domingo, 1 de abril de 2012

Adriano Nunes: "convocação"

"convocação"


mesmo não se
sabendo a que,
em qual data,
em qual lugar,
se em alto
mar, prédio, ponte ou praça,
se sob a mirada do sol,
se sobre tapetes da pérsia,
se lá na pedra da gávea
ou na grande muralha.
vieram

os velhos, trôpegos,
co'os restos mortais das ilusões,
homens viris, de bíceps fortes,
mandíbulas moldadas, barbados,
crianças, muitas crianças, todas,
talvez. festa e brincadeira?
périplo? préstito fúnebre?
carnaval? jovens de tez firme,
uns alegres, outros cansados
da mesma alegria.
vieram

os porcos, as vacas, os bichos
de casa. mesmo não se
sabendo pra que, em qual hora,
com que sentido,
se apenas isso ou o in-
finito, ali, ao longe, além, pra quem?
se sob a mirada do caos,
se sobre a areia do saara,
se lá no teatro colón ou
num puteiro em guadalajara.
vieram

oxímoros, óxidos de silêncios
íntimos, paradoxos,
proteus, protótipos, catarses,
anamneses, ditos repetidos,
imagens, miragens, mixagens,
dragões, libélulas loucas, cactos vítreos,
vícios ( eu os vi!)
conchavos, perigos, instintos,
lances, libidos, sonhos,
não se sabendo
o porquê.

assim, tudo...
público, explícito,
dissecado, expulso, revirado,
numa algaravia ululante,
numa babel quântica,
porque tinham anunciado,
porque era preciso
que todos dessem por isso,
mesmo não se
sabendo no que daria
o chamado da poesia.




Um comentário:

Unknown disse...

Meu Deus, Adriano!

Ainda bem que vim para a convocação.

Entendi todo o saber poético que você tão bem descreveu,

In finito.

Beijos

Mirze