"Que somos nós dois agora?"
Que somos nós dois agora
Ante o instante deste amor?
Que somos, ó verso, agora
Ante o que sequer mais volta?
Que somos nós dois agora,
Depois de desmascarada
A alma? Quanto nos sobra
Depois de tanta porrada
Na cara? Que somos nós
Dois agora, nesta noite
Alta, Co' o efeito ilusório
Dos ansiolíticos, dos
Infinitos ingeridos,
De vez? Que somos nós dois
Agora, ante o navio
Que parte, a fome que dói,
O fogo que se propaga?
Que somos nós dois agora,
Enquanto te rapto em mim,
Em busca do tudo ou nada?
Que somos nós dois agora,
Entre os remorsos e as dúvidas?
Que somos nós dois agora
Ante o sentido rasgado,
Pelo amante distraído, o
Poeta pronto pra o olvido,
Sem graça, a ver o que passa
Pela vidraça do ser,
Diante de grãs quimeras?
Que somos nós dois agora,
Por pesar mundos lá fora,
Por querer, e mais querer?
Um comentário:
Adriano, li este seu poema no Cícero, e vim aqui lhe dizer que o achei emocionante - é um poema maior, desses que ficam. Parabéns.
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