"Ele estava triste" - para a minha amada mãe
Ele estava triste.
Muito triste. Disse-me a
Voz veraz da velha,
Que em si se valia
De, enfim, roçar a
Tez da poesia.
Porventura, só
Após anos e
Anos, entre riscos,
Rascunhos e regras,
Resquícios de prantos
E papéis sangrando
Tédios e romances
Que não davam certo,
Só depois de tanto
Reler e imergir
Naquilo que não
Teria sentido,
Sentiu um aperto
No peito, um estrondo
No íntimo, um frio,
Outro calafrio
A alastrar-se, rápido,
Pelo corpo todo,
Dos pequenos pés
Aos frouxos finíssimos
Fios do cabelo
Aparado, negro,
Como se estivesse
Ante o grã mistério.
Ele dependia
Da vista sem cárceres
E amarras, da vida
Que o impregnava, nítida,
Palavras e enigmas,
Êxtase e palavras.
- A janela e tudo
Que vinga através
Dela - a expectativa
De entregas intensas,
Quimeras sem vez,
Vontades sem voz,
Sombras sem sossego,
Ao espelho, defronte.
Não era ninguém.
Ninguém o notava.
Ele estava triste...
Muito triste, disse-me
A velha que se
Valia do sol
Da vasta alegria
De tê-lo adorado.
A janela, e tudo
Que vinga através...
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