domingo, 10 de março de 2013

Adriano Nunes: "À frágil existência" - Para o meu amado amigo Lêdo Ivo

"À frágil existência" - Para o meu amado amigo Lêdo Ivo


Saudade.
Agora bem sei
O que é isso
A infiltrar-se no âmago
De tudo,
A fincar-se nas frestas do tempo,
A fundir-se friamente
À frágil existência,
A ferir-me a fundo,
A desfazer a face
Ante a lágrima que cai.

As conversas ignotas,
Os versos em volta, à tez do íntimo,
As regras, as receitas astuciosas,
As reservas todas,
As buscas semânticas abruptas,
A lição que salva...
Ai, saudade magna!
Agora me abrigo na gaiola dos sonhos,
Nas correspondências do silêncio,

Na tentativa viva
De encontrar-te
Numa tarde qualquer.
Quem irá ler o inacabado
Poema que quer vir à tona?
Quem irá
Adotar-me
Como fizeste?
Eu não te perdi.
Ouço-te.
Ó mar de memória e amor!

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