sexta-feira, 13 de abril de 2012

Adriano Nunes: "Ele estava triste" - para a minha amada mãe

"Ele estava triste" - para a minha amada mãe



Ele estava triste.
Muito triste. Disse-me a
Voz veraz da velha, 

Que em si se valia
De, enfim, roçar a

Tez da poesia.

Porventura, só
Após anos e 

Anos, entre riscos,
Rascunhos e regras,
Resquícios de prantos
E papéis sangrando 


Tédios e romances 
Que não davam certo,
Só depois de tanto
Reler e imergir
Naquilo que não
Teria sentido,


Sentiu um aperto

No peito, um estrondo
No íntimo, um frio,
Outro calafrio
A alastrar-se, rápido,
Pelo corpo todo,

Dos pequenos pés
Aos frouxos finíssimos 

Fios do cabelo
Aparado, negro,
Como se estivesse
Ante o grã mistério.

Ele dependia
Da vista sem cárceres

E amarras, da vida 
Que o impregnava, nítida,
Palavras e enigmas,

Êxtase e palavras.

- A janela e tudo
Que vinga através 

Dela - a expectativa 
De entregas intensas,
Quimeras sem vez,
Vontades sem voz,


Sombras sem sossego,
Ao espelho, defronte.
Não era ninguém.
Ninguém o notava.
Ele estava triste...
Muito triste, disse-me


A velha que se 

Valia do sol 
Da vasta alegria
De tê-lo adorado.
A janela, e tudo
Que vinga através...

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