanto,
Se há carne
E tutano -
Dizem - "cá,
Bem estamos!"
E, não se
Saberá
Jamais, com
Quantos versos
É possível
Engendrar
Paraísos
Para os vivos.
Mas se morre
Um poeta,
Vê-se logo
Que é certo
Que, sob pedra,
Não se encerra
Sua vida.
Tudo fica
Sobre a lápide,
Mesmo que, a
Sete palmos,
Dela abaixo,
Bem descanse
Ou se estresse
O cadáver.

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