"outra canção" - Para Caetano Veloso
cantar o quanto
cantar o quando
cantar o quântico
cantar quiçá
cantar o quase
cantar o quarto
cantar quasares
cantar quintais
cantar as quartas
cantar as quadras
cantar quaresmas
cantar o quê
cantar querelas
cantar quereres
cantar quesitos
cantar quedê
cantar quantias
cantar quadrilhas
cantar quartetos
cantar qualquer
cantar quebrantos
cantar quebrado
cantar queixumes
cantar questões
cantar o quadro
cantar a quebra
cantar o quem
cantar o qual
cantar quimeras
cantar as queixas
cantar as quotas
cantar quindim
cantar a química
cantar quilômetros
cantar quilombos
cantar quadris
cantar quem sabe
cantar quem dera
cantar quem sou
cantar cantar
"Reflexo submerso" - Para Eleonora Marino Duarte
Na garganta, o engasgo...
No quarto, o universo
Guardado, imerso...
Mas agora o rasgo
Na memória. Afago o
Sonho e me disperso
Num dever diverso:
Narciso no lago o-
Culto do ser, mágico
Naufrágio, perverso
Espelho-amor, trágico
Reflexo submerso
No flerte hemorrágico...
À verve de um verso.
"Do ritmo da ilusão"
Sinto o meu coração
Ferindo-se no peito.
Do ferimento é feito
Um filme de ficção.
Sonho... Tudo é perfeito
A cada contração:
Que conta é a emoção
Com a qual me deleito,
O medo de um defeito,
De uma parada, não
De um sentimento vão!
Como tirar proveito
Do ritmo da ilusão
Se as coisas reais são?
"a vida" - Para Péricles Cavalcanti.
a vida tem vidas
a vida tem voz
a vida tem véus
a vida tem vez
a vida dá vôos
a vida é vestígio
a vida é vontade
a vida é vampira
a vida é vassala
a vida é veloz
a vida tem vícios
a vida tem vínculos
a vida tem vírgulas
a vida tem vértices
a vida dá voltas
a vida é volúpia
a vida é vocábulo
a vida é verídica
a vida é vertigem
a vida é visão
a vida tem vácuos
a vida tem vultos
a vida tem vistos
a vida tem vermes
a vida dá valsas
a vida é vexame
a vida é viagem
a vida é vaidade
a vida é viável
a vida é valor
a vida tem válvulas
a vida tem veios
a vida tem vênus
a vida tem verbos
a vida dá vaias
a vida é tão vasta
a vida é tão vista
a vida é tão velha
a vida é tão vaga
a vida é vulgar
a vida tem vísceras
a vida tem víboras
a vida tem vetos
a vida tem vestes
a vida dá versos
a vida é vigente
a vida é volátil
a vida é volúvel
a vida é vedete
a vida é voraz
a vida se vira
a vida se vela
a vida se vinga
a vida se varre
a vida se vai.
"Eu não sabia que era assim"
Lanço-me ao espelho.
Outro cara me encara,
Outro ser diz ser eu:
Gestos,
Gostos,
Gritos,
Gozos,
Frente a frente as faces
Confundem-se,
Espalham-se: ilhas
De sonhos soçobrados,
Repetidos lances
De acasos,
Recheios de receios,
Casca e quase mais
Nada.
Quantas efígies
Existem
Em mim que desconheço?
Uma? A que convivo
Sempre sem um apreço?
Duas, tais cara e coroa?
Ou outros Caeiro, Ricardo e Álvaro
Vivos em minha pessoa?
Quantos eus e outros eus e
Máscaras
Mesclam-se ao que sou?
As afeições fictícias
Quem em mim as fixou?
Dr. Lao e as suas sete faces?
As sessões de psicanálise?
Iago, Otelo, Hamlet, Falstaff?
O medo inicial de ser médico?
O temor estético
De que a vida se completa
Quando vingo poeta?
Ou as vagas lembranças
De quando eu era criança
E amava andar de bicicleta?
Os amores que não tive e
Tive em memória, ilusórias
Imagens - mágica vontade
De ser amado -
De mim para tudo que me sinto?
Quantos espectros
Ainda resistem recalcados,
Ante o vazio do quarto, e pesam
Ser o ser que me cabe?
Quantos estão dispostos
A vir à tona?
Quantos querem
Surgir sem trauma?
Quando terão coragem de
Ser quem me abrigo agora?
Quando virão sem medo
À mostra?
Lanço-me ao verso.
Desisto de ser qualquer
Tempo que de mim espero.
Tudo é o oposto do coração.
Sou urgentemente eu mesmo.
Ninguém me chamou pelo nome.
Ninguém contou até trinta,
Para ver se eu me escondia.
Ninguém me deu a chance
De rasgar de vez a fantasia.
Ninguém ousaria. Ninguém
A sangrar
Sobre as sombras
Da minha íntima rebeldia.
Ninguém me acenou na despedida.
Eu não sabia que era assim.
"A que voz satisfiz?" - Para José Mariano Filho
Certamente feliz,
Em mim tudo já fui,
Em mim tudo já fiz.
Abriguei-me em tal luz:
Sou poeta, um poeta!
E tudo é por um triz...
Quando uma mágoa aperta
O ser, algo me diz
Em segredo: 'que mundo
Não é teu, aprendiz
De Proteu?' Mas no fundo...
A que voz satisfiz?
"Outro drama grego"
Às três. Depois, nem
Mesmo às dez pra seis.
O amor não vem... Eis
Que nada convém.
Ao coração? Resta
Só satisfazer
O próprio prazer
De bater... Seresta
De desassossego!
Ouço: logo chego
Ao peito! De vez,
Estranha escassez
Toma-me... Talvez,
Outro drama grego.
"Um pedacinho que vai" - Para Antonio Cicero
A vida é a vida.
Cedo ou tarde, tudo
Nela cabe: surtos,
Mentiras, vontades,
O que ninguém sabe,
Áurea realidade.
A vida é a vez,
O que não se pode
Perante o silêncio
Do acaso, da sorte.
Se assim nos assusta,
Se assim nos alegra
Com rígidas regras,
Se até nos abriga
Com a gravidez
Múltipla, não é
Senão voraz Arte?
Dentro da memória,
Fica um pedacinho
Que vai, sem mais volta,
Verso declamado
Outrora, o amor mor
Com a eternidade
À prova, a grã dúvida
Do que se fez vasto,
Necessário, inúmeras
Portas: esta vida...
Como decifrá-la,
Com a fala, enquanto
Ela nos devora?
"pop-up" - Para Poundp o pp o u s op o p.......... u pp o u.......... p ap o u.......... p a rp o u.......... p a r t ep o p.......... p o r t o p o u.......... p a rp o u.......... p ap o p...........u pp o pp o u n d
"Outros versos e..."
Outros versos e...
Mágica parece:
Trouxe-te de volta!
Olho para os lados
De mim, teu espectro
Tanto me conforta.
Liame de lábios...
Em rimas, beijá-los
Já posso! Parece
Mágica, decerto.
E não são só versos!
Outros versos e...
O momento breve
Faz-se mesmo eterno, e
Teu existir capto.
Rasuro o caderno
Com os teus abraços,
Faço um embaraço
De ritmos e metros,
Redondilhas traço
Pra que em mim conserve-te.
Nesta estrofe, vejo
Findar o meu verso
Astuto. Em mim, tenho-te.
Aqui, estás, claro.
Aqui, estás, mesmo.
E parece mágica!
"Pra a Arte"
As portas?
Janelas?
Que importam
Agora?
Que fresta
Pra a Arte
Bem resta?
A vez
Da lida?
A cor
Dos átimos
Do fado?
Devasta-me
O que não
Há para
Dizer.
Sentenças
Sangrando...
Silêncios
Nos cantos
De mim.
E era
Assim
Que vinham
Dos báratros
Do acaso,
Dispersos,
Meus versos.
Agora?
Nem portas
Nem práticas
Janelas.
Os versos
Só vêm
Se esqueço
Que sou
O bardo
Que os teço.
Um outro...
Que houvera.
"outro grito ouviu-se perto" veio a notícia, - serpente
pronta para dar o bote -
(talvez da dúvida brote
a alegria) de repente.
entre parentes, o medo
viraria um alvoroço,
ponte para o fim do poço...
algo que não me concedo.
outro grito ouviu-se perto
do peito. o pranto lá fora
amalgama o tempo agora.
o silêncio... que deserto!
o tormento está desperto...
o amor por amor implora!
"Arte poética"
Em que alegria
Abrigar tudo
Com que me iludo?
Como seria
Depois o mundo?
Que o salvaria
Da alegoria
Do eu profundo?
A minha vida
Vinga incontida...
Que grande susto!
Que instante augusto,
Saber que a lida
Faz-se cumprida!
"Fundo é o outro"
Do topo, lançam-me
Alheios olhos...
Ilhas de globos!
Fundo é o outro...
Fenda do corpo,
Frêmito e fogo,
O cosmo cômico
Desconcentrando-se
Em um ser todo.
Sou de mim solto
E, aos poucos, cavo
Um vasto báratro.
Que a fazer há?
"A lei do amor"
Olhou para os lados...
Ninguém
Observava nada.
Flertou-me,
Flechou-me,
Feriu-me
Com o fulgor do amor.
Ferida funda
Fundada
Sob a infinda arquitetura
Das delícias puras
Das súbitas taras,
Das horas mais fogosas
Da astúcia do amor.
Falou-me
De Grécias, de Macondos, de Atlântidas
Íntimas. Lábias,
Lábios ante lábios,
Lances sobre lances,
O que era melhor, o que era pra ser
A lei do amor.
Instalo-me em mim.
Calo-me.
Talvez bem eu saiba da palavra,
Do instante que calha,
Do segundo sangrante
Dos segredos. Talvez, tenha medo.
Do amor.
Do tempo do seu tempo.
Das intempéries, das suas convulsões
Avulsas, de suas loucuras
Miméticas. De suas técnicas histéricas.
De tudo.
Enquanto tudo.
Enquanto amor.
E disse-me, sem metáforas ou medidas:
Algumas mentiras.
E acreditei mesmo no que me dizia.
Mágica quimera, a poesia.
Aquela das ruas abertas e luzes tão vivas,
Aquela do impossível, do gesto despido.
A poesia do amor.
..............................carnaval
....................ser
....................ser.... ..pen tin.........a
....................ser de. pe n........ de
....................................n t.........e
....................ser......pe.n t.........e
....................ser................. ei
...................................................a
....................ser................. ei. ...a
....................ser..................ei..... o
.......................r..................ei
..................................mo
..................................mo
..................................
..................................
........................con..f
.................... e............t.......e
........................con.... t.........i
.................................... go
........................con.....t
.....................e.....n.... t.......e
.......................................
.......................................
..............................pierrô
..............................baila ri
..............................na
......................................rua
......................................rio
......................................sal
.........................................
.....................................(va dor!)
.........................................
...................................
...........................serderepente
...........................sem ti
...............................no.
.......................................
........................................
....................................
............................carnaval!