domingo, 31 de julho de 2016

Adriano Nunes: "Garatzazyn and his pigs" - To Alberto Lins Caldas

"Garatzazyn and his pigs" - To Alberto Lins Caldas

Everything stinks
Inside Garatzazyn's thoughts.
Melancholy,
Crude joy,
Dense desires!
Everything stinks too much
Even this toil which
Shows itself light
Sometimes. Awakened
Pigsty emits squeaks
Beyond infinite.
Oh, Pigs scream
Out for Garatzazyn!
That is his life, so,
Prudish and greasy.
His dreams are already
Mud and crud,
Dirt and patch,
Sweat and tapeworms.
His pigs scream out
Looking for patience.
Stench is nothing.
Rotten faeces is
Nothing. Today
Is nothing. Whiff
Of hope cannot find
His feisty heart,
His foolish mind.
Garatzazyn mingles with
His strange pigs.
He does not know if
He likes to meagle
With the ready meat
For scrapping. What does this
Man dressing colored shirt
And old and cheap jeans
Know about himself, my Lord?
His hopeless pigs scream out,
They are frightened
And know when
They will take him for scrapping!
His grim pigs have pity
On Garatzazyn.
They are afraid that he bleeds
And does not die as a pig,
Everything stinks
Inside Garatzazyn's thoughts.
There is no way
To clean up this horror
From himself.
The novelty is
Futile and catty!
His hungry pigs whisper
About Garatzazyn.
They know that he has sharp teeth
Which devour himself
Sometimes, when he can do it,
When sated hyenas go away,
Every dawn
His curious pigs gossip.
They know ax and
Continuous disregard.
From clay to simian
Life has had a shape.
He jumps this fence
And his pain, again.
Garatzazyn jumps over
His atavistic team.
It is now! It is now!

Adriano Nunes: "At ten past six"

Adriano Nunes: "At ten past six"


He, the number one employee.
He knows all deadlines.
He knows all the rules.
He does not smile
Not even says goodbye
To no one in his Nobody's Kingdom.
Sometimes our employee
Listens to be called
This, that, other things,
A bureaucrat.
He adjusts his well aligned suit
And his discreet tie.
And everything follows and goes.
And everything goes and follows
Continuously equal. He thinks!

He stamps and dispatches
And dispatches and stamps.
He carefully watches
Everything around him.
And he dispatches and stamps and
Dispatches no end.
All the open eyes.
Everything is visible
To his co-workers.
"Ten days!" "Thirty days!"
"Thirty days!" "Ten days!"
"No authentication!. "No receipt!"
"The deadline has expired."
"In another session." "I repeat:
It is not for me!" "Receipts!"

He, the number one employee.
He has been fulfilling orders
From his superiors and from
Beyond them. He is
Always fulfilling orders
Which he does not know
Though they come from.
He knows all the rules.
He knows all deadlines.
Here is the main rule: deny
Almost everything if possible
According to the current regiment.
Two hours for lunch.
His life is an exemplary point
Without any delay! I saw it!

He does not shy away
From his obligations.
Certificates! Worksheets!
Licenses! Seals! Rates!
He adjusts his well aligned suit
And his discreet tie.
And everything follows and goes
Because existence flies.
No time to chat which
Wants to convince him that
Something is an emergency.
He did not come to work today.
Now his dreams turned an impasse:
Arrears, failures, deceptions again...
Two bypass he has!

Adriano Nunes: "With its quantum wings"

Adriano Nunes: "With its quantum wings"

The written word
Has a lifelong -
Those who call
Themselves specialists
Speak it,
Without fear.
Others who claim
To be much more
Experts just say that
The spoken word
Seems to fly,
With its quantum wings.
They also say
That passion
Devastates any person
Who is unprepared.
Is there any way
Out for me?
So, here,
Anything should
Not make a scene
In a poem.
It is no good!
It can freak
Out! If
Love have no an
Accurate sign
And it wants to
Be infinite and bright
In thoughts, I
Query myself:
Do I write
That I love you
Or for four corners
Of the world I scream
Out this saying?



sábado, 30 de julho de 2016

Adriano Nunes: "Quer-se no pensar"

Adriano Nunes: "Quer-se no pensar"


A palavra escrita
Dura toda a vida,
Dizem os que se
Dizem ser bem mais
Especialistas.
E quando falada
Parece que voa,
Possui mesmo asas -
Rebatem os tais
Espertos, os que
Falam que a paixão
Arrasa a pessoa
Que é desprevenida.
Não terei saída?
Por isso, aqui, nada
De querer fazer
Cena no poema.
Pergunto-te apenas:
Se o amor não tem signo
Preciso, e infinito
Quer-se no pensar,
Que te amo escrevo
Ou dou gritos pelos
Quatros cantos já?



segunda-feira, 25 de julho de 2016

Adriano Nunes: "Pai" - para Adriana Calcanhotto

"Pai" - para Adriana Calcanhotto


Pai -
Quando se vai
Parece que 
Leva tudo e mais.
Que prece,
Sem pressa,
Sempre tecer,
Qual poema,
Para tudo,
Outra vez,
Trazer. E mais:
Além dos ais
Da memória:
O que ficou,
O mar de amor,
Ó, pai!

terça-feira, 19 de julho de 2016

Adriano Nunes: "Alguns remendos"

"Alguns remendos"

Só o silêncio
De tudo sabe.
Da casca à carne,
O que ocorrendo
Anda com quase
Todos os tempos
De mim. Qual arte,
Alguns remendos
De sentimentos
Logo me fazem:
Com que portento
Amalgamar-te
Em meu ser, parte
Por parte, atento?

Adriano Nunes: "Agora"

"Agora"


De bomba
Em bomba,
O horror
Vai mesmo
Tomando
Já conta
De tudo
Enquanto
Explode
O mundo.
De golpe
Em golpe,
O ódio
Ensaia
A valsa
Do medo.
Que pode
A lógica
Da morte,
Sem freios?
Tormento
Na praça.
Pessoas
Perpassam,
Pessoas
Dispostas
A tudo,
A nada.
Nos signos,
Tumulto.
De raiva
Em raiva,
Que luz
Mantém-se
Intacta?
Que sombra
No estranho
Encaixa?
Que sobra
Do alheio?

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Adriano Nunes: "Gramatical" - para Antonio Cicero

"Gramatical" - para Antonio Cicero


Bem por causa
Duma crase,
Há quem ache
Que só calha
À existência a
Regra rígida
Que comanda
O liame
Entre signos
Comportados
E palavras
Para impacto,
Como se a
Liberdade
Fosse nada.

Até causa
De grãs brigas
Fora a vírgula,
Já, de fato!
Sem contar
Que os sentidos,
Quando ambíguos,
Têm gerado
Inimigos
Mortais, mesmo
Quando se
Esclarece o
O impecável
Ermo erro.
Ah, censores
Propulsores
De disputas
Formais, léxicas!
Perdoai
Os deslizes
Dos que mais
Correm riscos,
Dos que vivem
A escrever
Obras-primas
E tolices,
Que se enganam
Com o hífen,
Com as métricas!
Perdoai
Até este
Que, atrevido,
Tem brincado
Com as normas
Gloriosas
Da poética!
Perdoai,
Sem as glosas,
Sem epígrafes,
Sem esporros,
Antes que
Seja tarde
Para vossos
Despropósitos!

terça-feira, 5 de julho de 2016

Adriano Nunes: "Em xeque, em lance pronto"

"Em xeque, em lance pronto"

Será que ir de encontro
Ao amor, no fim das contas,
Conta? Ou que, supondo o
Amor tudo se apronta?
Será? Será? Mas como
Atingir tal propósito
Com o coração tonto
De ilusão? O que o afronta
Em frente ao tempo, pondo-o
Em xeque, em lance pronto?
Será que indo de encontro
Ao amor, amor encontro?
Como seria cômodo
Chegar a esse ponto!

domingo, 3 de julho de 2016

Nydia Bonetti & Adriano Nunes: "Paramym"

Nydia Bonetti & Adriano Nunes: "Paramym"

Paraty não é para ty
Paraty é paratypos
Paraty não é para mym
Paraty é paramythos
Paraty não é para sy
Paraty é parassymbolos
Paraty é só um parayso
Lyteraryo paraguayo
Made yn mydyatycos

Adriano Nunes: "Teste"

"Teste"

Fico a imaginar
O verso um objeto
De um experimento
Qualquer, submetido
A testes de análise
Química, de física
Quântica e a engenhocas
Impressionantes
Que, se não ciência
Fossem, certamente,
Seriam motivos
De riso e galhofa,
E cruéis fofocas.
Mas... Que será que
Diriam dos versos
Muito elaborados
Por pretensa técnica
Imposta por técnicos
Com a pretensão
De ser, sim, poetas?
Que causas e efeitos
Seriam enfim
Explicados, qual
Lei, para uns versinhos
Dóceis e sem graça
Que o coração fez
Para tudo ou nada?
Ah, será que, ao sal
Das horas, daria
Pra evitar a sina
Das cobaias prontas
Pra morrer em nome
Do saber do homem?

Adriano Nunes: "Yaszehim sorri"

"Yaszehim sorri"


Só a sombra de Yaszehim
Ainda perambula pelos campos
De trigo à procura de Yaszehim.
Só as mágoas de Yaszehim
Ainda saem dos olhos da vida
Atrás de Yaszehim, outra vez,
Infinitamente. Só as astúcias
De Yaszehim entendem bem
O que Yaszehim pensa e sente
Quando pensa e sente ser só
Yaszehim. O dia acabará logo.
Outras dores virão. Outros
Momentos para cuspir, longe,
Outras marcas que se forjam
Como memória e esfacelamento.
Virão - como sístoles sísmicas.
Batem à porta. Forte batem
À porta. As desesperanças de
Yaszehim querendo achá-la?
Os campos de trigo, a casa velha
Com vasta varanda de jacarandá:
Tudo podre. Tudo sem âmago.
Nem glória. Nem gozo.
São dez para dez. Yaszehim
Lança-se ao breu dos absurdos
Desmedidos da satisfação.
Não quer cortar os pulsos.
Aprendeu com os pulsos que
Não vale mesmo a pena
Cortar os pulsos. Não quer
Engolir as pílulas do sono das Cinderelas.
Não quer afogar-se na angústia
Dos venenos instantâneos.
Pode ser que dê errado.
E se der errado? Eles chegarão
Sóbrios e sedentos: os desejos,
As culpas, as amarras e os remendos
Do amanhã. Só a sombra
De Yaszehim afaga o corpo
De Yaszehim. Só a sombra
Soçobra por ser a sombra
De Yaszehim. E tudo fede por não ser
Yaszehim. Pode ser que dê
Tudo errado. Como escarrar
O tédio entorpecente e seco
Nas quimeras do tempo, sem medo,
Se tudo der errado? Yaszehim sorri.

Adriano Nunes: "Que se dá adentro"

"Que se dá adentro?"

Estamos no mesmo barco furado.
Pode ser que a nado cheguemos lá.
Mas eu não sei nadar.
Eu não sei nadar, é fato!
Eu não sei de nada.
Talvez a água nos devolva ao lar
De algumas metáforas
Que se amalgamam fora d'água.
Para nada?
Feito a tua última desculpa esfarrapada?
De novo repito e advirto:
Eu não sei nadar
Se nadar for preciso.
Já sou náufrago convicto, eu sei.
Estamos no mesmo barco, 
Sem bússola ou rádio nem lei.
Do meio do seio do sumo do mar alto
Como intactos voltaremos?
Como voltaremos antes de sábado?
Como voltaremos
Sem rédeas, revoltas, remorsos e remos?
Como rasgaremos as tripas de cada momento
Se ainda não me condenei
Ao que em mim não compreendo?
Que se dá adentro?