"Ars Poética" - Rafael Cadenas
Que cada palabra lleve lo que dice.
Que sea como el temblor que la sostiene.
Que se mantenga como un latido.
No he de proferir adornada falsedad ni poner tinta dudosa ni añadir
brillos a lo que es.
Esto me obliga a oírme. Pero estamos aquí para decir verdad.
Seamos reales.
Quiero exactitudes aterradoras.
Tiemblo cuando creo que me falsifico. Debo llevar en peso mis
palabras. Me poseen tanto como yo a ellas.
Si no veo bien, dime tú, tú que me conoces, mi mentira, señálame
la impostura, restriégame la estafa.
Te lo agradeceré, en serio.
Enloquezco por corresponderme.
Sé mi ojo, espérame en la noche y divísame, escrútame, sacúdeme.
"Arte Poética"
(Tradução de Adriano Nunes)
Que cada palavra leve o que diz.
Que seja como o tremor que a sustenta.
Que se mantenha tal qual um ritmo.
Não hei de proferir adornada falsidade nem pôr tinta duvidosa nem agregar
brilho ao que é.
Isso me obriga a ouvir-me. Mas estamos aqui para dizer a verdade.
Sejamos reais.
Quero exatidões assustadoras.
Tremo quando penso que me falsifico.
Devo considerar minhas
palavras. Possuem-me tanto como eu a elas.
Se não vejo bem, dize-me tu, tu que me conheces, minha mentira, mostra-me
a impostura, esfrega-me a fraude.
Agradecer-to-ei, é sério.
Enlouqueço por corresponder-me.
Sê meu olho, espera-me na noite e divisa-me, escruta-me, sacode-me.
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