"Eu não sei onde..." - José Gorostiza
(Tradução de Adriano Nunes)
Eu não sei onde começará a senda
nem se acharemos paz em sua alvura...
Porém umbral imóvel nos pretenda,
entre nobres montanhas, a planura
como campo viril de uma contenda.
E é justo suspender nossos carinhos,
fugir sem força, sem enfeitinhos,
e sendo velhos regressar novinhos!
Estamos presos à margem da vida
como uma pedra em seu colar pendente
e apenas encanta a visão suspensa
um murmúrio de fronde estremecida
ao canto silencioso de uma fonte
de claro alento e solidão imensa.
Acaso essa amargura nos espante
e mais padeça o coração mesquinho
quando tal sede advirta ao caminhante
a falta de repouso em seu caminho.
Mas junto à montanha sem assombros
verá com olhos de inquietude ufana
a carga de crepúsculos, leviana
e vibrante de amor sobre seus ombros.
In: GOROSTIZA, José. "Poesía y Poética". Madri: ALLCA XX, 1996, p. 98.
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