sexta-feira, 29 de junho de 2012

Adriano Nunes: "Uma ilusão sei que sobra"

"Uma ilusão sei que sobra"



Rolam os inúteis números
Sobre a existência de tudo.
De ubíqua equação se cobre
O coração já sem prática
Paciência, quase mudo.
Sob uns clichês, com desgaste,
Parece que de si salta,
E, pancada por pancada, a
Palavra amor pronuncia,
A palavra amor o invade.
Talvez seja mesmo Arte
Essa estranha loteria:
Há dias não te vejo, amor.

Enquanto isso, até me visto
De sonhos, sombras e sustos.
Uma ilusão sei que sobra
No fundo, no fim da contas,
Entre regras, ritmos, riscos,
Prazos e preços e datas
Marcadas, indicações
Redigidas em ideias
Enlatadas, mágoas pagas,
Endereços que não se
Encaixam, altura, idade,
Índices, cintura, massa,
O peso de tudo sobre
Tudo que se sabe e se

Disse, gravidade, órbita,
Elétron, lugar, instante,
Velocidade, Newton, Euler,
Galileu, Einstein, Copérnico,
Gozos e enganos mais cegos,
Sóis de probabilidades,
Os cálculos e as incógnitas...
Como poderia então
Conceber que o coração
Abrigaria a alegria
De amar-te, num brusco lance
De acasos estonteantes,
Dia após dia, qual mágica,

Numa estatística exata?




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