"O espantalho" - Para Antonio Cicero
Não mais tenho os meus
Artelhos de palha
Velha, nem a mente
A voar co' os corvos.
Quase a chuva e sol
Cegaram-me. Uns pelos,
Do espelho de orvalho,
Vão-se, longe, sinto-os,
De mim, como folhas
Que levar se deixam,
Além, espalhando-me.
Sou esta fagulha
Que aos poucos se esvai,
Tralha sobre tralha,
Trapo sobre trapo...
Perdi-me, entre agulhas,
As pilhas de milhos,
As ilhas de emendas,
As trilhas das traças
E o que partilhei
Com todos, meu ser
De pano e propósito,
O espantalho à espera
Da grã primavera.
Abro bem os braços
E em mim embaralho-me.
Um dia terei
Cabelos grisalhos?
Espanto-me. Encanto-me.
Em um salto mágico,
Todo o cosmo varro, e a
Dizer que me adora
Ouço o vento agora.
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