“Göretzyn e o horror”
Não houve manhã para este dia
Que se fez noite antes do instante
Previsto, como se o tempo, às pressas,
Saltasse de si, com tanto medo
Do intervalo, a sua própria forma.
Estão muito assustados, agora,
Exceto Göretzyn, que já mesmo
Decidiu não mais ser coisa alguma.
Estão todos bastante assustados.
Será que virão íntimos bárbaros?
Göretzyn deu-se mudo ao que resta.
Ele não fala porque as palavras
Não lhe servem para nada. Nada
Do que pensa vem de si, nem essa
Esperança arriscada que têm
As pessoas de Rylsab. Ninguém
Ousa dizer que está tudo bem.
Ninguém ousa dizer que está mal.
Apenas Göretzyn sente o peso
Do alívio de não ser. Não importa
Que a morte lhe traga a boa-nova.
Nada da existência lhe interessa.
Nada do infinito amor lhe traz.
Não lê jornais. Não tem os desejos
Banais que a paz oferta vez em
Quando. Ele sabe que o horror vem
Com as vestes da voraz vingança.
Göretzyn de si assim se cansa.
Ele pensa que deixou de ser
Quem ele supõe ser quem se sente.
Faz um calor imenso nesta treva.
Rylsab é terra de ninguém mais.
Mata-se porque se é, por ais
Que o espírito dilaceram, mata-se
Por haver tempo e lugar, por álacres
Gestos de humanidade. Não choram
Mais as crianças. Brincam sequer
De ser crianças. Dormem na noite
Antecipada, da angústia à tez.
Porém não terão voz e nem vez.
Dormem a ilusão desse porvir
Estilhaçado por crenças falsas.
Dançam rindo a fúnebre marcha
Da intolerância prêt-à-porter.
Göretzyn pensa em pular da ponte.
Ah, pobre Göretzyn! Já não há
Pontes que o conduzam para lá.
Não há esse “lá”, sinta, saiba!
Não há porque a vida se desfez
Ante o ódio comportado, sob máscaras,
Ante a hipocrisia citadina!
Não beba dessa cicuta pura
Das conveniências, dos padrões!
Você irá viver novamente!
Você irá morrer novamente!
Vão torturá-lo sempre, ruí-lo,
Reerguê-lo, destruí-lo, sempre,
Sempre. O horror não somente o deseja,
Göretzyn, como dele grã parte!
O horror até lhe deu outra face,
Não percebe? Por isso não quer
Ser Göretzyn. Atira-se ao vácuo
Das sinapses, o apagar das luzes,
As atrocidades dos seus monstros
A preencher o destino, o olhar.
Que se fez noite antes do instante
Previsto, como se o tempo, às pressas,
Saltasse de si, com tanto medo
Do intervalo, a sua própria forma.
Estão muito assustados, agora,
Exceto Göretzyn, que já mesmo
Decidiu não mais ser coisa alguma.
Estão todos bastante assustados.
Será que virão íntimos bárbaros?
Göretzyn deu-se mudo ao que resta.
Ele não fala porque as palavras
Não lhe servem para nada. Nada
Do que pensa vem de si, nem essa
Esperança arriscada que têm
As pessoas de Rylsab. Ninguém
Ousa dizer que está tudo bem.
Ninguém ousa dizer que está mal.
Apenas Göretzyn sente o peso
Do alívio de não ser. Não importa
Que a morte lhe traga a boa-nova.
Nada da existência lhe interessa.
Nada do infinito amor lhe traz.
Não lê jornais. Não tem os desejos
Banais que a paz oferta vez em
Quando. Ele sabe que o horror vem
Com as vestes da voraz vingança.
Göretzyn de si assim se cansa.
Ele pensa que deixou de ser
Quem ele supõe ser quem se sente.
Faz um calor imenso nesta treva.
Rylsab é terra de ninguém mais.
Mata-se porque se é, por ais
Que o espírito dilaceram, mata-se
Por haver tempo e lugar, por álacres
Gestos de humanidade. Não choram
Mais as crianças. Brincam sequer
De ser crianças. Dormem na noite
Antecipada, da angústia à tez.
Porém não terão voz e nem vez.
Dormem a ilusão desse porvir
Estilhaçado por crenças falsas.
Dançam rindo a fúnebre marcha
Da intolerância prêt-à-porter.
Göretzyn pensa em pular da ponte.
Ah, pobre Göretzyn! Já não há
Pontes que o conduzam para lá.
Não há esse “lá”, sinta, saiba!
Não há porque a vida se desfez
Ante o ódio comportado, sob máscaras,
Ante a hipocrisia citadina!
Não beba dessa cicuta pura
Das conveniências, dos padrões!
Você irá viver novamente!
Você irá morrer novamente!
Vão torturá-lo sempre, ruí-lo,
Reerguê-lo, destruí-lo, sempre,
Sempre. O horror não somente o deseja,
Göretzyn, como dele grã parte!
O horror até lhe deu outra face,
Não percebe? Por isso não quer
Ser Göretzyn. Atira-se ao vácuo
Das sinapses, o apagar das luzes,
As atrocidades dos seus monstros
A preencher o destino, o olhar.
Adriano Nunes
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