domingo, 20 de maio de 2012

Adriano Nunes: "Noite tensa"

"Noite tensa"



Noite tensa.
Reviro os livros, procuro o
Paradoxo do que represento
Para lançar-me à carne
De algum pensamento,
Ante o íntimo dos sonhos
E entre essa estranha película
De limites rememorados
E a certeza dura de que tudo acaba.

Reverto a paisagem, sem pressa.
Prometi às laringes de grafite não mais
Adiar a felicidade, aquela
Paz que se revela
Diante dos olhares fugazes do amor.
Era preciso ser preciso... Não fui.
Era preciso ter astúcia... Não tive.
Era preciso evitar esquemas e
Estratégias contra o que eu ainda poderia

Supor,
Contra o tédio... Não pude.
A noite veio
Carregada de peso, sem pausa,
Sem pontes para o tudo-nada,
Súbita, negra, pronta para 

Dilacerar os liames de luz.
Sim, tentei sentir-te
Adentro,

Violentamente.
Menti... Nunca poderia
Isso vingar numa alegria.
Redesenhei a falta.
É a noite e ela
Propaga-se pelo silêncio
De silício, acumula-se,
(Que traiçoeira tristeza!)
Em meu coração.

Outra dor me assalta, fria,
Tal carrasco depois do ato sem volta.
Era preciso dizer-te do corpo... Não disse.
Era preciso fazer rodeios... Não fiz.
Era preciso fingir totalidades... Como assim?
Noite sem pele, tensa...
Assusta-me o desassossego
De deduzir que
Outro tempo me pensa.

Em toda leitura, estás.
Em toda gravura, estás.
Em todo cheiro, estás.
Em todo som, surpreendendo-me, estás.
Um pranto quer emergir...
Dragões pousam, neste instante,
Em minha janela.
Os seus olhos são a verdade.
E a vida dói e assombra.

O porvir
Agora me povoa
Porque me enviaram via Sedex
Esperanças empalhadas.
Conto até dez... Nada some!
Era preciso pedir mais e mais... Tolice.
Era preciso rasgar o âmago do infinito... Loucura.
Era preciso dar a vez ao olvido... Fraqueza.
Era preciso dormir um pouco.

Nenhum comentário: