segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Adriano Nunes: "A palavra bruta" - Para João Cabral de Melo Neto

"A palavra bruta" - Para João Cabral de Melo Neto




essa brusca busca,
pesada, à procura
do nada, a palavra
feito brasa, pura,
por que mais se ofusca

quando a quero, justa-
mente à frente, cúmplice
do tempo, pensada,
feito chama, augusta,
súdita, em rascunho,

quando a quero, justa-
posta, rente, pública,
sem entrave, súbita
tal faísca, mágica,
sem mancha, rasura?

por que me seduz
essa estranha luz,
inefável mundo -
a palavra bruta -
pra lançar-me à culpa-

lapso, sobre tudo?
o olvido profundo
de si - qual palavra
intacta - sem justa-
posição, que assusta.

essa única luta,
penada, à procura
do nada, a palavra
feito bruma, plúmbea,
por que mais se oculta

quando a quero, justa-
posta, à frente, múltipla,
moderna, moldada,
feito charge, avulsa,
sulfúrica, súplica,

quando a quero, justa-
mente, réstia, púrpura,
sem estorvo, supra-
sumo, sonho, sútil,
sem mácula, adubo?

a que me conduz
essa estranha luz,
infindável mundo -
a palavra bruta -
pra lançar-me ao surto-

eclipse, sob tudo?
o olvido profundo
de si - qual palavra
inútil - sem justa-
posição, me assusta.









Um comentário:

Marcio Rufino disse...

Puxa Adriano.

Belíssima poesia. É preciso trabalhar muito para conseguir ese apuro com as palavras. Quando se consegue o resultado é sempre inebriante de tão bom. Parabéns. Espero sua visita lá em http://emaranhadorufiniano.blogspot.com

Seus coemntário será muito bem vindo. Abrçs!!!