quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Adriano Nunes: "Como se não bastasse" - Para Antonio Cicero

‎"Como se não bastasse" - Para Antonio Cicero



No dorso móvel
Do monstro
Atlântico,

Verde-anil,
As três caravelas
Vão vagando.

Às vezes, as nuvens
Reverenciam o nume e
O infinito

Surge súbito
Sob formas diversas.
O caos

Causa ao lábio calcarino
Um medo líquido,
Ensolarado.

O corre-corre
(A via-crucis
Do convés), o salto

À vida, náufrago:
Até parece que
A bússola busca

Outro sonho magnético,
Outro solo submerso,
A Atlântida

Íntima,
Insólita, intensa.
Feito ímã,

Nasce a imagem
Da qui-
Mera mágica,

Através dos rumores
Da linguagem,
Enquanto o rumo

Dos barcos
Abriga-se no acaso
Temperado

Das intempéries.
Alimentados de além-porto,
Os marujos

Amarram-se a mares
Emaranhados,
Agora navegados.

Os sustos
Somam-se ao sumo
De tudo

E o mundo
Espelha-se miúdo,
Espúrio,

Na aventura prematura
De Portugal.
Singra o sangue

À procura da pátria
Tropical, sob a astúcia
De sagres.

As dez naus
Avançam... ( Gaivotas
Gritam, fazem graça

Na calota azulada)
Sem mistérios,
As velas vibram

Enquanto, de vez,
Fecha-se
A caixa de Pandora.

Quase ao fim,
Abril
Aborta Cabral

E sua esquadra,
Como se não bastasse
Mais nada.

Terra à vista!
Em porto oportuno,
O Brasil.





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