domingo, 3 de julho de 2011

Adriano Nunes: "O espantalho" - Para Antonio Cicero

"O espantalho" - Para Antonio Cicero



Não mais tenho os meus 

Artelhos de palha
Velha, nem a mente

A voar co' os corvos.

Quase a chuva e sol 

Cegaram-me. Uns pelos,
Do espelho de orvalho,
Vão-se, longe, sinto-os,

De mim, como folhas
Que levar se deixam,
Além, espalhando-me.

Sou esta fagulha

Que aos poucos se esvai, 

Tralha sobre tralha,
Trapo sobre trapo...
Perdi-me, entre agulhas, 

As pilhas de milhos,
As ilhas de emendas,
As trilhas das traças

E o que partilhei

Com todos,  meu ser
De pano e propósito,

O espantalho à espera
Da grã primavera.

Abro bem os braços
E em mim embaralho-me.
Um dia terei
Cabelos grisalhos?


Espanto-me. Encanto-me. 
Em um salto mágico,
Todo o cosmo varro, e a
Dizer que me adora


Ouço o vento agora.


Nenhum comentário: