domingo, 21 de fevereiro de 2010

Adriano Nunes: "Ícaro" - Para José Mariano Filho

"Ícaro" - Para José Mariano Filho


Do lar, eu não devia ter saído,
Ter abandonado o rabo da saia
Da mãe, não devia ter adquirido
Asas, não devia ter só sonhado,
Do lar, eu devia sentir saudade.

Sim, do meu grácil lar, mas não de lá,
Daquele lugar público, do mundo.
Devia ter sido domesticado,
Ter aprendido a amar o meu sofá,
A sala, os quadros, quartos, o quintal,

A chegada do meu pai cedo, a vinda
Do carteiro, a visita inesperada
Dos meus primos, as intrigas, as festas
Aos sábados, o labirinto, os filmes
Na televisão, o grã Minotauro.

Ai,  preciso embriagar-me do olvido,
Sem ter que derrubar as tantas portas
Do meu coração, sem ter que provar
Da cicuta da culpa, do pesar,
Sem prometer coisa alguma à minh'alma!






2 comentários:

Ana Tapadas disse...

Nostalgia da infância no limiar do salto em frente: uma angústia para sempre. Todos a vivemos...
Beijinhos

Janaina Amado disse...

Ah, Adriano, este é o enigma de todos nós, que ousamos deixar a casa onde nascemos. Belo poema.