"Vai entender a vida" - Para Airton Souza
Para ele seria
Ululante alegria
Um gramofone ver,
Ter o imenso prazer
D' ir um dia ao cinema.
Seria até poema.
Ó pândego destino
Em que se é figurino
Apenas! Como expondo o
Fato, visto em Macondo,
Assustador parece!
No séc'lo vinte e um,
Gramofone e cinema,
Pra alguns, tão incomum!
quarta-feira, 30 de abril de 2014
Arnaldo Antunes recitando o poema "Noite Avlsa" do poeta Adriano Nunes
Arnaldo Antunes recitando "Noite Avulsa" poema do livro "Antípodas Tropicais" (Vidráguas, 2014) do poeta Adriano Nunes.
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domingo, 27 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Da saudade que me deixas"
"Da saudade que me deixas"
Só, no quarto, antigas queixas
Invadem-me, e, irrelutante
Da saudade que me deixas,
Como fugir desse instante?
Rasteja a noite qual lesma,
E, entre leis e liames
Íntimos, verte-se a mesma
Lábia em lida: 'não me ames
Além nem te comprometas
Co' a infinitude que ao alcance
Está do olhar, feito as retas
Paralelas que, em um lance
Repentino do pensar,
Podem mesmo se encontrar'.
Só, no quarto, antigas queixas
Invadem-me, e, irrelutante
Da saudade que me deixas,
Como fugir desse instante?
Rasteja a noite qual lesma,
E, entre leis e liames
Íntimos, verte-se a mesma
Lábia em lida: 'não me ames
Além nem te comprometas
Co' a infinitude que ao alcance
Está do olhar, feito as retas
Paralelas que, em um lance
Repentino do pensar,
Podem mesmo se encontrar'.
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William Blake: "Ah! Sun-flower"
Ah Girassol! (Tradução de Adriano Nunes)
Ah Girassol!
Ah Girassol! fatigado do instante,
Que enumeras do Sol todos os passos,
Em busca do suave clima áureo
Onde se dera a marcha do viajante;
Onde a Juventude imergira em ânsia,
E de neve vestiu-se a Virgem lívida:
Ergue-te de teus jazigos e aspira,
Onde meu Girassol a ir se lança.
William Blake: "Ah! Sun-flower"
Ah! Sun-flower
Ah Sun-flower! weary of time,
Who countest the steps of the Sun:
Seeking after that sweet golden clime
Where the travellers journey is done.
Where the Youth pined away with desire,
And the pale Virgin shrouded in snow:
Arise from their graves and aspire,
Where my Sun-flower wishes to go.
BLAKE, William.The Complete Poetry & Prose of William Blake". Edited by David V. Erdman and commentary by Harold Bloom. Los Angeles: University California Press, 2008.
Ah Girassol!
Ah Girassol! fatigado do instante,
Que enumeras do Sol todos os passos,
Em busca do suave clima áureo
Onde se dera a marcha do viajante;
Onde a Juventude imergira em ânsia,
E de neve vestiu-se a Virgem lívida:
Ergue-te de teus jazigos e aspira,
Onde meu Girassol a ir se lança.
William Blake: "Ah! Sun-flower"
Ah! Sun-flower
Ah Sun-flower! weary of time,
Who countest the steps of the Sun:
Seeking after that sweet golden clime
Where the travellers journey is done.
Where the Youth pined away with desire,
And the pale Virgin shrouded in snow:
Arise from their graves and aspire,
Where my Sun-flower wishes to go.
BLAKE, William.The Complete Poetry & Prose of William Blake". Edited by David V. Erdman and commentary by Harold Bloom. Los Angeles: University California Press, 2008.
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sábado, 26 de abril de 2014
Antonio Machado: "Llamó a mi corazón, un claro día"
"Chamou meu coração, um claro dia," (Tradução de Adriano Nunes)
LXVII
Chamou meu coração, um claro dia,
com um perfume de jasmim, o vento.
-Em troca deste aroma,
todo o aroma de tuas rosas quero.
-Eu não tenho rosas; flores
em meu jardim não há; todas morreram.
Levarei comigo os prantos das fontes,
as folhas amarelas e as mirradas pétalas.
E o vento fugiu ... Meu coração sangrava ...
Alma, o que tens feito de teu pobre horto?
Antonio Machado: "Llamó a mi corazón, un claro día"
LXVII
Llamó a mi corazón, un claro día,
con un perfume de jazmín, el viento.
—A cambio de este aroma,
todo el aroma de tus rosas quiero.
—No tengo rosas; flores
en mi jardín no hay ya; todas han muerto.
Me llevaré los llantos de las fuentes,
las hojas amarillas y los mustios pétalos.
Y el viento huyó... Mi corazón sangraba...
Alma, ¿qué has hecho de tu pobre huerto?
MACHADO, Antonio. Poesías completas. Madrid: Publicaciones de la Residencia de Estudiantes, 1917, p. 89-90.
LXVII
Chamou meu coração, um claro dia,
com um perfume de jasmim, o vento.
-Em troca deste aroma,
todo o aroma de tuas rosas quero.
-Eu não tenho rosas; flores
em meu jardim não há; todas morreram.
Levarei comigo os prantos das fontes,
as folhas amarelas e as mirradas pétalas.
E o vento fugiu ... Meu coração sangrava ...
Alma, o que tens feito de teu pobre horto?
Antonio Machado: "Llamó a mi corazón, un claro día"
LXVII
Llamó a mi corazón, un claro día,
con un perfume de jazmín, el viento.
—A cambio de este aroma,
todo el aroma de tus rosas quiero.
—No tengo rosas; flores
en mi jardín no hay ya; todas han muerto.
Me llevaré los llantos de las fuentes,
las hojas amarillas y los mustios pétalos.
Y el viento huyó... Mi corazón sangraba...
Alma, ¿qué has hecho de tu pobre huerto?
MACHADO, Antonio. Poesías completas. Madrid: Publicaciones de la Residencia de Estudiantes, 1917, p. 89-90.
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quarta-feira, 23 de abril de 2014
Adriano Nunes: "De ti, antes que a hora se revele"
"De ti, antes que a hora se revele"
Agora, à noite,
Resta a noite, e todo o olvido a valer-se
Do que me sinto, dando voltas e
Voltas, adentro, no meu coração.
Porque é preciso apagar a saudade
De ti, antes que a hora se revele
Sol e promessa de lançar-me, carne e
Verso, à outra deliciosa tara,
Sem a desculpa inútil do que serve
Pra dar ao existir seu ar bruto e breve,
Voz àquilo que em mim me amalgamara.
Agora, à noite,
Resta o aperto, e o veneno das vontades
De mar, de vingar mar, amor e noite.
Agora, à noite,
Resta a noite, e todo o olvido a valer-se
Do que me sinto, dando voltas e
Voltas, adentro, no meu coração.
Porque é preciso apagar a saudade
De ti, antes que a hora se revele
Sol e promessa de lançar-me, carne e
Verso, à outra deliciosa tara,
Sem a desculpa inútil do que serve
Pra dar ao existir seu ar bruto e breve,
Voz àquilo que em mim me amalgamara.
Agora, à noite,
Resta o aperto, e o veneno das vontades
De mar, de vingar mar, amor e noite.
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Adriano Nunes: "Não me darás sossego?"
"Não me darás sossego?"
Posso descansar, verso?
Ou será que, nem mesmo
Ao sono fundo entregue,
Não me darás sossego?
Que te amo, é certo.
Mas por isso não vejo
Motivo de envolveres-me
Sem a mínima trégua, a
Necessária aos poetas.
Então bem acertemos:
Há problemas diversos
Que disputam meu cérebro,
Logo, livra-me deles,
Atira-me ao que tens
De alentos e excelência,
Devolve-me o meu ser,
Que onipresente aceito-te,
Dou-te a folha e a caneta,
Liberdades estéticas,
Mas sem amarras deixa-me!
Posso descansar, verso?
Ou será que, nem mesmo
Ao sono fundo entregue,
Não me darás sossego?
Que te amo, é certo.
Mas por isso não vejo
Motivo de envolveres-me
Sem a mínima trégua, a
Necessária aos poetas.
Então bem acertemos:
Há problemas diversos
Que disputam meu cérebro,
Logo, livra-me deles,
Atira-me ao que tens
De alentos e excelência,
Devolve-me o meu ser,
Que onipresente aceito-te,
Dou-te a folha e a caneta,
Liberdades estéticas,
Mas sem amarras deixa-me!
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terça-feira, 22 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Quer que eu muito o ame"
"Quer que eu muito o ame"
A todo instante um verso
Investiga-me, sonda-me,
Quer que eu muito o ame,
Que o alcance, em mim imerso.
De signos, um liame
Repentino, disperso
Em meu íntimo, um verso
Inconcebível toma-me.
Que mais pretende, ó verso,
Além de ser tatame
De sonhos, sol egresso
A reclamar-me: "ama-me!"?
Aflito, feliz, bem te digo
O quão és meu abrigo!
A todo instante um verso
Investiga-me, sonda-me,
Quer que eu muito o ame,
Que o alcance, em mim imerso.
De signos, um liame
Repentino, disperso
Em meu íntimo, um verso
Inconcebível toma-me.
Que mais pretende, ó verso,
Além de ser tatame
De sonhos, sol egresso
A reclamar-me: "ama-me!"?
Aflito, feliz, bem te digo
O quão és meu abrigo!
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Adriano Nunes: "Só"
"Só"
Sem sono, só
Com os sóis dos sentidos, de mim solto,
Sob o pétreo silêncio, sóbrio, só.
E a madrugada, agora,
Almejando um soneto ser, compondo,
Em meu coração tolo,
A vontade de dar aquela volta
Lá fora, além. Mas como?
Sem sono, só
Com os sumos dos sólidos
Desassossegos, sobras
De números e nós,
Sobre o alicerce utópico
De que o amor tudo pode.
Sem sono, só
Com os sóis dos sentidos, de mim solto,
Sob o pétreo silêncio, sóbrio, só.
E a madrugada, agora,
Almejando um soneto ser, compondo,
Em meu coração tolo,
A vontade de dar aquela volta
Lá fora, além. Mas como?
Sem sono, só
Com os sumos dos sólidos
Desassossegos, sobras
De números e nós,
Sobre o alicerce utópico
De que o amor tudo pode.
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segunda-feira, 21 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Ante a Musa preclara"
"Ante a Musa preclara"
Erato regressara!
Festejo c' os aedos,
À aurora, a lira rara,
Esqueço-me dos medos
Ante a Musa preclara.
O incêndio dos sentidos
A arder no coração
Dos tempos corroídos,
Vês? Entre sim e não,
O amor vinga escandido.
Que ululante alegria
Invade-me, bem sabes,
Quando a construir, dia
Após dia, a verdade,
Estou, como a queria!
Erato regressara!
Festejo c' os aedos,
À aurora, a lira rara,
Esqueço-me dos medos
Ante a Musa preclara.
O incêndio dos sentidos
A arder no coração
Dos tempos corroídos,
Vês? Entre sim e não,
O amor vinga escandido.
Que ululante alegria
Invade-me, bem sabes,
Quando a construir, dia
Após dia, a verdade,
Estou, como a queria!
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domingo, 20 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Do próprio coração" - Para a minha mãe
"Do próprio coração" - Para a minha mãe
Não, o poema não
Precisa ser rimado
Nem ter um ritmo exato,
Pra a sua construção.
Não, o poema não
Precisa ser moldado
Co' as regras do passado,
Ser soneto ou canção.
Não, o poema não
Precisa ser tomado
Pelo metro alinhado
Da clássica lição.
Não, o poema não
Precisa ter os traços
Do magnânimo Horácio,
A plena perfeição.
Não, o poema não
Precisa de embaraço
Nem de ver-se lançado
À crítica, à razão.
Porque os poemas são
Do âmago um estado -
Impossível pesá-los!
Ó quanta pretensão!
Do próprio coração
Os mágicos pedaços
Do poeta, arrancados,
Sim, os poemas são!
Não, o poema não
Precisa ser rimado
Nem ter um ritmo exato,
Pra a sua construção.
Não, o poema não
Precisa ser moldado
Co' as regras do passado,
Ser soneto ou canção.
Não, o poema não
Precisa ser tomado
Pelo metro alinhado
Da clássica lição.
Não, o poema não
Precisa ter os traços
Do magnânimo Horácio,
A plena perfeição.
Não, o poema não
Precisa de embaraço
Nem de ver-se lançado
À crítica, à razão.
Porque os poemas são
Do âmago um estado -
Impossível pesá-los!
Ó quanta pretensão!
Do próprio coração
Os mágicos pedaços
Do poeta, arrancados,
Sim, os poemas são!
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sábado, 19 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Reverenciando o que vinga adentro"
"Reverenciando o que vinga adentro"
O corpo sem uma mínima amarra,
Ante a certeza de que tudo acaba,
Dado ao álc'ol forte da solidão,
Aos remédios que gritavam à mão,
Aos desenganos e desassossegos,
Aos amores que pulsavam desfeitos,
Ao entendimento deturpado mesmo
Dos modos e medos, cruéis cordeiros
Que em lobos se vertiam, quem os sente?
Ao projétil parado de repente.
Depois, o susto, a mágoa, a vida dada
Para que a poesia desse as cartas
Do jogo, refazendo espaço e tempo,
Reverenciando o que vinga adentro.
O corpo sem uma mínima amarra,
Ante a certeza de que tudo acaba,
Dado ao álc'ol forte da solidão,
Aos remédios que gritavam à mão,
Aos desenganos e desassossegos,
Aos amores que pulsavam desfeitos,
Ao entendimento deturpado mesmo
Dos modos e medos, cruéis cordeiros
Que em lobos se vertiam, quem os sente?
Ao projétil parado de repente.
Depois, o susto, a mágoa, a vida dada
Para que a poesia desse as cartas
Do jogo, refazendo espaço e tempo,
Reverenciando o que vinga adentro.
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sexta-feira, 18 de abril de 2014
Emily Dickinson: "That I did always love"
"De que sempre amei" (Tradução de Adriano Nunes)
De que sempre amei
Entrego-te a Prova
O que até amei
Nunca vivi - pleno -
Entrego-te a Prova
O que até amei
Nunca vivi - pleno -
Que sempre amarei -
A ti manifesto
Que é o amor vida -
E a vida é Infinda -
A ti manifesto
Que é o amor vida -
E a vida é Infinda -
Meu bem - se duvidas -
Não tenho de fato
Nada a revelar
Somente o Calvário -
Não tenho de fato
Nada a revelar
Somente o Calvário -
Emily Dickinson: "That I did always love"
That I did always love
I bring thee Proof
That till I loved
I never lived—Enough—
I bring thee Proof
That till I loved
I never lived—Enough—
That I shall love alway—
I argue thee
That love is life—
And life hath Immortality—
I argue thee
That love is life—
And life hath Immortality—
This—dost thou doubt—Sweet—
Then have I
Nothing to show
But Calvary—
Then have I
Nothing to show
But Calvary—
DICKINSON, Emily. The Complete Poems of Emily Dickinson. Edited by Thomas H. Johnson. New York: Little, Brown and Company, 1960.
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TRADUÇÃO
Esther Mathews: "Song"
"Canção" (tradução de Adriano Nunes)
Eu não posso estar falando de amor, querido,
Eu não posso estar falando de amor.
Se há algo que eu não posso expor
Esse algo só pode ser o amor.
Mas isso não diz que a amar não estou -
Água mansa tem grã vigor, tu sabes,
E eu devo estar amando tanto, querido,
Em meu descanso devo estar a amar-te.
Mas não posso estar falando de amor, querido,
Eu não posso estar falando de amor,
Se há algo que eu não posso expor
Esse algo só pode ser o amor.
Esther Mathews: "Song"
Song
I can't be talkin' of love, dear,
I can't be talkin' of love.
If there be one thing I can't talk of
That one thing do be love.
But that's not sayin' that I'm not lovin' --
Still water, you know, runs deep,
An' I do be lovin' so deep, dear,
I be lovin' you in my sleep.
But I can't be talkin' of love, dear,
I can't be talkin' of love,
If there be one thing I can't talk of
That one thing do be love.
MATHEWS, Esther. "Song". In: The New Pocket Anthology of American Verse From Colonial Days to the Present. An Anthology Edited by Oscar Williams New York: Washington Square Press, 1967, p. 303.
Eu não posso estar falando de amor, querido,
Eu não posso estar falando de amor.
Se há algo que eu não posso expor
Esse algo só pode ser o amor.
Mas isso não diz que a amar não estou -
Água mansa tem grã vigor, tu sabes,
E eu devo estar amando tanto, querido,
Em meu descanso devo estar a amar-te.
Mas não posso estar falando de amor, querido,
Eu não posso estar falando de amor,
Se há algo que eu não posso expor
Esse algo só pode ser o amor.
Esther Mathews: "Song"
Song
I can't be talkin' of love, dear,
I can't be talkin' of love.
If there be one thing I can't talk of
That one thing do be love.
But that's not sayin' that I'm not lovin' --
Still water, you know, runs deep,
An' I do be lovin' so deep, dear,
I be lovin' you in my sleep.
But I can't be talkin' of love, dear,
I can't be talkin' of love,
If there be one thing I can't talk of
That one thing do be love.
MATHEWS, Esther. "Song". In: The New Pocket Anthology of American Verse From Colonial Days to the Present. An Anthology Edited by Oscar Williams New York: Washington Square Press, 1967, p. 303.
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quinta-feira, 17 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Pelo canto" - Para Arnaldo Antunes
"Pelo canto" - Para Arnaldo Antunes
ahl !o-o! lho
o olh
o am
al ga
ma a g
asa
lha
todos em
um
o olh
o am
al ga
ma a g
asa
lha
todos em
um
a
arma d
ilha: o outro
pelo outro
dentro
por
dentro
pela
pupila
arma d
ilha: o outro
pelo outro
dentro
por
dentro
pela
pupila
que palpita
pelo prisma
cristalino
pelo lábio
do sulco
calcarino
pela frente
pela
lente
pelo prisma
cristalino
pelo lábio
do sulco
calcarino
pela frente
pela
lente
di ver gente.
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Adriano Nunes: "Ars Poetica"
"Ars Poetica"
Componho-te,
Assim,
Poema.
És um sonho,
És um sol,
És a soma
De sombras e rasuras
Sem fim.
E as sobras dos assombros
Em mim.
Amplidão pura.
Medusa dada aos seus
Desejos, preparada para ser
Degolada
Por Perseu.
Outra forma
À espreita de Proteu.
Componho-te,
Assim,
Poema.
És um sonho,
És um sol,
És a soma
De sombras e rasuras
Sem fim.
E as sobras dos assombros
Em mim.
Amplidão pura.
Medusa dada aos seus
Desejos, preparada para ser
Degolada
Por Perseu.
Outra forma
À espreita de Proteu.
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quarta-feira, 16 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Do labor estético" - Para Alberto Lins Caldas
"Do labor estético" - Para Alberto Lins Caldas
Entrego-me ao verso,
Como aos ares Pégaso.
Liberto de mim,
Além dos confins
Do labor estético
Como aos ares Pégaso.
Liberto de mim,
Além dos confins
Do labor estético
Voo. Alegre, indago-me:
Serei mesmo o bardo
Que em si já não cabe
Por ser ecos tantos,
Propósito e arte,
Serei mesmo o bardo
Que em si já não cabe
Por ser ecos tantos,
Propósito e arte,
Infinitos cantos
Alheios, poemas
Que me leem e amo,
Que em meu olhar ardem,
Vácuos e vontades?
Alheios, poemas
Que me leem e amo,
Que em meu olhar ardem,
Vácuos e vontades?
Ou tudo é saudade
De um tempo que foi
Meu e em mim se deu
Perdido, por ter
Sido eu, decerto,
De um tempo que foi
Meu e em mim se deu
Perdido, por ter
Sido eu, decerto,
Quando era para
Arrancar a máscara
De mim e enfim ser
O autêntico, o outro,
Os poetas todos?
Arrancar a máscara
De mim e enfim ser
O autêntico, o outro,
Os poetas todos?
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terça-feira, 15 de abril de 2014
Crítica sobre a minha poesia feita por poetas e críticos aclamados
Estimados amigos, convido-os para a leitura de fragmentos de textos críticos sobre a minha poesia escritos por poetas/críticos aclamados:
"Gostei muito de todos os seus poemas. 'De repente' surpreende op-poema." Augusto de Campos
"Adriano Nunes faz do poema um trabalho do pensamento que é pura beleza e deleite. Uma guerrilha prazerosa e uma poética que já no seu começo se apresenta madura e inescapável." Alberto Lins Caldas
"É impressionante a desenvoltura com que Adriano Nunes passeia pelo amplo repertório de formas, sempre com competência e intimidade no trato com a linguagem, mantendo ao mesmo tempo uma voz própria, original, cheia de belos achados." Arnaldo Antunes
"Não tendo a menor dúvida de que Adriano Nunes é um dos mais expressivos poetas de sua geração ou de que, livre de amarras, dogmas, ideologias e escolas, Laringes de grafite é um dos mais belos livros de poemas dos últimos tempos." Antonio Cicero
"Se fosse um verso, Antípodas tropicais teria sete sílabas. E é no andamento do verso curto que Adriano Nunes, neste novo livro, alcança excelentes resultados. Nele avulta a rigorosa consciência da forma não apenas em seus sinais externos – a consistente prática do soneto, por exemplo – mas no domínio rítmico, na amplitude vocabular. Tudo isso, porém, ao largo do mero virtuosismo, pois Adriano conjuga a técnica a um efetivo e intenso temperamento lírico-meditativo, na insaciada e inestancável busca do outro, ainda que esse outro resida no próprio eu. A metalinguagem, que em muitos poetas se restringe a receitas domesticadas, em Antípodas tropicais comparece viva e vigorosa, lançando-se sem cessar ao “precipício de sentidos”, destinação derradeira de todo poema." Antonio Carlos Secchin
"Entre o passado que é presente e o presente que já é passado Adriano Nunes se movimenta: irônico, zombeteiro, desenvolto, comedidamente meigo, sensível às lições do espólio inumerável. Exibindo louvável jogo de cintura – que é uma das seduções desta coletânea de versos inaugurais – exibe e sua reflexão maliciosa, a sua habilidade irradiadora." Lêdo Ivo
"O poeta alagoano vem passando em revista as formas, as dicções, as épocas, as latitudes e longitudes, a poesia de ontem e também a de hoje. Seja como leitor, como tradutor ou como poeta, tudo faz parte do mesmo exercício: o seu exercício do fazer poético." Ricardo Silvestrin
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Adriano Nunes: "Sobre outro escândalo"
"Sobre outro escândalo"
Eu nunca quis pouco.
Nem as esmeraldas
Tão apreciadas,
Nem os diamantes
Tão inebriantes!
Os carros do ano,
Os castelos tantos,
Júpiter, Saturno,
Os mares profundos,
Ouro cem quilates,
Currículo Lattes...
Há muito sabia
Ser a poesia
O melhor tesouro!
Eu nunca quis pouco.
Nem as esmeraldas
Tão apreciadas,
Nem os diamantes
Tão inebriantes!
Os carros do ano,
Os castelos tantos,
Júpiter, Saturno,
Os mares profundos,
Ouro cem quilates,
Currículo Lattes...
Há muito sabia
Ser a poesia
O melhor tesouro!
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segunda-feira, 14 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Do que alcança a pena"
"Do que alcança a pena"
Nesta tarde tensa,
Qual palavra me
Poda, pesa e pensa,
Além do tatame
Da técnica atenta?
Somente a semente
Da grã paciência
Detém-me contente.
Entretanto, a ausência
De ti, signo, cega-me.
Eis que a redondilha
Que se faz presente,
Agora, em mim, leva-me
A seguir a trilha
Do que me atormenta.
Alarga-se o silêncio
Do que vinga adentro,
Nesta hora breve.
Que sentir sustenta
A existência plena?
Em contrapartida,
O mundo se finca
No estético flerte
Do poema e serve-se
Do que alcança a pena.
Nesta tarde tensa,
Qual palavra me
Poda, pesa e pensa,
Além do tatame
Da técnica atenta?
Somente a semente
Da grã paciência
Detém-me contente.
Entretanto, a ausência
De ti, signo, cega-me.
Eis que a redondilha
Que se faz presente,
Agora, em mim, leva-me
A seguir a trilha
Do que me atormenta.
Alarga-se o silêncio
Do que vinga adentro,
Nesta hora breve.
Que sentir sustenta
A existência plena?
Em contrapartida,
O mundo se finca
No estético flerte
Do poema e serve-se
Do que alcança a pena.
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Walt Whitman: "Youth, Day, Old Age and Night"
"Juventude, Dia, Velhice e Noite" (Tradução de Adriano Nunes)
Juventude, vasta, vigorosa, amável - juventude cheia de graça, força, fascinação,
Sabes que a Velhice pode vir depois de ti com igual graça, força, fascinação?
Sabes que a Velhice pode vir depois de ti com igual graça, força, fascinação?
Dia pleno e esplêndido - dia de imenso sol, ação, ambição, riso,
A Noite segue de perto com milhões de sóis, e sono e renovante treva.
A Noite segue de perto com milhões de sóis, e sono e renovante treva.
Walt Whitman: "Youth, Day, Old Age and Night"
Youth, Day, Old Age and Night
Youth, large, lusty, loving -- youth full of grace, force, fascination,
Do you know that Old Age may come after you with equal grace,
force, fascination?
Do you know that Old Age may come after you with equal grace,
force, fascination?
Day full-blown and splendid-day of the immense sun, action,
ambition, laughter,
The Night follows close with millions of suns, and sleep and
restoring darkness.
ambition, laughter,
The Night follows close with millions of suns, and sleep and
restoring darkness.
WHITMAN, Walt. The Complete Poems. New York: Penguin, 2005.
WHITMAN, Walt. Leaves of Grass. Philadelphia: DAVID McKAY, PUBLISHER,1891-'2, page 180.
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ADRIANO NUNES,
POEMA,
TRADUÇÃO,
WALT WHITMAN
domingo, 13 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Do existir o êxtase"
"Do existir o êxtase"
Provei da beleza,
Acho. Acabei de
Ler todas as Sátiras
E as Odes de Horácio.
Ó tempo por vir,
Ó mármore que
Passa! Tu, porém,
Verso, bem conténs
Do existir o êxtase
À prima palavra!
Pasmo, recomponho-me
Da contemplação,
Do infinito rítmico
Que tanto embaraça
O meu coração.
Os poetas não
Brincam em serviço.
Provei da beleza,
Acho. Acabei de
Ler todas as Sátiras
E as Odes de Horácio.
Ó tempo por vir,
Ó mármore que
Passa! Tu, porém,
Verso, bem conténs
Do existir o êxtase
À prima palavra!
Pasmo, recomponho-me
Da contemplação,
Do infinito rítmico
Que tanto embaraça
O meu coração.
Os poetas não
Brincam em serviço.
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Adriano Nunes: "Além da alegria"
"Além da alegria"
Desprende-se do báratro infinito
O azul da manhã.
O que tanto busca o meu coração
Nos velhos cadernos
De poemas, como se lá restassem
Minhas desventuras,
Os meus desejos, tudo que até ser
Eu pudera? Mas
Eis que, à janela, vem o livre voo
De algumas libélulas,
E, assim, faz-se ululante a primavera
Que ainda virá.
Ai, como lançar-me em mim eu queria,
Além da alegria!
Desprende-se do báratro infinito
O azul da manhã.
O que tanto busca o meu coração
Nos velhos cadernos
De poemas, como se lá restassem
Minhas desventuras,
Os meus desejos, tudo que até ser
Eu pudera? Mas
Eis que, à janela, vem o livre voo
De algumas libélulas,
E, assim, faz-se ululante a primavera
Que ainda virá.
Ai, como lançar-me em mim eu queria,
Além da alegria!
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sexta-feira, 11 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Óxido de um oximoro" - Para Adriana Calcanhotto
"Óxido de um oximoro" - Para Adriana Calcanhotto
Colocar o amor no conceito
De um deus é deixá-lo à dúvida
Da existência. Logo, há
Que se atentar pra o oximoro
Que surge de tal propósito,
Isto é, o amor aceito
Não pode ser sem que em si
Firme-se a confirmação
Da razão que aos espartanos
Levou prestar-lhe homenagens
Devidas, antes das guerras,
E a sua associação
Com o que a beleza gera.
Esse questionamento
Também encarcera um medo,
Aquele da esquiva, do alento
Que se busca na retórica,
Para evitar admitir
Isso, de o peito ferido
Já ter sido por Cupido.
De um deus é deixá-lo à dúvida
Da existência. Logo, há
Que se atentar pra o oximoro
Que surge de tal propósito,
Isto é, o amor aceito
Não pode ser sem que em si
Firme-se a confirmação
Da razão que aos espartanos
Levou prestar-lhe homenagens
Devidas, antes das guerras,
E a sua associação
Com o que a beleza gera.
Esse questionamento
Também encarcera um medo,
Aquele da esquiva, do alento
Que se busca na retórica,
Para evitar admitir
Isso, de o peito ferido
Já ter sido por Cupido.
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quinta-feira, 10 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Nosce te ipsum"
"Nosce te ipsum"
Quando tudo dói, que nos solta de quem somos?
Talvez a falta de freio, a frase ou o fulgor
De um poema. Ou nada disso. Quem sabe o amor
Que se desdobrou quando fora, pleno, exposto
Àquele sentido que tinha sido o ópio
Do propósito escolhido. O que nos consome
Não padece de um nome, nem de som ou tom.
Não se importa de, sem custo, dar-nos as costas.
Ai, todos os assombros, ecos, sumos, sonos,
Tópicos e estorvos, incômodos e óbvios
Amalgamam-se ao mar do pensar, têm luz própria!
Quando tudo se esvai, gasta-nos, que nos põe
A um lance de ter um, apenas outro sonho,
A desejada chance de ir bem mais longe?
Quando tudo dói, que nos solta de quem somos?
Talvez a falta de freio, a frase ou o fulgor
De um poema. Ou nada disso. Quem sabe o amor
Que se desdobrou quando fora, pleno, exposto
Àquele sentido que tinha sido o ópio
Do propósito escolhido. O que nos consome
Não padece de um nome, nem de som ou tom.
Não se importa de, sem custo, dar-nos as costas.
Ai, todos os assombros, ecos, sumos, sonos,
Tópicos e estorvos, incômodos e óbvios
Amalgamam-se ao mar do pensar, têm luz própria!
Quando tudo se esvai, gasta-nos, que nos põe
A um lance de ter um, apenas outro sonho,
A desejada chance de ir bem mais longe?
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quarta-feira, 9 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Meu tímido canto" - Para Antonio Carlos Secchin
"Meu tímido canto" - Para Antonio Carlos Secchin
Bem receio vir
A ser o recheio
Desse souvenir
De engano e erros
Que espera o porvir
A ser o recheio
Desse souvenir
De engano e erros
Que espera o porvir
Que não veio e nem
Virá, pois, aqui,
Entre o medo certo
E as garras do metro,
Um velho porém
Virá, pois, aqui,
Entre o medo certo
E as garras do metro,
Um velho porém
Há: por que não há
Um meio estratégico
De lançar ao mar
Sináptico, todo
O arcabouço estético -
Um meio estratégico
De lançar ao mar
Sináptico, todo
O arcabouço estético -
Ó tímido canto! -
Que penso que posso
Fundar sobre a folha
Anêmica, quando
Em meu ser findar
Que penso que posso
Fundar sobre a folha
Anêmica, quando
Em meu ser findar
O último verso?
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terça-feira, 8 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Ita est"
"Ita est"
A alvorada chuvosa
Não é mais a mesma.
Deitei sobre a memória
Toda a primavera
De haver sido menino
Sem amarras, sem
Medo de resfriados,
De privações ou
Castigos, pois o amar
Em mim era lançar-me,
Além das graves ordens,
Das regras, desperto,
Ao instante que se dava:
Brincar e brincar
Sob a quântica chuva,
Porque feliz era.
A alvorada chuvosa
Não é mais a mesma.
Deitei sobre a memória
Toda a primavera
De haver sido menino
Sem amarras, sem
Medo de resfriados,
De privações ou
Castigos, pois o amar
Em mim era lançar-me,
Além das graves ordens,
Das regras, desperto,
Ao instante que se dava:
Brincar e brincar
Sob a quântica chuva,
Porque feliz era.
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sábado, 5 de abril de 2014
William Shakespeare: "Sonnet 56"
"Soneto 56" (Tradução de Adriano Nunes)
Doce amor, renova-te; que não seja dito
Ser mais cego teu gume que teu apetite,
Que está saciado por ter hoje comido,
Mas amanhã co' antiga força está em riste.
Ser mais cego teu gume que teu apetite,
Que está saciado por ter hoje comido,
Mas amanhã co' antiga força está em riste.
Assim, amor, sê tu; embora bem se fartem
A piscar, plenos, teus olhares esfaimados,
Amanhã enxerguem novamente, e não matem
O espírito do amor com um perpétuo enfado.
A piscar, plenos, teus olhares esfaimados,
Amanhã enxerguem novamente, e não matem
O espírito do amor com um perpétuo enfado.
Deixa este triste ínterim como o mar ser
Que separa a praia, onde um nubente par
Vem à orla diariamente, e por ver
O retorno do amor, mais ditoso é o olhar.
Que separa a praia, onde um nubente par
Vem à orla diariamente, e por ver
O retorno do amor, mais ditoso é o olhar.
Ou então o inverno, que cheio de cuidado
Faz o verão três vezes mais raro e almejado.
Faz o verão três vezes mais raro e almejado.
William Shakespeare: "Sonnet 56"
Sweet love, renew thy force; be it not said
Thy edge should blunter be than appetite,
Which but today by feeding is allay'd,
Tomorrow sharpen'd in his former might:
So, love, be thou; although today thou fill
Thy hungry eyes even till they wink with fullness,
Tomorrow see again, and do not kill
The spirit of love with a perpetual dullness.
Let this sad interim like the ocean be
Which parts the shore, where two contracted new
Come daily to the banks, that, when they see
Return of love, more blest may be the view;
Else call it winter, which being full of care
Makes summer's welcome thrice more wish'd, more rare.
Thy edge should blunter be than appetite,
Which but today by feeding is allay'd,
Tomorrow sharpen'd in his former might:
So, love, be thou; although today thou fill
Thy hungry eyes even till they wink with fullness,
Tomorrow see again, and do not kill
The spirit of love with a perpetual dullness.
Let this sad interim like the ocean be
Which parts the shore, where two contracted new
Come daily to the banks, that, when they see
Return of love, more blest may be the view;
Else call it winter, which being full of care
Makes summer's welcome thrice more wish'd, more rare.
SHAKESPEARE, William. The sonnets and A Lover's Complaint. Edited by John Kerrigan. London: Penguin Classics, 2009, p. 58.
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TRADUÇÃO
Adriano Nunes: "A arder na folha anêmica"
"A arder na folha anêmica"
Não posso compor a
Música que se enrosca
Nos sentidos agora.
Sequer sonhar a tela
Pra a pintura que se
Desintegra de mim,
E, solta, salta além
Do que à vista convém.
Ó, quimera sem fim,
Grã vontade de ter
A arder, na folha anêmica,
A minha parca pena!
Não posso compor a
Música que se enrosca
Nos sentidos agora.
Sequer sonhar a tela
Pra a pintura que se
Desintegra de mim,
E, solta, salta além
Do que à vista convém.
Ó, quimera sem fim,
Grã vontade de ter
A arder, na folha anêmica,
A minha parca pena!
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quarta-feira, 2 de abril de 2014
Adriano Nunes: "Ulysse"
"Ulysse"
Les heures que sont?
Je suis un vieux
Qui a oublié de rentrer chez eux.
J'ai vu Troy en flammes.
J'ai écouté la chanson
Des sirènes. Maintenant,
Mon coeur me dit que
L'amour est un tissu inachevé
À Ithaca.
Les heures que sont?
Je suis un vieux
Qui a oublié de rentrer chez eux.
J'ai vu Troy en flammes.
J'ai écouté la chanson
Des sirènes. Maintenant,
Mon coeur me dit que
L'amour est un tissu inachevé
À Ithaca.
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