"Estranheza"
O mundo. Podre como sempre
Pode ser. Cruel como sempre
Pode ser. Injusto com quem
Parece desvendar os seus mistérios.
Tudo é discurso e prática lesivos.
Tudo é algaravia, e massa acéfala
A girar, a sangrar e a seguir, como testa-de-ferro.
E não basta a alegria cega e frenética.
Não basta a dose de espanto e tédio.
O horror fétido atiça a fúria e mostra os dentes.
Ser gente é não compactuar com o outro, parece.
Ser gente é fazer parte do medo.
Do grande medo de tudo que é ser gente.
Somos obrigados a ficar lerdos e
Calados. A ficar à mercê do tempo de
Escravizar-nos, por causa da esperança que
Já não mais consegue deixar de ser
Manca e maliciosamente nefasta e ética.
Porque é esta a ética dos moralizadores secos.
Porque esta é a ética do rebanho que se verte
Em ordem legitimadora de violências e degredos.
Ah, tarde de não querer saber de nada mais e além!
Ah, instante de horror perigosamente nonsense!
Ah, cercas e farpas de ideologias frias e férteis,
Que têm engendrado assassinos e heróis e deuses!
Porque não há não há um abismo apenas,
Todas as vozes se perdem.
Todos os ecos se adensam em metas e méritos, em mescla
De todos os absurdos iridescentes.
Somos um erro. Sempre um erro. Sem conserto,
Ao que tudo indica. Desde a morte séria
De Antígona à ratoeira de Hamlet. Ao peso
Da existência de algum Buendía. Aos sem
Expectativa de nada. Ao silêncio
De tudo que tudo represente.
Ao horror mesmo.
Pode ser. Cruel como sempre
Pode ser. Injusto com quem
Parece desvendar os seus mistérios.
Tudo é discurso e prática lesivos.
Tudo é algaravia, e massa acéfala
A girar, a sangrar e a seguir, como testa-de-ferro.
E não basta a alegria cega e frenética.
Não basta a dose de espanto e tédio.
O horror fétido atiça a fúria e mostra os dentes.
Ser gente é não compactuar com o outro, parece.
Ser gente é fazer parte do medo.
Do grande medo de tudo que é ser gente.
Somos obrigados a ficar lerdos e
Calados. A ficar à mercê do tempo de
Escravizar-nos, por causa da esperança que
Já não mais consegue deixar de ser
Manca e maliciosamente nefasta e ética.
Porque é esta a ética dos moralizadores secos.
Porque esta é a ética do rebanho que se verte
Em ordem legitimadora de violências e degredos.
Ah, tarde de não querer saber de nada mais e além!
Ah, instante de horror perigosamente nonsense!
Ah, cercas e farpas de ideologias frias e férteis,
Que têm engendrado assassinos e heróis e deuses!
Porque não há não há um abismo apenas,
Todas as vozes se perdem.
Todos os ecos se adensam em metas e méritos, em mescla
De todos os absurdos iridescentes.
Somos um erro. Sempre um erro. Sem conserto,
Ao que tudo indica. Desde a morte séria
De Antígona à ratoeira de Hamlet. Ao peso
Da existência de algum Buendía. Aos sem
Expectativa de nada. Ao silêncio
De tudo que tudo represente.
Ao horror mesmo.
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