quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Em que vingava o amor, seus voos"

"Em que vingava o amor, seus voos"


Todas as vezes em que amou
Um homem a si mesmo amou.
Todas as vezes em que amou
Uma mulher amou um outro -
Nunca era pouco: deu-se todo.
O amor era o dar-se mais solto
De si, dos cárceres do corpo.
Todas as vezes, o amor mor
Amou, sob o intenso fulgor

Do ser, sob o sol sedutor.
Amar era o lânguido jogo
De astúcias em que ilhados olhos
Lançavam-se além dos propósitos
Da ilusão: bastava o amor, cosmo
De prazer, sem gênero imposto,
Sem o sexo ameaçador.
Tud' era pra fluir - um porto
Em que vingava o amor, seus voos.

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