domingo, 21 de maio de 2017

Adriano Nunes: "Chuvosa manhã"

"Chuvosa manhã"


Não há mesmo pensar que não te sinta,
Ó molhada manhã! Tudo se esvai
Com as águas da chuva, até meus ais!
Que ilusões poderás tanto ainda?

Será que assim darás à vida mais
Do que espera e atenção ou, na berlinda
Dos acasos do olhar, tiras a tinta
Das paredes, o sol que do ver sai?

Ah, miríade móvel de esperança,
Ah, gota de devir que a alma alcança,
Como métrica dar ao que não finda?

Como ao verso lançar tua beleza
E, aquosa e acesa, atá-la à correnteza
Do agora que me afaga e me distrai?