"A sorte de ser ninguém" - para o poeta português, meu amigo Tiago Torres da Silva
Nesta tarde de nada mesmo importar,
Poderia tecer outro soneto
De amor ou de ilusão, criar um mar
De imagens sem fim, de mim repleto,
Ou, quem sabe, a canção que, já no ar,
Deixa-se desfazer, por ser, decerto,
O certo a acontecer, para alargar
O lugar do devir, estar desperto.
Ah, fome de ninguém ser desde já!
Ah, gozo de ninguém ser por completo!
Dize-me, coração, ser em que dá?
Nesta tarde de vácuos, sou objeto
Das minhas esperanças, obsoleto,
A sorte de ninguém ser, aqui, lá.
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