"Ars Poetica"- Para Carmen Silvia Presotto
Preso todo
A mim, cá,
Posto estou,
Em mim, todo
Dado, assim,
À insistência,
Broto à flor,
A algum metro
Incontido, a um
Raro ritmo,
Ao mistério
De compor,
Verso a verso, o
Que não cabe
Nas sinapses,
Na grã carne
Da existência.
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Adriano Nunes: "Co' as vestes do infinito"
"Co' as vestes do infinito"
Depois que me vi preso
Aos versos, não mais pude
Permanecer o mesmo.
Agora em mim me abrigo,
Meus olhos calham sóis,
Toda a vida se veste
Co' as vestes do infinito.
Que alegria! Achei a
Fonte da Juventude!
Depois que me vi preso
Aos versos, não mais pude
Permanecer o mesmo.
Agora em mim me abrigo,
Meus olhos calham sóis,
Toda a vida se veste
Co' as vestes do infinito.
Que alegria! Achei a
Fonte da Juventude!
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POEMA
Adriano Nunes: "Três manhãs"
"Três manhãs"
Se fosse bem possível
Nesta manhã...
E houvesse algum verso
Que te trouxesse,
Talvez as montanhas se removessem
Sozinhas,
E os deuses engendrariam
Esse desejo de seres só minha.
Se fosse previsível
Nossa manhã
E houvesse qualquer tempo
Que te coubesse,
Talvez as dúvidas se desfizessem
Na entrelinha,
E os deuses engendrariam
Todo o desejo de seres tão minha.
Se fosse permitido
Noutra manhã...
E houvesse um mero nexo
Que te levasse, de vez,
Talvez as certezas se desvendassem
Mesquinhas,
E os deuses engendrariam
O mesmo desejo e... já não és minha!
Ah, o desejo, o desejo
Quer-me matar!
Ah, o desejo que me deseja
Faz-me sonhar!
Ah, o desejo que te deseja
Quer a ti para par!
*Musicado por Diogo Rosa
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Adriano Nunes: "Cupiditas"
"Cupiditas"
Toda elite em
Sua lide
Pelo lume,
Pelo lucro,
Pelo luxo,
Por luxúria,
Dá-se ao lapso
De lançar-se,
Sem limites,
À lei de
Não ser livre,
Por viver
Sempre escrava
Do que a atiça:
A cobiça.
Toda elite em
Sua lide
Pelo lume,
Pelo lucro,
Pelo luxo,
Por luxúria,
Dá-se ao lapso
De lançar-se,
Sem limites,
À lei de
Não ser livre,
Por viver
Sempre escrava
Do que a atiça:
A cobiça.
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domingo, 25 de agosto de 2013
Adriano Nunes: "Dai-me os óculos"
"Dai-me os óculos"
Apesar de ter permanecido o plantão
inteiro no centro cirúrgico, Eduardo não esboçava sinais de cansaço. Médico
aclamado entre os colegas, doutor Edu dedicava-se à literatura tanto quanto à
arte de Hipócrates. Vivia envolto dos livros de poesia e dos memoráveis
romances e, às vezes, arriscava em tecer uns versos, tentando desvendar a si e
toda a existência.
Sete da noite. Como esquecer? Sete em
ponto. Entra no carro. Pega o exemplar do Livro do Desassossego, presente da
namorada. Cecília é linda e inteligente. Lembra-se de que falta muito para o
término da leitura, visto que esses dias foram de insólito corre-corre, de
desafios ante o báratro dos acasos. A sua visão não é mais um Titã pronto para
as batalhas olímpicas, mas ele engana a si ante a nítida necessidade. Nada de
óculos, ainda. O amor infiltra-se em seu olhar enquanto o livro é posto na
cadeira do passageiro, à direita.
Dispara o carro, subitamente. O
vigilante sequer repara que o doutor, aquele das gorjetas, partira. Pressa? Há
muito as folgas não preenchem o seu mundo de vontades e sonhos. Que trânsito!
Edu agora é faróis, buzinas, movimentos, curvas, semáforos e... Deus, Senhor
Deus! Que se sucede nessa avenida em que dois carros se apresentam escombros,
ferro retorcido, sangue, vidro e algaravia? Quanta gente! Quanta sirene!Quem
será que está, ali, estendido, já com colete cervical, parecendo imergir em
sombras? Não poder ser! Doutor Edu? Aproximam-se o conto e o contista feito
lupa e constatam o corpo do jovem médico em coma. Chove no Rio de Janeiro.
Sete da noite. Como? Lisboa está
angustiada. Ao menos, a Poesia. No quarto 30 do hospital São Luís dos
Franceses, pouco a pouco, padece o poeta Fernando Pessoa. O álcool deixara uma
marca irreversível nas laringes de grafite de Orpheu. As dores abdominais e a
astenia profunda consomem o menino de sua mãe, mas não o impedem de perguntar:
-Amanhã a estas horas, onde estarei?
Silêncio, entre os presentes. Quem
chega, todo técnica e luz?
-Senhor Fernando, sou doutor Eduardo,
seu novo médico. Infelizmente, o seu quadro é grave, é um abdome agudo. Talvez,
eu venha a operá-lo com urgência.
-Dai-me os óculos; solicita Pessoa,
timidamente.
Eduardo não os entrega. Guarda-os no
jaleco. Tudo se esgota em segundos...
-Preparem o centro cirúrgico! Preparem
o centro cirúrgico! Paciente grave, com trauma cranioencefálico e abdominal
fechado! É um médico! É um médico! Vivia envolto dos livros de poesia e dos
memoráveis romances e, às vezes, arriscava em tecer uns versos, tentando
desvendar a si e toda a existência!
-Bom dia, doutor Eduardo! Como estás
hoje?
-Sinto-me melhor, obrigado! Digam-me
uma coisa. Eu consegui salvar a vida de Fernando Pessoa?
Os médicos entreolham-se.
-Que Fernando Pessoa? Algum paciente
teu?
-O poeta português, responde aflito.
-Descanse mais um pouco, Edu. Depois
de quase um mês em coma, é esperado que apresenta um quadro desses.
-Não estou cansado! Quase grita.
-Consegui salvar Pessoa?
-Refere-se ao livro que estava em seu
carro? Se for, o mesmo encontra-se sobre o criado-mudo junto com os seus
óculos. Incrível! Foram os únicos objetos que resistiram à colisão.
Outra dúvida precipita-se no infinito
íntimo do ser que se faz o menino de sua mãe. Oito horas. Somente a ilusão
assiste à passagem do instante de medo. Lisboa deixa cair esta lágrima. Tudo se
esgota em segundos.
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CONTO
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Adriano Nunes: "Liberdade"
"Liberdade"
Ó liberdade, lança-me ao liame
Do teu lindo luzir, de mim liberta-me,
Vinga voraz e leva-me à leveza
Do teu fulgor que as horas embeleza,
Faz-me vivaz ave, dá-me o ar
Afora, em ti funda-me, até findar
A memória de que amarras tivera,
Prova-me em tua própria primavera!
Cantada demais foste pelos vates
E amada. Portanto, não me maltrates:
Permite que te louve, que te alcance,
Rompamos os limites desse lance!
Ó liberdade, lança-me ao liame
Do teu lindo luzir, de mim liberta-me,
Vinga voraz e leva-me à leveza
Do teu fulgor que as horas embeleza,
Faz-me vivaz ave, dá-me o ar
Afora, em ti funda-me, até findar
A memória de que amarras tivera,
Prova-me em tua própria primavera!
Cantada demais foste pelos vates
E amada. Portanto, não me maltrates:
Permite que te louve, que te alcance,
Rompamos os limites desse lance!
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Juan Ramón Jiménez: "La obra, 2"
"A obra, 2" (Tradução de Adriano Nunes)
Súbito, agora,
meu lugar conseguido
parece-me um lugar raro, estrangeiro,
de onde eu domino
o mundo.
Vou e venho
pela biblioteca,
onde meus livros são logo luz, como os outros,
igual que por meu sonho adolescente;
e quem vem, é quem quis -quem sonhei-
assim sendo que viesse -a mulher, o homem-.
O meio-dia põe-se solitário
ao redor, onde
falo, sorridente, com os que me ignoram, porque tenho,
em círculo distante, o infinito.
Juan Ramón Jiménez: "La obra, 2"
La obra, 2
De pronto, ahora,
mi lugar conseguido
me parece un lugar raro, estranjero,
de donde yo domino
el mundo.
Voy y vengo
por mi biblioteca,
donde mis libros son ya luz, como los otros,
igual que por mi sueño adolescente;
y quien viene, es quien quise --quien soñé--
entonces que viniera --la mujer, el hombre--.
El mediodía pone solitario
el alrededor, donde
hablo, sonriente, con los que me ignoran, porque tengo,
en círculo distante, lo infinito.
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Piedra y cielo. Antología Poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madrid: Alianza Editorial, 2006, p. 241.
Súbito, agora,
meu lugar conseguido
parece-me um lugar raro, estrangeiro,
de onde eu domino
o mundo.
Vou e venho
pela biblioteca,
onde meus livros são logo luz, como os outros,
igual que por meu sonho adolescente;
e quem vem, é quem quis -quem sonhei-
assim sendo que viesse -a mulher, o homem-.
O meio-dia põe-se solitário
ao redor, onde
falo, sorridente, com os que me ignoram, porque tenho,
em círculo distante, o infinito.
Juan Ramón Jiménez: "La obra, 2"
La obra, 2
De pronto, ahora,
mi lugar conseguido
me parece un lugar raro, estranjero,
de donde yo domino
el mundo.
Voy y vengo
por mi biblioteca,
donde mis libros son ya luz, como los otros,
igual que por mi sueño adolescente;
y quien viene, es quien quise --quien soñé--
entonces que viniera --la mujer, el hombre--.
El mediodía pone solitario
el alrededor, donde
hablo, sonriente, con los que me ignoran, porque tengo,
en círculo distante, lo infinito.
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Piedra y cielo. Antología Poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madrid: Alianza Editorial, 2006, p. 241.
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TRADUÇÃO
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Adriano Nunes: "Ou para o íntimo" - Para a minha mãe
"Ou para o íntimo" - Para a minha mãe
Ponte.
Substantivo feminino.
..................Signo
Que pode levar para perto ou
Para longe.
Ou para o íntimo.
De aço inoxidável,
.................De pedra,
De plástico,
.................De pau,
De pano,
.................De pensamento,
Presa,
.................Pênsil.
Um dia
Das mágicas
Quimeras farei
.................Uma,
Para atravessar os báratros
Do in-
Alcançável.
E chegarei,
Sim,
Eu chegarei
- Como não chegar
...............................ia? -
A ti,
Ó Poesia!
Ponte.
Substantivo feminino.
..................Signo
Que pode levar para perto ou
Para longe.
Ou para o íntimo.
De aço inoxidável,
.................De pedra,
De plástico,
.................De pau,
De pano,
.................De pensamento,
Presa,
.................Pênsil.
Um dia
Das mágicas
Quimeras farei
.................Uma,
Para atravessar os báratros
Do in-
Alcançável.
E chegarei,
Sim,
Eu chegarei
- Como não chegar
...............................ia? -
A ti,
Ó Poesia!
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Adriano Nunes: "Erato"
"Erato"
Quando fores embora,
Aqui ficarei a
Admirar as auroras,
Eu fincarei o olhar
Lá fora e fundarei
O motivo mais íntimo
Sobre as sobras das dobras
Dos dribles da memória.
Então dado aos desvãos
Do aflito coração,
Firme Esfinge serei,
Atenta, à espreita, à espera
De tua lira, enquanto
A vida me revira
Avidamente, e o enigma
Da vinda me devora.
Quando fores embora,
Aqui ficarei a
Admirar as auroras,
Eu fincarei o olhar
Lá fora e fundarei
O motivo mais íntimo
Sobre as sobras das dobras
Dos dribles da memória.
Então dado aos desvãos
Do aflito coração,
Firme Esfinge serei,
Atenta, à espreita, à espera
De tua lira, enquanto
A vida me revira
Avidamente, e o enigma
Da vinda me devora.
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domingo, 18 de agosto de 2013
Henry Wadsworth Longfellow: "Song"
"Canção" (Tradução de Adriano Nunes)
Fica, fica em casa, e descansa, coração;
Corações caseiros mais satisfeitos são,
Pra os que vagam eles não sabem em que exílio
São repletos de estorvo e repletos de auxílio;
Ficar em casa é sem comparação.
Saudoso do lar e aflito e com exaustão,
Eles perambulam por toda direção,
E são desviados e forjados e alçados
Pelos ventos do desvão do indeterminado;
Ficar em casa é sem comparação.
Então fica em casa, e descansa, coração;
O pássaro no ninho tem mais proteção;
Sobre os que vibram asas e estão a voar
Um falcão no firmamento pairando está;
Ficar em casa é sem comparação.
Henry Wadsworth Longfellow: "Song"
Song
Stay, stay at home, my heart, and rest;
Home-keeping hearts are happiest,
For those that wander they know not where
Are full of trouble and full of care;
To stay at home is best.
Weary and homesick and distressed,
They wander east, they wander west,
And are baffled and beaten and blown about
By the winds of the wilderness of doubt;
To stay at home is best.
Then stay at home, my heart, and rest;
The bird is safest in its nest;
Over all that flutter their wings and fly
A hawk is hovering in the sky;
To stay at home is best.
LONGFELLOW, Henry Wadsworth. The complete poetical of Henry Wadsworth Longfellow. Montana: Kessinger, s/d, p. 340-341.
Fica, fica em casa, e descansa, coração;
Corações caseiros mais satisfeitos são,
Pra os que vagam eles não sabem em que exílio
São repletos de estorvo e repletos de auxílio;
Ficar em casa é sem comparação.
Saudoso do lar e aflito e com exaustão,
Eles perambulam por toda direção,
E são desviados e forjados e alçados
Pelos ventos do desvão do indeterminado;
Ficar em casa é sem comparação.
Então fica em casa, e descansa, coração;
O pássaro no ninho tem mais proteção;
Sobre os que vibram asas e estão a voar
Um falcão no firmamento pairando está;
Ficar em casa é sem comparação.
Henry Wadsworth Longfellow: "Song"
Song
Stay, stay at home, my heart, and rest;
Home-keeping hearts are happiest,
For those that wander they know not where
Are full of trouble and full of care;
To stay at home is best.
Weary and homesick and distressed,
They wander east, they wander west,
And are baffled and beaten and blown about
By the winds of the wilderness of doubt;
To stay at home is best.
Then stay at home, my heart, and rest;
The bird is safest in its nest;
Over all that flutter their wings and fly
A hawk is hovering in the sky;
To stay at home is best.
LONGFELLOW, Henry Wadsworth. The complete poetical of Henry Wadsworth Longfellow. Montana: Kessinger, s/d, p. 340-341.
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TRADUÇÃO
sábado, 17 de agosto de 2013
Adriano Nunes: "Láquesis"
"Láquesis"
Foz
Foca-me
Fita-me
Filma-me
Flerta-me
Filtra-me
Forja-me
Forma-me
Faze-me
Funda-me
Finda-me
Foz
Foz
Foca-me
Fita-me
Filma-me
Flerta-me
Filtra-me
Forja-me
Forma-me
Faze-me
Funda-me
Finda-me
Foz
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sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Adriano Nunes: "Isso que mais me alarga" - Para a minha mãe
"Isso que mais me alarga" - Para a minha mãe
Os lírios litorâneos
Sob o suave abraço
Dos ventos... Liberdade,
Isso que mais me alarga
E me assalta, às manhãs,
Por à vida entregar-me.
E os sonhos amalgamam-me
No âmago da graça
De arquitetar-me pássaro,
Pra que eu possa cantar,
Em versos, a amplidão
De alegria ululante.
Os lírios litorâneos
Sob o suave abraço
Dos ventos... Liberdade,
Isso que mais me alarga
E me assalta, às manhãs,
Por à vida entregar-me.
E os sonhos amalgamam-me
No âmago da graça
De arquitetar-me pássaro,
Pra que eu possa cantar,
Em versos, a amplidão
De alegria ululante.
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segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Juan Ramón Jiménez: [A veces, siento]
"[Às vezes, sinto]" ( Tradução de Adriano Nunes)
Às vezes, sinto
como a rosa
que serei um dia, como a asa
que serei um dia;
e um perfume me envolve, alheio e meu,
meu e de rosa;
e uma errância me toma, alheia e minha,
minha e de pássaro.
Juan Ramón Jiménez: [A veces, siento]
A veces, siento
como la rosa
que seré un día, como el ala
que seré un día;
y un perfume me envuelve, ajeno y mío,
mío y de rosa;
y una errancia me coje, ajena y mía,
mía y de pájaro.
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Formas de huir. Antología Poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madrid: Alianza Editorial, 2006, p. 299.
Às vezes, sinto
como a rosa
que serei um dia, como a asa
que serei um dia;
e um perfume me envolve, alheio e meu,
meu e de rosa;
e uma errância me toma, alheia e minha,
minha e de pássaro.
Juan Ramón Jiménez: [A veces, siento]
A veces, siento
como la rosa
que seré un día, como el ala
que seré un día;
y un perfume me envuelve, ajeno y mío,
mío y de rosa;
y una errancia me coje, ajena y mía,
mía y de pájaro.
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Formas de huir. Antología Poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madrid: Alianza Editorial, 2006, p. 299.
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Adriano Nunes:"Pater"
"Pater" - Para o meu pai
Nem mesmo a parte se dobra
Nem o todo: tudo à mostra
No peito, pérola e ostra,
Dos tantos sonhos a sobra.
Nem a grã vontade cobra
Um d'outro o modo ou se prostra
Perante a mínima amostra
Desta vida, a voraz obra.
E o doméstico momento
Que não houve invade o verso,
Calha e colhe o olhar atento
Do menino em mim imerso,
Co' o seu frágil pensamento,
Co' o seu compacto universo.
Nem mesmo a parte se dobra
Nem o todo: tudo à mostra
No peito, pérola e ostra,
Dos tantos sonhos a sobra.
Nem a grã vontade cobra
Um d'outro o modo ou se prostra
Perante a mínima amostra
Desta vida, a voraz obra.
E o doméstico momento
Que não houve invade o verso,
Calha e colhe o olhar atento
Do menino em mim imerso,
Co' o seu frágil pensamento,
Co' o seu compacto universo.
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domingo, 11 de agosto de 2013
Henry Wadsworth Longfellow: "Loss and gain"
"Perda e ganho" (Tradução de Adriano Nunes)
Perda e ganho
Quando comparo
O que eu perdi com o que ganhei,
O que eu errei com o que acertei,
Pouca margem acho pra me orgulhar.
É-me assim claro
Quantos dias foram gastos em vão;
Tal como uma flecha a boa intenção
Fora parca ou pôs-se a se desviar.
Mas quem encara
Medir perda e ganho desta maneira?
Revés pode ser vitória embusteira;
A vazante é da maré o mudar.
Henry Wadsworth Longfellow: "Loss and gain"
Loss and gain
When I compare
What I have lost with what I have gained,
What I have missed with what attained,
Little room do I find for pride.
I am aware
How many days have been idly spent;
How like an arrow the good intent
Has fallen short or been turned aside.
But who shall dare
To measure loss and gain in this wise?
Defeat may be victory in disguise;
The lowest ebb is the turn of the tide.
LONGFELLOW, Henry Wadsworth. The complete poetical of Henry Wadsworth Longfellow. Montana: Kessinger, s/d, p. 359.
Perda e ganho
Quando comparo
O que eu perdi com o que ganhei,
O que eu errei com o que acertei,
Pouca margem acho pra me orgulhar.
É-me assim claro
Quantos dias foram gastos em vão;
Tal como uma flecha a boa intenção
Fora parca ou pôs-se a se desviar.
Mas quem encara
Medir perda e ganho desta maneira?
Revés pode ser vitória embusteira;
A vazante é da maré o mudar.
Henry Wadsworth Longfellow: "Loss and gain"
Loss and gain
When I compare
What I have lost with what I have gained,
What I have missed with what attained,
Little room do I find for pride.
I am aware
How many days have been idly spent;
How like an arrow the good intent
Has fallen short or been turned aside.
But who shall dare
To measure loss and gain in this wise?
Defeat may be victory in disguise;
The lowest ebb is the turn of the tide.
LONGFELLOW, Henry Wadsworth. The complete poetical of Henry Wadsworth Longfellow. Montana: Kessinger, s/d, p. 359.
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Adriano Nunes: "Vox populi"
"Vox populi"
O
PO
VOD
EVIA
SABER
QUEÉNA
BASEQUE
ESTÁTODO
MONOPÓLIO
DOGRÃPODER
O
PO
VOD
EVIA
SABER
QUEÉNA
BASEQUE
ESTÁTODO
MONOPÓLIO
DOGRÃPODER
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sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Adriano Nunes: "Como um rabisco em meu caderno"
"Como um rabisco em meu caderno"
Esvai-se o inverno devagar
E já, sobre os vales, observo os
Alvos cravos, corvos e os cervos...
Claro, o verso é este lugar
Onde a vida posso abrigar
Com fulgor, em que bem conservo os
Arbítrios, os áureos acervos
Do que resta pra amalgamar.
Trôpego, está passando o tempo,
Enrugado, envelhecido, eterno,
Pesando o olhar, sem contratempo,
De flora vestindo-se, alterno,
A pôr o sol no cosmo a tempo,
Como um rabisco em meu caderno.
Esvai-se o inverno devagar
E já, sobre os vales, observo os
Alvos cravos, corvos e os cervos...
Claro, o verso é este lugar
Onde a vida posso abrigar
Com fulgor, em que bem conservo os
Arbítrios, os áureos acervos
Do que resta pra amalgamar.
Trôpego, está passando o tempo,
Enrugado, envelhecido, eterno,
Pesando o olhar, sem contratempo,
De flora vestindo-se, alterno,
A pôr o sol no cosmo a tempo,
Como um rabisco em meu caderno.
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quarta-feira, 7 de agosto de 2013
Adriano Nunes: "Dos áureos limites da linguagem"
"Dos áureos limites da linguagem"
Atento aos portentos desta tarde,
Abrigo-me no que em mim mais arde,
A palavra que se forja rara,
A fronteira que tudo separa.
Por que, à socapa, nada declara
E escapa da folha, sem alarde,
Magno signo, de forma covarde,
Para além da sinapse preclara?
E o meu verso fica à mera margem
Do mar de inalcançável mensagem,
Enquanto os intentos interagem,
Embora se saiba que é miragem,
Amor que se vale, de passagem,
Dos áureos limites da linguagem.
Atento aos portentos desta tarde,
Abrigo-me no que em mim mais arde,
A palavra que se forja rara,
A fronteira que tudo separa.
Por que, à socapa, nada declara
E escapa da folha, sem alarde,
Magno signo, de forma covarde,
Para além da sinapse preclara?
E o meu verso fica à mera margem
Do mar de inalcançável mensagem,
Enquanto os intentos interagem,
Embora se saiba que é miragem,
Amor que se vale, de passagem,
Dos áureos limites da linguagem.
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segunda-feira, 5 de agosto de 2013
Adriano Nunes: "Os dragões do olvido"
"Os dragões do olvido"
Outra vez ele me diz pra eu ter paciência,
Pra pensar a vida sem tanta precisão,
Pra pressentir a vinda dos dragões do olvido,
Pra suportar a perda do embate mais íntimo,
Pra correr os riscos por querer ir tão fundo,
Pra amalgamar todos os sangrantes segundos,
Pra abrir os olhos devagar ante o lá fora,
Pra voltar atrás quando vingar um sentido,
Pra sonhar sem temer as Górgonas do agora,
Pra perdoar inimigos quando possível,
Pra abrigar o inesperado em cada sorriso,
Pra não desafiar a inconstância do mundo,
Pra não me despedir antes do instante mágico
Em que irá ler os versos de Horácio ao meu lado...
Porque o mel do melhor é mesmo o amor amar.
Outra vez ele me diz pra eu ter paciência,
Pra pensar a vida sem tanta precisão,
Pra pressentir a vinda dos dragões do olvido,
Pra suportar a perda do embate mais íntimo,
Pra correr os riscos por querer ir tão fundo,
Pra amalgamar todos os sangrantes segundos,
Pra abrir os olhos devagar ante o lá fora,
Pra voltar atrás quando vingar um sentido,
Pra sonhar sem temer as Górgonas do agora,
Pra perdoar inimigos quando possível,
Pra abrigar o inesperado em cada sorriso,
Pra não desafiar a inconstância do mundo,
Pra não me despedir antes do instante mágico
Em que irá ler os versos de Horácio ao meu lado...
Porque o mel do melhor é mesmo o amor amar.
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domingo, 4 de agosto de 2013
Adriano Nunes: "Filtro"
Adriano Nunes: "Filtro"
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-risteza fique por um triz e suma da minha cabeç
--isteza fique por um triz e suma da minha cabe
---steza fique por um triz e suma da minha cab
----teza fique por um triz e suma da minha ca
-----eza fique por um triz e suma da minha c
------za fique por um triz e suma da minha
-------a fique por um triz e suma da minh
-------- fique por um triz e suma da min
----------ique por um triz e suma da mi
-----------que por um triz e suma da m
------------ue por um triz e suma da
--------------e por um triz e suma d
-------------- por um triz e suma
----------------or um triz e sum
-----------------r um triz e su
------------------ um triz e s
--------------------m triz e
---------------------- triz
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-risteza fique por um triz e suma da minha cabeç
--isteza fique por um triz e suma da minha cabe
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-----eza fique por um triz e suma da minha c
------za fique por um triz e suma da minha
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----------ique por um triz e suma da mi
-----------que por um triz e suma da m
------------ue por um triz e suma da
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CONCRETISMO,
POEMA
William Carlos Williams: "Danse Russe"
"Dança russa" - Tradução de Adriano Nunes
Dança russa
Se quando minha esposa está dormin
do e o bebê e Kathleen
estão dormin
do e o sol é um disco vistoso
no nevoeiro sedoso
sobre árvores reluzentes, -
se eu em meu quarto ao norte
danço nu, grotescamente
Ao meu espelho de frente
sobre a cabeça a camisa agitando
E pra mim mesmo suave cantando:
"Eu sou solitário, solitário,
eu nasci para ser solitário,
melhor assim eu sou!"
Se eu admiro minha face, meus braços,
meus ombros, nádegas, flancos,
contra as cerradas amarelas vidraças, -
Quem poderá dizer que eu não sou
o alegre gênio do meu lar?
William Carlos Williams: "Danse Russe"
Danse Russe
If when my wife is sleeping
and the baby and Kathleen
are sleeping
and the sun is a flame-white disc
in silken mists
above shining trees,-
if I in my north room
dance naked, grotesquely
before my mirror
waving my shirt round my head
and singing softly to myself:
"I am lonely, lonely,
I was born to be lonely,
I am best so!"
If I admire my arms, my face,
my shoulders, flanks, buttocks
against the yellow drawn shades,-
Who shall say I am not
the happy genius of my household?
WILLIAMS, William Carlos. The Collected Poems of William Carlos Williams. Edited by A. Walton Litz and Christopher MacGowan. W W Norton & Co Inc, 1991.
Dança russa
Se quando minha esposa está dormin
do e o bebê e Kathleen
estão dormin
do e o sol é um disco vistoso
no nevoeiro sedoso
sobre árvores reluzentes, -
se eu em meu quarto ao norte
danço nu, grotescamente
Ao meu espelho de frente
sobre a cabeça a camisa agitando
E pra mim mesmo suave cantando:
"Eu sou solitário, solitário,
eu nasci para ser solitário,
melhor assim eu sou!"
Se eu admiro minha face, meus braços,
meus ombros, nádegas, flancos,
contra as cerradas amarelas vidraças, -
Quem poderá dizer que eu não sou
o alegre gênio do meu lar?
William Carlos Williams: "Danse Russe"
Danse Russe
If when my wife is sleeping
and the baby and Kathleen
are sleeping
and the sun is a flame-white disc
in silken mists
above shining trees,-
if I in my north room
dance naked, grotesquely
before my mirror
waving my shirt round my head
and singing softly to myself:
"I am lonely, lonely,
I was born to be lonely,
I am best so!"
If I admire my arms, my face,
my shoulders, flanks, buttocks
against the yellow drawn shades,-
Who shall say I am not
the happy genius of my household?
WILLIAMS, William Carlos. The Collected Poems of William Carlos Williams. Edited by A. Walton Litz and Christopher MacGowan. W W Norton & Co Inc, 1991.
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