domingo, 24 de maio de 2015

Adriano Nunes: "Pra que a voz vingue"

"Pra que a voz vingue"


Para dizer o que tanto sinto,
Não preciso de metro preciso.
Eu sei bem disso.
Para expor quem eu somente sou,
Não busco as imprescindíveis rimas.
De mim, que dizem
Senão a plena perplexidade
De haver um suave som que cabe
Em um verso virgem?
Para engendrar quem mais me imagino,
Não procuro irresistíveis ritmos.
Pra que paraísos?
E, sob a solidão desta tarde,
Decassílabos tecer evito.
Tudo é olvido.
Eis que subitamente me atingem
Teus olhos sedentos e famintos
De nós e esfinges.
Vasculho os báratros do meu íntimo...
Só há restos de signos e mitos,
Silêncios vivos.
E oferto-te o que agora me invade:
Oito estrofes de densa saudade...
Pra que a voz vingue.

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