segunda-feira, 5 de junho de 2017

"Entrevista com Frejat" (por Adriano Nunes)

"ENTREVISTA COM FREJAT" (por Adriano Nunes)



Para dar uma pequena introdução, Frejat é um dos grandes, um dos maiores compositores/cantores brasileiros, autor de belíssimas canções. Viva Frejat!

1) Quando se deu a consciência reflexiva de que música estava definitivamente ligada à sua existência?

Muito cedo, desde muito novo comecei a comprar discos e ouvir música de uma forma bastante atenta, acho que de uns dez anos em diante isso se cristalizou no fato de eu me tornar um ávido consumidor de discos e com o tempo ampliei os meus interesses iniciais do rock para outras formas de música, mas ter certeza que era isso que eu queria fazer na vida acho que só a partir dos dezesseis, dezessete anos, mesmo assim, sem ter a menor ideia de como isso aconteceria.

2) Como se deu a amizade com os integrantes do Barão Vermelho? Como surgiu a ideia da banda?
Fui convidado a participar de um evento que o Guto e o Maurício tinham marcado para a apresentação da banda que estavam formando, esse foi o motivo para o meu encontro com eles e o Dé, e também para a chegada do Cazuza uma ou duas semanas depois, assim se formou o núcleo original do Barão Vermelho.
Não os conhecia anteriormente, com exceção do Dé que cursava a mesma escola de música que eu.
Fui indicado por um amigo em comum chamado Edon de Oliveira, um grande guitarrista, por sinal.

3) Como era compor com Cazuza? Que fatos marcantes, durante as composições, você poderia dizer como memoráveis e impactantes para a sua vida pessoal?

Nós dois nos descobrimos compositores juntos e havia claramente o deslumbramento de perceber que estávamos fazendo algo que tinha consistência, mas era totalmente novo para nós dois.
Acho que a nossa alegria ao terminar essas canções era imensa e isso certamente fortaleceu a nossa amizade e a levou a um nível muito especial.

4) Até que ponto confundem-se o artista e o cidadão Roberto Frejat?

Acho que tem muitos pontos em comum, mas eu não saberia dizer quais são. risos
É muito difícil você não refletir nas suas canções a sua maneira de pensar, por outro lado, existe claramente o personagem de cada música e ele não sou eu.

5) Em 2001, você lançava "Amor pra recomeçar" que impulsionaria a sua carreira solo. De lá para cá, que mudanças aconteceram em seu modo de compor e ver-se artista?

Acho que tenho mais conhecimento do ofício e pude apresentar algumas canções de forma diferente do contexto de uma banda de rock.
Aprendi a entender um pouco mais as minhas obrigações dentro do meu dia a dia.

6) Você já compôs com vários nomes consagrados da música brasileira. Que composições e parceiros você toma como fundamentais para a completitude de sua obra?

Nomear uns em detrimento de outros seria muito constrangedor e indelicado.
Eu tenho um carinho enorme por todos os meus parceiros, pois dividir uma parceria é muito mais profundo que o resultado final, tudo que acontece no meio do processo da criação de uma canção também tem uma importância muito grande.
Tenho parceiros que trabalhei com mais frequência e isso torna nossa parceria mais visível, mas tenho um sentimento profundo por todos eles, inclusive você.

7) Você compôs "Bagatelas" com o filósofo e poeta Antonio Cicero. É uma belíssima canção. Como se deu a parceria e a composição?

Ela aconteceu imediatamente após a saída do Cazuza da banda. A maneira que encontrei para ocupar o espaço de letrista que ele exercia na banda com tanta qualidade.
Fui atrás de quem poderia me dar letras de qualidade para musicar e o Cícero foi uma dessas pessoas.
Agora recentemente fizemos outra, desta vez com Mauro Santa Cecília também na parceria, que ainda está inédita, mas brevemente devo gravá-la

8) O Mauro Sta Cecília tornou-se um parceiro constante e, juntos, vocês fizeram grandes sucessos musicais, sendo elogiadas essas composições tanto pelo público quanto pela crítica. Como é compor com Mauro? Como se deu essa bela amizade? Parece haver uma relação familiar entre vocês e suas respectivas famílias. Seus filhos são músicos e tocam juntos, certo?

Eu e Mauro fomos colegas de turma durante alguns anos e mantivemos nossa amizade mesmo depois de pararmos de estudar juntos.
Nossa parceria é fruto de muitas conversas e pensamentos convergentes, além da sensibilidade de cada um que estimula o parceiro a fazer algo à altura do que está sendo proposto.
Hoje além de parceiros musicais, temos a alegria de assistir a parceria dos nossos filhos numa banda muito legal que se chama Amarelo Manga.

9) Vê-se que você é admirado por jovens e pelos fãs da época do Barão. Como você explicaria tal fenômeno e o que ele representa para o Frejat?

Não tenho explicação, mas acredito que seja pelo fato do discurso não ficar datado.
Isso me traz uma alegria enorme e me considero presenteado por ter esse tipo de resposta de várias gerações, mas não faço isso premeditadamente,
até porque acho que seria impossível.

10) O que há de bom na nova música brasileira? Quem Frejat anda ouvindo?

Gosto da Céu, do The Baggios , de O Terno , Criolo, SILVA, não ouço mais coisas porque não tenho tido o tempo que gostaria para me atualizar.

11) E a poesia... Qual a sua relação com poetas e poemas? Que anda lendo o compositor?

Eu leio de forma dispersa. Adoro Quintana, Drummond, Manoel de Barros, Ricardo Chacal, os poetas beats e por aí vou.

12) Fizemos uma composição juntos. Como foi que aconteceu musicar um poema de um poeta alagoano, tão aparentemente distante do circuito artístico sul-sudeste?

Meu parceiro Mauro Santa Cecília me mostrou uma letra que tinha feito a partir de algo que você tinha escrito, não lembro se um poema ou um texto, eu gostei e disse que faria música para ela.
Algum tempo depois fiz e agora estou gravando.
Ela será lançada em breve junto com outra canção inédita.
Gosto muito da canção e estou tentando fazer um arranjo que lhe dê uma apresentação bonita.
13) Previsão de disco novo? E o show atual, em que se baseia, qual o formato?

Não pretendo lançar disco novo.
Penso em lançar músicas em grupos, como farei com essas duas em breve nas plataformas digitais, pois nesse momento, com exceção de um consumo de nicho como o vinil, não existe um formato físico que atenda o público de música.
Eu tenho dois shows que acontecem paralelamente: o "Frejat ao vivo", que é com minha banda e tem um conceito mais festeiro e dançante e o "Frejat voz e violão" que só faço em teatros com um repertório autoral que inclui músicas que nem sempre toquei ao vivo misturado com canções mais conhecidas.

14) O Brasil atual para Frejat: qual a sua visão político-crítica de tudo que está acontecendo?

A população tem obrigação de ficar atenta e mobilizada para que a classe política não faça mal maior ao país, pois nesse momento só se mobilizam para resolver seus problemas e não os interesses nacionais.
A necessidade de novos nomes é urgente, e temos de ficar atentos para não dar espaço para os "salvadores da pátria".
Não se constrói um país numa década, mas pelo menos o caminho certo tem de ser escolhido, caso contrário , anda-se para o lado errado que é o que fizemos e ainda não conseguimos resolver de forma definitiva.
Isso é motivo de muita angústia para mim, pois sempre acreditei no potencial do país de se tornar uma grande força mundial, mas acho que perdemos a grande chance e agora temos que colocar as coisas nos lugares certos.


Obrigado, grande amigo! Beijos mil
Adriano Nunes


Nenhum comentário: