quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Adriano Nunes: "Dignidade"

"Dignidade"


Posso ser igual
E ser diferente,
Proteu debruçado
Sobre o próprio ego,
Lançando à vez versos.
Posso até ser bicho
Enquanto sou gente,
Posso não ter posses
E admirar quem pode
Ter, posso ler Locke
Ou nada ler mesmo
Pra compreender
Que não sou, - não veem? -
A propriedade
Que em mim tantos leem,
O objeto de troca,
Bem material,
O que apenas por
Um instante importa.
Fora assim no início
E será in fine?
Posso ser distinto
Dos demais e símile,
Veraz quando minto
E voraz na lide
De mim contra mim,
Posso ser chinfrim,
Preto, branco, rosa,
Amarelo, agora
Tudo posso ser.
Um vencível vate,
Aquele covarde
Que, sábio, se vale
Da fuga e se evade
Da luta mais bruta,
A de não ter culpa
De ser como ser,
Para enfim cantar-me,
Pra alegre cantar-vos,
Para não ter formas,
Do recanto árido
Do Saara ao báratro
D'água do Niágara,
Resplendor que eclode
Da existência, máxime.
Como posso, podes
Também, e sei que
Todos devem ter
Plena dignidade.
E de Horácio a Kant,
Da razão, o pássaro,
A Fênix que arde,
O dito importante:
Ó, 'sapere aude'!



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