"Cabeça, traços e membros"
A ereção súbita fez Dimitri suspirar e pensamentos libidinosos e recheados de tara invadiram a sua mente. Ser vassalo dos desejos inconscientes, numa hora dessas, deitado na cama, apenas de cueca, depois de um dia intenso e de preocupações, proporcionou aos corpos esponjoso e cavernoso uma dilatação prazerosa.
As mãos inicialmente tímidas roçaram os pelos pélvicos que, como uma trilha, alcançavam um emaranhado de outros pelos suados. Um vai-e-vem de alisamentos e de toques, de batidas rápidas e de delírios visuais concretizou o êxtase. Deliciosos ais e jargões vulgares completaram o espetáculo. Cecile era mesmo capaz de ter participado desse cinema secreto e voluptuoso?
Os encontros casuais não eram suficientes para acalmar a alma de Dimitri. Ele compreendia que possuir alguém, como espectro, não sacia vontades e não devolve a certeza de que sonhos podem tornar-se reais. O trabalho diário, as visitas à mãe aos domingos, o futebol, os jogos de baralho, a cerveja e toda a sujeira dos bordéis violentamente não eram decisivos para a sua felicidade.
Um vazio insólito, uma intranquilidade contemporânea, uma solidez solitária, um vagar atrás de quem possa se enquadrar em seu mundo de perspectivas, tudo era só ruína e desalento. Faltava Cecile!
Compromissada com os estudos, sua vida nada tinha de esplendor ou descomedidas aventuras amorosas. Suas paixões eram os livros e os discos. Gostava de pôr na vitrola um disco de Caetano, Araçá Azul, e ficar horas e horas repetindo as músicas e encantando-se com o que fora feito "para entendidos".
Ou deliciava-se com as imagens cruas e secas quando bebia de João Cabral de Melo Neto. Nunca reparava em homem algum a não ser os dos romances franceses e das tragédias gregas e shakespearianas. Amar era uma vaidade ilusória que não calhava com seus planos profissionais e pessoais.
Queria ser uma jornalista ou uma arquiteta. Desvencilhava-se das atividades burocráticas e cheias de inveja e disputas por ascensão.
Se naquele instante Dimitri tivesse admitido que a amava há muito tempo, tudo também não estaria resolvido como não está agora. Seus dotes sexuais, seu cheiro de macho copulador, sua mandíbula, todo o seu corpanzil, a sua virilidade explícita, nada mesmo e nem os seus olhinhos brilhantes, faróis mais perdidos que os navios de sua alma, conseguiriam atrair Cecile para seu nicho de sentimentos puros e veementemente carnais.
O tempo passou e Cecile sequer se lembra de como foi abordada por aquele homem, por aquela cantada insípida e incolor.
Vidas opostas. Desejo único e agressivo invadindo corpo e espírito. Carreira profissional, diploma, felicitações, viagens, culpas, desesperos. Cecile já não se encontra à vista. Partira em busca de seus ideais.
Queria ser entendida. Arquitetara seus estudos numa batalha jornalística e a grande Capital abraçara o seu esforço e a sua determinação. Chegara a flertar com alguns garotos da turma, mas sempre sentia que ainda não lhe era permitido traçar por paixões infantis, meramente tentadoras de gozo certo, contínuo.
Se a masturbação era a conquista do objeto não possuído, Dimitri não economizava em suas tentativas vãs e alicerçadas de finalidades com clímax e êxtases. Gozava a felicidade de ser bem dotado e de satisfazer todas as suas amantes sem que o amor atracasse em seu coração.
Sexo era o ato de sentir que a sua potência proporcionava às mulheres um delírio indizível e imensurável. Cada gota de suor e sêmen transcendiam ao pedido daquelas que imploravam por algo a mais...
Quero você para sempre! Você é tudo de bom! Serei eternamente a sua amante! Frases sem força ou impulso que não o impressionavam. Apenas sorria e uma alegria momentânea assombrava o seu semblante.
Festa de reencontro com amigas é a dádiva cotidiana das ações humanas. Saudade sempre mata a gente quando não existe mais. Rever é bem mais intenso do que perder de vista. Sorrisos e novidades, detalhes de como é uma grande cidade, sobre os homens e as mulheres, moda, culinárias, cinemas e baladas...
Tudo sob a ilusão de que já não adiantam pedidos de regresso ou de estada definitiva. Cecile voltara para visitar os pais. Solteira ainda. Leve libélula. Dimitri a viu de longe. Não teve empolgação. Continuava amante de muitas...
A ereção súbita fez Dimitri suspirar e pensamentos libidinosos e recheados de tara invadiram a sua mente. Ser vassalo dos desejos inconscientes, numa hora dessas, deitado na cama, apenas de cueca, depois de um dia intenso e de preocupações, proporcionou aos corpos esponjoso e cavernoso uma dilatação prazerosa.
As mãos inicialmente tímidas roçaram os pelos pélvicos que, como uma trilha, alcançavam um emaranhado de outros pelos suados. Um vai-e-vem de alisamentos e de toques, de batidas rápidas e de delírios visuais concretizou o êxtase. Deliciosos ais e jargões vulgares completaram o espetáculo. Cecile era mesmo capaz de ter participado desse cinema secreto e voluptuoso?
Os encontros casuais não eram suficientes para acalmar a alma de Dimitri. Ele compreendia que possuir alguém, como espectro, não sacia vontades e não devolve a certeza de que sonhos podem tornar-se reais. O trabalho diário, as visitas à mãe aos domingos, o futebol, os jogos de baralho, a cerveja e toda a sujeira dos bordéis violentamente não eram decisivos para a sua felicidade.
Um vazio insólito, uma intranquilidade contemporânea, uma solidez solitária, um vagar atrás de quem possa se enquadrar em seu mundo de perspectivas, tudo era só ruína e desalento. Faltava Cecile!
Compromissada com os estudos, sua vida nada tinha de esplendor ou descomedidas aventuras amorosas. Suas paixões eram os livros e os discos. Gostava de pôr na vitrola um disco de Caetano, Araçá Azul, e ficar horas e horas repetindo as músicas e encantando-se com o que fora feito "para entendidos".
Ou deliciava-se com as imagens cruas e secas quando bebia de João Cabral de Melo Neto. Nunca reparava em homem algum a não ser os dos romances franceses e das tragédias gregas e shakespearianas. Amar era uma vaidade ilusória que não calhava com seus planos profissionais e pessoais.
Queria ser uma jornalista ou uma arquiteta. Desvencilhava-se das atividades burocráticas e cheias de inveja e disputas por ascensão.
Se naquele instante Dimitri tivesse admitido que a amava há muito tempo, tudo também não estaria resolvido como não está agora. Seus dotes sexuais, seu cheiro de macho copulador, sua mandíbula, todo o seu corpanzil, a sua virilidade explícita, nada mesmo e nem os seus olhinhos brilhantes, faróis mais perdidos que os navios de sua alma, conseguiriam atrair Cecile para seu nicho de sentimentos puros e veementemente carnais.
O tempo passou e Cecile sequer se lembra de como foi abordada por aquele homem, por aquela cantada insípida e incolor.
Vidas opostas. Desejo único e agressivo invadindo corpo e espírito. Carreira profissional, diploma, felicitações, viagens, culpas, desesperos. Cecile já não se encontra à vista. Partira em busca de seus ideais.
Queria ser entendida. Arquitetara seus estudos numa batalha jornalística e a grande Capital abraçara o seu esforço e a sua determinação. Chegara a flertar com alguns garotos da turma, mas sempre sentia que ainda não lhe era permitido traçar por paixões infantis, meramente tentadoras de gozo certo, contínuo.
Se a masturbação era a conquista do objeto não possuído, Dimitri não economizava em suas tentativas vãs e alicerçadas de finalidades com clímax e êxtases. Gozava a felicidade de ser bem dotado e de satisfazer todas as suas amantes sem que o amor atracasse em seu coração.
Sexo era o ato de sentir que a sua potência proporcionava às mulheres um delírio indizível e imensurável. Cada gota de suor e sêmen transcendiam ao pedido daquelas que imploravam por algo a mais...
Quero você para sempre! Você é tudo de bom! Serei eternamente a sua amante! Frases sem força ou impulso que não o impressionavam. Apenas sorria e uma alegria momentânea assombrava o seu semblante.
Festa de reencontro com amigas é a dádiva cotidiana das ações humanas. Saudade sempre mata a gente quando não existe mais. Rever é bem mais intenso do que perder de vista. Sorrisos e novidades, detalhes de como é uma grande cidade, sobre os homens e as mulheres, moda, culinárias, cinemas e baladas...
Tudo sob a ilusão de que já não adiantam pedidos de regresso ou de estada definitiva. Cecile voltara para visitar os pais. Solteira ainda. Leve libélula. Dimitri a viu de longe. Não teve empolgação. Continuava amante de muitas...
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