sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Adriano Nunes: "Sísifo"

"Sísifo"


Chega ao topo a pedra empurrada, e não posso
Mais nada. Ela despenca de propósito e
Ri de mim em sua queda além do signo
Queda. Embaixo me espera. Não mais que isso.
E parece que ouço os seus ditos íntimos:
Precisas sair desse fechado círculo
Precisas fugir do tátil labirinto
Precisas cortar os nós dessa corrente
De lógica de hora exata pra sempre
Precisas abrir a caixa de Pandora
A nova caixa que te proponho agora
Precisas de ar de amar de amalgamar-te
À tua insólita vastidão à arte
De saber-te ser só, pedra e solidão
Precisas do ar da plena poesia
Sabes o quanto dela precisarias?
Precisas saltar muros de hipocrisia
Precisas ir além do mar da ideologia
Precisas ampliar do teu coração
A visão do que é mesmo ter coração
Precisas aprender a dizer não - Não!
Precisas contar até dez, é preciso.
Precisas desse risco de a acasos dar-te
Precisas entender que já tudo é
Enquanto Sísifo é Sísifo é Sísifo
Precisas deixar de ser robô ridículo
Precisas alargar as tuas sinapses
Precisas deixar as coisas pra mais tarde
Antes que seja tão tarde, quando é tarde
Por que não te tornas o que sou, a pedra?
Pouca coisa além da pedra bem te resta
Não precisas dizer jamais a verdade

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