quarta-feira, 21 de novembro de 2012

CONVITE PARA O LANÇAMENTO DO LIVRO "LARINGES DE GRAFITE" DO POETA ADRIANO NUNES





Dia 29 de novembro de 2012, na Academia Alagoana de Letras, lançamento do meu livro LARINGES DE GRAFITE, com a presença do poeta acadêmico (ABL) Lêdo Ivo. 


LARINGES DE GRAFITE conta com capa do artista plástico Gal Oppido, orelhas de Lêdo Ivo e prefácio de Antonio Cicero Oficial.

Do maravilhoso poeta acadêmico Antonio Carlos Secchin sobre o livro LARINGES DE GRAFITE: 



"Uma bela surpresa, já antecipada no fino estudo introdutório de Antonio Cicero. Adriano Nunes consegue ser polígrafo num único gênero, desenvolvendo múltiplas vozes e inflexões. Seus textos são réplicas, não pastiches, aos poetas homenageados. 

Adriano Nunes vai muito bem em formas e ritmos variadíssimos, o que é raro. Gostei muito, igualmente, dos poemas que Adriano “dedica” a...Adriano, isto é, aqueles em que algum diálogo poético, se existe, é apenas implícito; caso de “Engasgo”, “Fuga”, e tantos outros textos de qualidade."

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Adriano Nunes: "Sem um impasse"

"Sem um impasse" 


Era cerrar as pálpebras e afogar
Na amplidão do infinito todo o desenho
Da tua existência, em êxtase ferrenho,
Era encerrar em mim instante e lugar,

Para dar ao amor o valoroso empenho
Das Musas e Graças, um lírico lar
Fixo na memória, pra me consolar...

Porém de insólita ilusão não me abstenho

E vivo a contar horas, como se achasse
Estar perto o avulso dia, o insp'rado sonho,
O gozo, a vez do corpo, sem um impasse,

Como se em minh'alma o efeito constatasse
Das flechas de Eros, com fervor medonho,
Como se fosse uma inesp'rada catarse.

domingo, 18 de novembro de 2012

William Butler Yeats: "The Mermaid"

"The Mermaid" - William Butler Yeats


A mermaid found a swimming lad,
Picked him for her own,
Pressed her body to his body,
Laughed; and plunging down
Forgot in cruel happiness
That even lovers drown. 



"A Sereia" (tradução de Adriano Nunes)




Uma sereia encontrou um nadador,
Escolheu-o pra seu par,
Pressionando corpo contra corpo,
Sorriu; e ao mergulhar
Esqueceu em cruel fervor
Que até amantes podem se afogar.










In: YEATS, William Butler. From "A man young adn old". "The love poems". London: Kyle Cathie Limited, 2010, p. 96. Edited with an introduction and notes by A. Norman Jeffares.

sábado, 17 de novembro de 2012

Entrevista que concedi ao Cumbucado Maceió, por Robson Muller:

Entrevista que concedi ao Cumbucado Maceió, por Robson Muller:






Escritor alagoano lança livro “Laringes de Grafite"





Adriano Nunes é médico, policial federal, escritor, poeta, tradutor e, acima de tudo, alagoano. Ele está lançando seu primeiro livro, Laringes de Grafite,no próximo dia 29 de novembro. Com prefácio do filósofo e poeta Antônio Cícero, e orelhas do jornalista, poeta, romancista, conti
sta, cronista e ensaísta Lêdo Ivo, o livro coleciona poemas que revelam, através da expressão marcante dos versos, toda a singularidade e sensibilidade do poeta contemporâneo.

Acalentado pela influência advinda das vanguardas do século XX, como poeta moderno, também dialoga com obras clássicas como as de Shakespeare e Camões, por exemplo, e com a contemporaneidade dos poetas Arnaldo Antunes e Eucanaã Ferraz. Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Adriana Calcanhotto, Péricles Cavalcanti, Waly Salomão e Ferreira Gullar também estão incluídos em sua bagagem literária.

Adriano Nunes já teve a oportunidade de publicar seus poemas em Antologias, que são coleções de trabalhos literários, geralmente poemas agrupados por temática, período e autoria, e em sites especializados dentro e fora do país.

Como você define o seu livro Laringes de Grafite?

A.N: Laringes de Grafite é o sumo de trinta e dois anos de fazer poético, já que escrevo versos desde os cinco anos de idade. É claro que entre tantos poemas que escrevi, ficou difícil escolher quais entrariam em meu livro de estreia. Pesaram dois fortes fatores: Primeiro, a importância poética, a arte poética, o valor poético, a obra em si. Segundo, os poemas de que muito gosto, e aqueles dedicados a pessoas que admiro e amo. Só faço poemas porque desde muito cedo consegui perceber o liame íntimo entre as palavras, o verso, e o amor. Sou poeta e sempre o soube e amo sabê-lo. Laringes é isso, é a minha confissão de amor à Poesia. 

O que os leitores podem esperar da sua primeira publicação literária?

A.N: Os leitores devem esperar o que se espera de um livro de poemas: Um desafio ao infinito de tudo, um mergulho numa finalidade sem fim, um convite ao deleite de estar diante de poemas, que são grandezas sem par, tesouros de valor imensurável.

É notório que, em sua formação literária, existem influências que caminham desde a literatura clássica à moderna. Como você se utilizou desses artifícios na criação do livro? 

A.N: Desconheço qualquer grande poeta que não tenha sido culto, que não se tenha embriagado da leitura dos clássicos, que não falasse outro idioma e estudasse muito poética e lesse bastante poemas. Sou admirador de Shakespeare, Walt Whitman, Homero, Horácio, Fernando Pessoa, Camões e de autores contemporâneos tais como Antonio Cicero, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Antonio Carlos Secchin, Ferreira Gullar, Nelson Ascher, Lêdo Ivo e outros. E de músicos como os amigos Adriana Calcanhotto e Péricles Cavalcanti, Caetano Veloso e José Miguel Wisnik. Leio bastante poesia. Ouço demais música. Não saberia viver sem.

Tudo que aprendo com os grandes autores utilizo racionalmente em meus poemas. Um poema só quer ser poema. Então tento fazer o melhor para o poema, usando a inteligência, a técnica, a vivência, o aprendizado... Tudo é válido para que o poema surja pleno, repleto de luz. Como disse Samuel Taylor Coleridge: "poetry,—the best words in their best order."

A literatura alagoana exerceu alguma influência concreta em sua bagagem literária? Quem você destacaria dentre os nossos representantes?

A.N: Sim. Graciliano Ramos impregnou a minha vida literária. Gosto muito de Jorge de Lima. Admiro bastante o meu amigo Lêdo Ivo. Tenho amigos poetas contemporâneos que prezo, dentre eles cito Alberto Lins Caldas e Rosalvo Acioly. Os músicos alagoanos são uma referência para mim. Djavan e Júnior Almeida são bons exemplos.

Um dos pontos mais interessantes é a sua vida eclética. Formado em medicina, policial federal e seguidor da literatura moderna. A forma de lidar e experimentar a vida o inspira? Quais são as suas maiores inspirações? Alagoas, de alguma maneira, está entre elas?

A.N:Três coisas distintas, antípodas, mas que quando em mim unidas, por mim abraçadas, dão-me infinda felicidade. Mas a Poesia é superior a tudo. Amo a medicina e a polícia federal. Poesia é outro lance, é do báratro mais profundo do meu ser sem a qual a minha vida seria apenas um vestígio de vácuos e cinzas.

Alagoas não precisa estar em meus poemas para que se perceba que a amo e que sou alagoano. A minha poesia só almeja ser o que é: poesia. Não mais que isso. 





“Laringes de Grafite” abarca um conjunto de obras que afirmam a identidade de Adriano Nunes, enquanto literário contemporâneo. Nostálgico pelo que já consumiu em sua busca incessante pela literatura universal, o poeta traz uma bagagem repleta de reflexões consistentes. Caminhando tanto pelas formas tradicionais, como pela liberdade dos versos, ele se encontra no domínio criativo de transgredir sentimentos em palavras combinadas.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Rubén Vela: "Maneras de luchar"

"Maneras de luchar" - Rubén Vela


Que no me digan
que escriben simplemente,
que dicen el poema
sin pensarlo siquiera.
Que él nace porque sí.

Es un arduo trabajo,
un oficio de herreros,

un hacer proletario.
Un cansancio que continuará mañana.

Que no me digan
que se hacen poemas sin sudores,
sin una larga y violenta jornada de trabajo.
Tengo las manos como las de un labriego,
duras, gastadas, llenas de poemas.


"Maneiras de lutar" (tradução de Adriano Nunes)




Que não me digam
que escrevem simplesmente,
que dizem o poema
sem pensá-lo sequer.
Que ele apenas nasce.

é um árduo trabalho,
Um ofício de ferreiros,
um fazer proletário.
Um cansaço que continuará amanhã.

Que não me digam
que se fazem poemas sem suores,
sem uma longa e violenta jornada de trabalho.
Tenho as mãos como as de um lavrador,
duras, gastas, repletas de poemas.



In: VELA, Rubén. "Los secretos". Editorial Sudamericana, 1969.

Rubén Vela: "Arte Poética"

"Arte Poética" - Rubén Vela


Piedra sobre piedra
palabra sobre palabra
el edificio crece.

Piedras como palabras
palabras como piedras
el edificio crece.

Piedra o palabra
todo el edificio.
El poema crece.




"Arte Poética" (tradução de Adriano Nunes) 




Pedra sobre pedra
palavra sobre palavra
o edifício cresce.

Pedras como palavras
palavras como pedras
o edifício cresce.

Pedra ou palavra
todo um edifício.
O poema cresce.










VELA, Rubén, Obra Poética 1953- 2004 Ensayos Críticos, Colección Metáfora, 1ª Edição, Buenos Aires – 2006, Editorial VINCIGUERRA, p.384.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Pablo Neruda: "El otro"

"El otro" - Pablo Neruda


Ayer mi camarada
nervioso, insigne, entero,
me volvió a dar la vieja envidia, el peso
de mi propia substancia intransferible.

Te asalté a mí, me asalta
a tí, este frío de cuchillo
cuando te cambiaría por los otros,

cuando tu insuficiencia se desangra
dentro de ti como una vena abierta
y quieres construirte una vez más
con aquello que quieres y no eres.

Mi camarada, antiguo
de rostro como huella de volcán,
cenizas, cicatrices
junto a los viejos ojos encendidos
(lámparas de su propio subterráneo):
arrugadas las manos
que acariciaron el fulgor del mundo
y una seguridad independiente,
la espada del orgullo
en esas viejas manos de guerrero.
Eso tal vez es lo que yo quería
como destino, aquello
que no soy yo, porque
constantemente cambiamos de sol,
de casa, de país, de lluvia, de aire,
de libro y traje,
y lo mío peor sigue habitándome,
sigo con lo que soy hasta la muerte?

Mi camarada, entonces,
bebió en mi mesa, habló tal vez, o tuvo
alguna de sus interrogaciones
duras como relámpagos
y se fue a sus deberes, a su casa,
llevándose lo que yo quise ser
y tal vez melancólico
de no ser yo, de no tener mis ojos,
mis ojos miserables.







"O outro" (tradução de Adriano Nunes) 




Ontem, meu camarada
nervoso, insigne, íntegro,
voltou a dar-me a velha inveja, o peso
de minha própria essência intransferível.

Assalte-te a mim, assalta-me
a ti, este frio de punhal
quando te alteraria pelos outros,
quando tua insuficiência se esvai
dentro de ti como uma veia aberta
e queres construir-te uma vez mais
com aquilo que queres e não és.

Meu camarada, antigo
de rosto como efígie de vulcão,
cinzas e cicatrizes
junto dos velhos olhos abrasados:
(lâmpadas de seu próprio subterrâneo),
enrugadas as mãos
que acariciaram o fulgor do mundo
e uma segurança independente,
a espada do orgulho
nessas veteranas mãos de guerreiro.
Isso talvez seja o que eu queria
como destino, aquele
que não sou eu, porque
constantemente mudamos de sol,
de casa, de país, de chuva, de ar,
de livro e traje,
e o pior de mim segue me habitando,
sigo co' aquilo que sou até a morte?

Meu camarada, então
bebeu em minha mesa, talvez falou, ou teve
alguma de suas dúvidas
duras como relâmpagos
e se foi a seus deveres, à casa,
levando aquilo que eu quisera ser
e talvez melancólico
de não ser eu, de não ter os meus olhos,
meus olhos miseráveis.










In: NERUDA, Pablo. "Defectos escogidos".

Eduardo Galeano: "Ventana sobre la cara"

"Ventana sobre la cara" - Eduardo Galeano 

¿Una máquina boba? 
¿Una carta que ignora su remitente y equivoca su destino?

¿Una bala perdida, que algún dios ha disparado por error?
Venimos de un huevo mucho más chico que una cabeza de alfiler, y habitamos una piedra que gira en torno de una estrella enana y que contra esa estrella, a la larga, se estrellará.
Pero hemos sido hechos de luz, además de carbono y oxígeno, y mierda, y
muerte, y otras cosas, y al fin y al cabo, estamos aquí desde que la belleza del universo necesitó que alguien la viera.


"Janela sobre a face" (tradução de Adriano Nunes)


Uma máquina boba?
Uma carta que ignora seu remetente e equivoca seu destino?
Uma bala perdida, que algum deus disparou por erro?
Viemos de um ovo muito menor que a cabeça de um alfinete, e habitamos uma pedra que gira em torno de uma estrela anã e que contra essa estrela, no fim das contas, espatifar-se-á.
Porém fomos feitos de luz, além de carbono e oxigênio, e merda, e morte, e outras coisas, e ao fim e a cabo, estamos aqui desde que a beleza do universo necessitou de alguém para contemplá-la.








In: GALEANO, Eduardo. “El Viaje”. Mini Letras/ H KliCZKOWSKI, primera edición: septiembre de 2006, p. 60.

Pablo Neruda: "Las máscaras"

"Las máscaras" - Pablo Neruda


Piedad para estos siglos y sus sobrevivientes
alegres o maltrechos, lo que no hicimos
fue por culpa de nadie, faltó acero:
lo gastamos en tanta inútil destrucción,
no importa en el balance nada de esto:
los años padecieron de pústulas y guerras,
años desfallecientes cuando tembló la esperanza
en el fondo de las botellas enemigas.

Muy bien, habláramos alguna vez, algunas veces,
con una golondrina para que nadie escuche:
tengo vergüenza, tenemos el pudor de los viudos:
se murió la verdad y se pudrió en tantas fosas:
es mejor recordar lo que víi a suceder:
en este año nupcial no hay derrotados:
pongámonos cada uno máscaras victoriosas.




"As máscaras" (tradução de Adriano Nunes) 




Piedade para estes séculos e seus sobreviventes
alegres ou maltratados, o que não fizemos
foi por culpa de ninguém, faltou aço:
gastamo-lo em tanta inútil destruição,
não importa no balanço nada disto:
os anos padeceram de pústulas e guerras,
anos desfalecentes quando tremeu a esperança
no fundo das garrafas inimigas.
Pois bem, falaremos alguma vez, algumas vezes,
com uma andorinha para que ninguém escute:
tenho vergonha, temos o pudor dos viúvos:
se morreu a verdade e se apodreceu em tantas fossas:
é melhor recordar o que irá acontecer:
neste ano nupcial não há derrotados:
ponhamo-nos cada um máscaras vitoriosas.







In: NERUDA, Pablo. "2000"

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Lêdo Ivo: " A voz e o lugar"


"A VOZ E O LUGAR"


Laringes de grafite, de Adriano Nunes. A laringe é um dos esconderijos da voz, um lugar da enunciação e nomeação do mundo. E o grafite, estampado no muro planetário, é o espaço que se abre à insubmissão, ao protesto, à reivindicação utópica, ao bel aujourd’hui mallarmeano.

Entre esses dois espaços, entre esses dois mundos, o da voz ao mesmo tempo imemorial e cotidiana, ou enobrecida pela arte poética, e destinada ao ouvido, e a voz imagística que, em todos os lugares do mundo, é endereçada ao olhar, transita a poesia do alagoano Adriano Nunes. Nela, duas inclinações se cotejam e dialogam; e os procedimentos canônicos convivem com invenções já inventadas e ousadias já alcançadas pela pátina do aplauso academizador.

Entre o passado que é presente e o presente que já é passado Adriano Nunes se movimenta: irônico, zombeteiro, desenvolto, comedidamente meigo, sensível às lições do espólio inumerável. Exibindo louvável jogo de cintura – que é uma das seduções desta coletânea de versos inaugurais – exibe a sua reflexão maliciosa, a sua habilidade irradiadora.

Embora procedente da República das Alagoas, há nele um veemente selo emigratório. Há algo ou muito de paulista ou paulistano – ou de carioca que segue na praia os passos do admirável  Antonio Cícero.
Na sua capacidade assimiladora, latejam tanto as experimentações já tornadas vetustas – como o letrismo, a desarticulação verbal, o namoro da chamada poesia culta com a poesia dos compositores populares – como o cultivo das formas veneráveis.

As influências ou afinidades indicam a sua procedência, as águas que contribui para o seu rio pessoal. Aliás, no poema “Confissão”, ele diz claramente de onde vem, embora não diga para onde vai ou pretende ir.

Adriano Nunes rima e desrima. Metrifica e desmetrifica. Brinca e desbrinca, finge gravidade, ciceroneia o leitor nas paragens em que o soneto se dessonetiza e o famigerado verso livre se espartilha, graceja num diapasão às vezes embalador. E lida com aspirações, coisas etéreas, sentimentos, pensamentos. Há desvairados ares em sua expressão poética – e, em contrapartida, uma falta de terra, de natividade, de berço geográfico.

E, isolado neste livro de tantas evanescências exprime a sua solidão um poema nativo, dedicado a outro poeta alagoano, que celebra em seus versos os mangues da terra natal. Os caranguejos, goiamuns, peixes e demais habitantes da manguelândia, lembrados por Adriano Nunes, agradecem, sumamente honrados, a menção confortadora.


Lêdo Ivo

sábado, 10 de novembro de 2012

Adriano Nunes: "Da quântica felicidade, à vera"

"Da quântica felicidade, à vera"


Aquele insólito instante inventado
Por áurea essência, a mágica quimera
Que ao peito tudo oferta, a forma sincera
De saber-me e sonhar-me, à tez do fado.

Ai, meu coração demais acelera!
Vejo-me imerso em versos, impregnado
De infinitos e, por estar ao lado

De quântica felicidade, à vera,

Tenho o que sempre mais quis. Um poema
Que acidentalmente em si não algema?
Um poema? O que sempre mais quis, claro.

Mas eis que surge súbito dilema:
Entre tantos poetas, não é raro
Sentir-me pó ante o meu despreparo.

Pablo Neruda: "Hoy cuántas horas van cayendo"

"Hoy cuántas horas van cayendo" - Pablo Neruda


Hoy cuántas horas van cayendo
en el pozo, en la red, en el tiempo:
son lentas pero no se dieron tregua,
siguem cayendo, uniéndose
primero como peces,
luego como pedradas o botellas.
Allá abajo se entiendem 
las horas con todos días,

con los meses,
con borrosos recuerdos,
noches deshabitadas,
ropas, mujeres, trenes y provincias,
el tiempo se acumula
y cada hora
se disuelve en silencio,
se desmenuza y cae
al ácido de todos los vestígios,
al agua negra
de la noche inversa.




"Hoje quantas horas vão caindo" (Tradução de Adriano Nunes)




Hoje quantas horas vão caindo
no abismo, na rede, no tempo:
são lentas porém não tiveram trégua,
seguem caindo, unindo-se
primeiro como peixes,
depois como pedradas ou garrafas.
Lá embaixo se entendem
as horas com os dias,
com os meses,
co' as imprecisas lembranças,
noites desabitadas,
roupas, mulheres, trens e províncias,
o tempo se acumula
e cada hora
se dissolve em silêncio,
se esmiúça e cai
ao ácido de todos os vestígios,
à água negra
da noite inversa.










In: NERUDA, Pablo. "El mar y las campanas"

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Adriano Nunes: "vertigem"

"vertigem"

o além alegremente azulado...
o céu ou - como não os compor? -
o seu sorriso 
a lançar-me ao infinito 
do espírito e da carne?

e, entre as mais nítidas lembranças 
e vontades tantas, 

o espectro de um delicioso flerte,
o quântico alcance
do amor.

Adriano Nunes: "Meus rabiscos" - para Tânia Du Bois

"Meus rabiscos" - para Tânia Du Bois


Sou poeta.
Sempre o soube,
Sempre, sempre,

Mesmo quando
Era tudo 
Quase olvido.

Mas sê-lo
E sabê-lo
É tão pouco.

Sou poeta e
Não me prendo
A meus olhos

Nem às cápsulas
E as vãs regras
Da existência.

Vez por outra,
Com coragem,
Fico rente

Ao infinito e, i-
Merso em medo,
Feito Cronos,

Eu devoro os
Meus rabiscos,
Os meus filhos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Tânia Du Bois: "Descubra a poesia no dia a dia: ADRIANO NUNES"

Texto crítico feito por Tânia Du Bois sobre a minha poesia: 


Descubra a poesia no dia a dia: ADRIANO NUNES
por Tânia Du Bois

“O VersO O /retém / DISPersO / POR DENTRO. / não vê?”

A literatura e a arte nos fazem acreditar e nos ensinam a viver neste mundo cada vez mais acelerado, materialista e individualista. A poesia como expressão literária é força libertadora, e sabemos perfeitamente quando estamos diante dela.

Conhecer Adriano Nunes na arte de escrever é colocar ritmo em nosso dia a dia; ter atitude inspirada na arte ao abrir espaços no cotidiano, para brilhar como leitor. Isso mostra as mudanças que vêm com a poesia, porque muitas decisões são tomadas através da presença com que ela atua direta ou indiretamente em nossas vidas. Segundo Adriano, “... Porque, ó poesia, nítida / Miragem, grã estampido, / A teus pés tenho caído?”

Para Nunes, a poesia vai além das letras, porque ele dá forma ao pensamento que se encadeia, “Um poeta não se faz só / De palavras e pensamentos / Nem do que tanto pulsa adentro. / Um poeta não se faz só...”

Adriano é dotado da capacidade de evadir-se ao mostrar, nos poemas, conhecimento e, ainda, acrescentar ao ser a ideia de que a linguagem está ligada a algo que causa a sensação de lapidação da palavra. Consequente, sua obra passa a fazer parte do nosso dia a dia. Nas suas palavras, “Que mais dizer agora, / ante o sonho que aflora, / dia a dia, mas sem / poder doá-lo a alguém? // ...Como pensar o mundo, / descravar-lhe a lança? / E que ilusão é essa / que a mente não alcança?”

Mais que isto, o poeta retrata com motivação e, certamente, alcança êxito com a força de nova visão, como revelação destinada a nos proporcionar interações diferenciadas com o seu processo de criação. Segundo ele, “...O sorriso-sol de alguém vindo / Sondar-me, - Meu bem? – Ou me iludo? - / Os sonhos todos e o mais lindo / De um amor: Entender que é tudo. // ...mas quem vem, ao longe , que fito / com o coração pleno e puro, / Enquanto desafio o infinito?”

Descobrir a poesia de Adriano Nunes no dia a dia é vencer e gostar dos desafios, como característica do leitor. Mas, a qualidade da obra é do poeta. Esse escritor promissor que descreve os poemas com talento. Quando dizemos da sua poesia, é inquestionável a qualidade e a conquista das palavras, como retrata, “... Lança-te ao íntimo. / Não sejas tolo / Um poema é / o que tem / Valor / Infinito.”





Tânia Du Bois, Professora, Bibliotecária, Editora da Poesia de Pedro Du Bois, escreve em Vidráguas, Recanto das Letras, Jornais Catarinenses e em A Revista.

Adriano Nunes: "para esta noite"

"para esta noite"


para esta noite,
portas abertas,
vidas em volta,
vidas em tudo,
sonhos mais nítidos,
ecos de uns versos
de cruz e sousa
e as tais miríades

do que não pode
deixar de haver:
todo esse amor
e os seus demônios.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Adriano Nunes: "pode não ser isso"

‎"pode não ser isso" 


a ideia de paraíso
não mais me interessa.
e nem mesmo essa
que até se confunde
com teu corpo, teu calor.

à orla da vida,
basta-me ler alguns versos
de Horácio, Homero ou Pessoa,
abrigar-me no teu flerte,
lamber o sal da existência

de um dia e observar o sol
tão distante, inalcançável.
além, nenhum pensamento
para atormentar-me. o amor?
não precisará ser isso

nem valer todo o infinito.