segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Adriano Nunes: "Depois do amor"

"Depois do amor"


Depois do amor
Foram as ondas de perspectiva
De haver amor
Em todas as coisas
Os arrepios imensuráveis
De haver amor
Além das medidas gastas
De tanto tentar avaliar o amar
Era rasgar o peito e vasculhar
À procura de algum vestígio
À procura de ser
Sim era o amor uma busca estranha
Mas de quê?
Um remexer em tudo
Passado presente futuro
Para sentir o impacto sofrido
Pela existência
A essência de ultrapassar muros
Mares Marte a morte
Um lance mais forte
Depois era deixar acesa a brasa
Das ilusões
Tecendo versos sem preocupações estéticas
Já não havia pressa
Porque sabia ser essa
A forma de agir do amor
Saudade e desassossego
Esse desenterrar de antinomias íntimas
Essa certeza de que tudo dará certo
O céu mais perto
O sol às mãos
Um alargar-se disperso
Em alguma alegoria voraz
Sem coerção um canto
No mínimo
Não era decerto paz
Era poder dizer sem medo
Dizer mesmo
Eu te amo tanto
Era entregar-te o elo
De ser quem me sinto e peso
Com o fluir deixar-me ir
Ser levado pelos dragões amarelos
Do devir
Sorrir


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