"E há muitos dragões raivosos em vigília lá fora" - Para José Mariano Filho
O melhor tempo,
Este que nos causa ácido tormento,
Que nos arranca a raiva e as sobras do sono e
Revela-nos o vulto astuto da morte,
Que nos devolve os ruídos e as raízes
De sermos nós, que nos resgata do ignoto
Relógio de quaisquer instantes e alerta-nos
Sobre a vida que se fora, que se quis,
Que já não vinga, o que nos conforta, por
Ter-nos num êxtase de existir, o agora.
O melhor tempo,
Este que nos lança além e mais e ainda,
Que nos consome, a sós, inclusos e cerca-nos
E prende-nos em seu cárcere de escombros
Íntimos, que nos interpreta e concebe-nos
Feito cópia, que nos vive, que nos poda,
Este que nos surpreende na chance última,
Que nos doma, que nos contrata e despede,
Este que nos desvencilha das ideias
E furta-nos a essência de um sentimento.
Não precisará haver mais outro tempo.
Não será o tempo T nem a ilusão
Das convenções sobre o amor ou sobre isso.
O tempo-tempo, o tempo-mor, outro tempo.
Tempo que nos faz sangrar pelas mulheres
De Auschwitz, pelas crianças sem vez ou voz.
Oito horas, e a noite despenca pétrea.
Oito horas, e não basta o que nos pesa.
Há muitos dragões raivosos em vigília
Lá fora, porque este é o melhor tempo.
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