"Quimeras e riscos"
A infância era ser
Menino invisível,
Menino biônico,
Quatro quarteirões
E um osso quebrado.
Não havia medo,
Somente o desejo
De ser. E eu era
Um pirata, um náufrago
Sobre o antigo mapa.
O sol do sertão
Quanto me abrigava!
Existira em mim
A felicidade,
Não essa migalha
De riso contido.
Nunca almejei outro
Céu senão o de
Giz da amarelinha,
A inocência minha.
Meu mar imponente,
O Velho Francisco,
As praças, o Bráulio,
O Ginásio, o asfalto
Em brasa, as manhãs
Na feira, à procura
De coquinhos e
Muitas sementes
De mucunãs, para
Brincar bem à porta,
Eu e minha irmã.
Era tudo um jogo
Para o alto, um rito,
Um desinteresse
De louros e leis.
Desfeito de mim,
Forte me amalgamo
Na memória, ao tanto
De vestígio e sombras
Que me emocionam.
As idas a pé
Às entranhas do
Parujé, às brenhas
Da lagoa, atrás
Das aves nos ninhos,
Pra criar em casa,
Com arroz moído
E papa no bico.
Quimeras e riscos
Até quase os cinco.
Depois, o contato
inaugural com
A palavra, o íntimo.
A grã descoberta
De ser um poeta.
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