terça-feira, 4 de junho de 2013

Alfonso Reyes: "Arte"

"Arte" (Tradução de Adriano Nunes)


Perfeita rosa que adoro
e em suas pét'las de vento
carrega os aromas mudos,
os vórtices soma quietos.

Cifra e cápsula de mundos
que em mil anos de segredo
juntado houvera os arroubos
de luas e de mistérios.

Úmida como criada,
fugitiva como sonho,
como iluminações rápida,
medrosa como o olhar perto:

Se a desvanecer-te vais
em todo aperto do peito
bebe antes em meu sangue
o sal todo que te devo.

Leva-te meu ser ao fundo
de teus abismos de céu:
não me deixes neste mundo
cativo de meus desejos.

Signo sou de tua conta,
Dança de teu movimento,
e ao instante que teu reboque,
âmbito sou de teu voo.

Quando aspiras, quando sobes,
pássaro de sentimento,
para encher tuas auroras
a luz não possui sustento.

Uma legenda de sábios
que muito faz estou lendo
te esconde como mentira,
te despreza como conto.

Mas eu que tuas leis sigo
e em teus ares me governo,
sei que nos usos da alma
és o emprego mais perfeito:

Que és, assim como a música,
doce plenário do tempo,
e mestra em acomodar
a voz com o pensamento.

Que vives de não viver
em outro viver mais certo:
sede insaciável d'água
que não bebe seu elemento.

Perfeita rosa que adoro:
pra implorar-te não encontro
senão medir as palavras
com as batidas do peito.



Alfonso Reyes: "Arte"



Arte 



Perfecta rosa que adoro
y en sus pétalos de viento
lleva las aromas mudas,
suma los vórtices quietos.

Cifra y cápsula de mundos
que en mil años de secreto
ha juntado los arrobos
de lunas y misterios.

Húmeda como creada,
fugitiva como sueño,
como las vislumbres rauda,
miedosa como el acecho:

Si a desvanecerte vas
en los ahogos del pecho,
bebe antes en mi sangre
toda la sal que te debo.

Llévate mi ser al fondo
de tus abismos de cielo:
no me dejes en el mundo
cautivo de mis deseos.

Número soy de tu cuenta,
danza de tu movimiento,
y a la vez que tu remolque,
ámbito soy de tu vuelo.

Cuando aspiras, cuando subes,
alondra de sentimiento,
para saciar tus auroras
la luz no tiene sustento.

Una leyenda de sabios
que hace mucho estoy leyendo
te esconde como mentira,
te desaira como cuento.

Mas yo que tus leyes sigo
e en tus aires me gobierno,
sé que en los usos del alma
eres el uso perfecto:

Que eres, como la música,
dulce plenitud del tiempo,
y maestra en ajustar
la voz con el pensamiento.

Que vives de no vivir
en otro vivir más cierto:
insaciable sed del agua
que no bebe su elemento.

Perfecta rosa que adoro:
para implorarte no encuentro
sino medir las palabras
con los latidos del pecho.

(México, 1940)




REYES, Alfonso. Antología Cátedra de Poesía de las Letras Hispánicas. Selección e introducción de José Francisco Ruiz Casanova. Madrid: Ediciones Cátedra, 2005, pp. 627-8.

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