quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Adriano Nunes: "O corpo de Lorca"

"O corpo de Lorca" 



Entre Vísnar e Alfacar
Ou num distinto lugar
Deve encontrar-se o teu corpo,
Ó, poeta. Aquele agosto
Repleto de agouros era
O que a ardilosa megera
Queria pra arrebatar-te, 
Pois, ela, por tua arte
Estava muito encantada,
Desde o primordial ano
Do Romancero gitano.
Ela: sempre astuciosa,
Nada prega, pesa ou dosa.
Ela: politicamente
Perversa, faz-se presente.
A filha do inesperado,
Átropos, tem a seu lado
Sempre uma carta na manga.
Na verdade, guarda tantas
Quanto necessário for.
Deleita-se com a dor
Alheia. E assim corta o fio
Da esperança, com ardil,
Do que passou a existir.
E não está nem aí.
Entre Vísnar e Alfacar
Ou num distinto lugar
Deve encontrar-se o teu corpo,
Poeta. Qual os de outros
Fuzilados. E em teus versos
Encontro-me mesmo imerso.
Chego a ter medo e arrepios.
"Frío, frío, como el agua
Del río."O corpo é nada.





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