"Paraíso Perdido" (Tradução de Adriano Nunes)
Dos séc'los através,
por nada deste mundo,
eu, sem sonhos, buscando-te.
Atrás de mim, não visto,
sem me roçar os ombros,
meu anjo morto, vela.
"¿Onde há Paraíso,
sombra, tu que estiveras?"
Pergunta com silêncio.
Cidades sem resposta,
rios sem fala, cumes
sem ecos, mares mudos.
Ninguém o sabe. Homens
fixos, de pé, à margem
estagnada das tumbas,
me ignoram. Aves tristes,
cantos petrificados,
em um êxtase o rumo,
cegas. Não sabem nada.
Sem sol, ventos antigos,
inertes, ante as léguas
por andar, levantando-se
calcinados, caindo
de costas, pouco dizem.
Diluídos, sem forma
a verdade que ocultam,
fogem de mim os céus.
Já no final da terra,
sobre o último fio,
a resvalar os olhos,
morta em mim a esperança,
esse pórtico verde
busco em negros abismos.
¡Oh buraco de sombras!
¡Fervedouro do mundo!
¡Que confusão de séculos!
¡Atrás, atrás!¡Que espanto
de escuridão sem vozes!
¡Que perdida minh' alma!
"Anjo morto, desperta.
¿Onde estás? Ilumina
com teu raio o retorno."
Silêncio. Mais silêncio.
Inativos os pulsos
do infinito da noite.
¡Paraíso Perdido!
Perdido por buscar-te,
eu, sem luz para sempre.
Rafael Alberti: "Paraíso Perdido"
A través de los siglos,
por la nada del mundo,
yo, sin sueñó, buscándote.
Tras de mí, imperceptible,
sin rozarme los hombros,
mi ángel muerto, vigía.
"¿Adónde el Paraíso,
sombra, tú que has estado?"
Pregunta con silencio.
Ciudades sin respuesta,
ríos sin habla, cumbres
sin ecos, mares mudos.
Nadie lo sabe. Hombres
fijos, de pie, a la orilla
parada de las tumbas,
me ignoran. Aves tristes,
cantos petrificados,
en éxtasis el rumbo,
ciegas. No saben nada.
Sin sol, vientos antiguos,
inertes, en las leguas
por andar, levantándose
calcinados, cayéndose
de espaldas, poco dicen.
Diluidos, sin forma
la verdad que en sí ocultan,
huyen de mí los cielos.
Ya en el fin de la tierra,
sobre el último filo,
resbalando los ojos,
muerta en mí la esperanza,
ese pórtico verde
busco en las negras simas.
¡Oh boquete de sombras!
¡Hervidero del mundo!
¡Qué confusión de siglos!
¡Atrás, atrás!¡Qué espanto
de tinieblas sin voces!
¡Qué perdida mi alma!
"Ángel muerto, despierta.
¿Dónde estás? Ilumina
con tu rayo el retorno."
Silencio. Más silencio.
Imóviles los pulsos
del sinfín de la noche.
¡Paraíso Perdido!
Perdido por buscarte,
yo, sin luz para siempre.
ALBERTI, Rafael. Obras Completas. Poesía. Barcelona: Seix Barral, 2003.
sábado, 28 de setembro de 2013
sábado, 21 de setembro de 2013
Mercedes de Velilla: "Nació una flor al pie de unas ruinas"
"Nasceu uma flor ao pé de umas ruínas" (Tradução de Adriano Nunes)
Nasceu uma flor ao pé de umas ruínas
onde ninguém a viu:
o sol não mais, desde sua eterna altura,
soube que aquela flor viveu uma tarde.
Assim foi meu destino; vegetando
na aridez de amargosas solidões,
oculta em sua dor, vive minh' alma.
Dela apenas Deus sabe!
Mercedes de Velilla: "Nació una flor al pie de unas ruinas"
Nació una flor al pie de unas ruinas
donde no la vio nadie:
el sol no más, desde su eterna altura,
supo que aquella flor vivió una tarde.
Así fue mi destino; vegetando
en la aridez de amargas soledades,
oculta en su dolor, vive mi alma.
¡Dios sólo de ella sabe!
VELILLA, Mercedes de. Antología Cátedra de Poesía de las Letras Hispánicas. Selección e introducción de José Francisco Ruiz Casanova. Madrid: Ediciones Cátedra, 2005, p. 552.
Nasceu uma flor ao pé de umas ruínas
onde ninguém a viu:
o sol não mais, desde sua eterna altura,
soube que aquela flor viveu uma tarde.
Assim foi meu destino; vegetando
na aridez de amargosas solidões,
oculta em sua dor, vive minh' alma.
Dela apenas Deus sabe!
Mercedes de Velilla: "Nació una flor al pie de unas ruinas"
Nació una flor al pie de unas ruinas
donde no la vio nadie:
el sol no más, desde su eterna altura,
supo que aquella flor vivió una tarde.
Así fue mi destino; vegetando
en la aridez de amargas soledades,
oculta en su dolor, vive mi alma.
¡Dios sólo de ella sabe!
VELILLA, Mercedes de. Antología Cátedra de Poesía de las Letras Hispánicas. Selección e introducción de José Francisco Ruiz Casanova. Madrid: Ediciones Cátedra, 2005, p. 552.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
MERCEDES DE VELILLA,
POEMA,
TRADUÇÃO
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Adriano Nunes: "Acalanto para as pequenas" - Para as filhinhas do poeta Frederico Barbosa
"Acalanto para as pequenas" - Para as filhinhas do poeta Frederico Barbosa
Brincam já, na incubadora,
A Pietra e a Joana, bem
Espertas, atentas, têm
À vez graça acolhedora.
O pai, poeta, se atém
Às peripécias agora
Das pequeninas, e, chora,
Com elas, como neném.
À tez da quântica aurora,
Coração materno aflora
E canta: nada o detém!
Sob tubos, brincam também
As menininhas, -que bem!-
Enquanto as sonha o lá fora.
Brincam já, na incubadora,
A Pietra e a Joana, bem
Espertas, atentas, têm
À vez graça acolhedora.
O pai, poeta, se atém
Às peripécias agora
Das pequeninas, e, chora,
Com elas, como neném.
À tez da quântica aurora,
Coração materno aflora
E canta: nada o detém!
Sob tubos, brincam também
As menininhas, -que bem!-
Enquanto as sonha o lá fora.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Adriano Nunes: "Ita speratur" - Para Eucanaã Ferraz
"Ita speratur" - Para Eucanaã Ferraz
Haverá para sempre um outro dia.
Não é isso que nos alerta o verso
Quando nele todo o infinito imerso
Atira-nos à ululante alegria?
Não é correto que em nós irradia
A vida com o seu matiz diverso,
Quando mais nos entrega a um universo
De senha e signo e sonho e alegoria?
Por que as vastas vontades olvidar,
De amarras impregnar o entendimento,
Se haverá para sempre um magno dia?
Por que à quimera mágica não dar
Aquela grã chance, o consentimento
Para haver para sempre um novo dia?
Haverá para sempre um outro dia.
Não é isso que nos alerta o verso
Quando nele todo o infinito imerso
Atira-nos à ululante alegria?
Não é correto que em nós irradia
A vida com o seu matiz diverso,
Quando mais nos entrega a um universo
De senha e signo e sonho e alegoria?
Por que as vastas vontades olvidar,
De amarras impregnar o entendimento,
Se haverá para sempre um magno dia?
Por que à quimera mágica não dar
Aquela grã chance, o consentimento
Para haver para sempre um novo dia?
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Adriano Nunes: "Elegia" - Para Roberto Bozzetti
"Elegia" - Para Roberto Bozzetti
Áurea aurora
Abre o dia, a
Arte aflora
E irradia. A
Lida agora
Principia a
Alegria
Dentro e fora,
A fatia
Que expectora
Esta hora
Que se expia,
A folia
Que vigora
E decora
A elegia.
Áurea aurora
Abre o dia, a
Arte aflora
E irradia. A
Lida agora
Principia a
Alegria
Dentro e fora,
A fatia
Que expectora
Esta hora
Que se expia,
A folia
Que vigora
E decora
A elegia.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
sábado, 14 de setembro de 2013
Adriano Nunes: "Nem mais"
"Nem mais"
Um dia, homem, serás
Uma ave,
Um riacho a correr, rápido,
Entre os vales,
Voltarás a ser, quem sabe,
Um bicho selvagem,
Ter plumas, pelos, penas poderás.
Até mesmo rabos e escamas.
Será que ainda haverá
Alguma árvore,
Colibris, cobras, cágados, cães, cactos,
Cantos de sabiás,
Um vestígio, sobre os galhos, dos saltos
Dos macacos,
Violetas, girassóis, rosas, crisântemos,
Lírios e cravos?
Um dia, homem, serás
Branco mármore.
E, talvez, não mais
Que pedra haverá.
Um dia, homem, serás
Uma ave,
Um riacho a correr, rápido,
Entre os vales,
Voltarás a ser, quem sabe,
Um bicho selvagem,
Ter plumas, pelos, penas poderás.
Até mesmo rabos e escamas.
Será que ainda haverá
Alguma árvore,
Colibris, cobras, cágados, cães, cactos,
Cantos de sabiás,
Um vestígio, sobre os galhos, dos saltos
Dos macacos,
Violetas, girassóis, rosas, crisântemos,
Lírios e cravos?
Um dia, homem, serás
Branco mármore.
E, talvez, não mais
Que pedra haverá.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Adriano Nunes: "Legitimidade" - Para Aetano Lima e Neuma Lima
"Legitimidade" - Para Aetano Lima e Neuma Lima
Ante o inesperado e
A broca e os ruídos,
Alarga-se a boca,
Reino corroído,
Tártaro e canal,
Porém não só isso,
Pelo visto... Um in-
Cisivo com vários
Vestígios de cárie e um
Rosto sem sorriso.
De platina, aos poucos,
O artefato pede
Passagem, reveste
O dente, que agora
Rei se faz legítimo
Entre os outros dentes,
Co' a sua coroa
Fulgente, metálica,
Enquanto, o sol doura,
À tez do infinito.
Ante o inesperado e
A broca e os ruídos,
Alarga-se a boca,
Reino corroído,
Tártaro e canal,
Porém não só isso,
Pelo visto... Um in-
Cisivo com vários
Vestígios de cárie e um
Rosto sem sorriso.
De platina, aos poucos,
O artefato pede
Passagem, reveste
O dente, que agora
Rei se faz legítimo
Entre os outros dentes,
Co' a sua coroa
Fulgente, metálica,
Enquanto, o sol doura,
À tez do infinito.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
sábado, 7 de setembro de 2013
Adriano Nunes: "Ante o instante que em mim arde"
"Ante o instante que em mim arde"
Do emaranhado mar de
Miragens, emerge o verso,
Ante o instante que em mim arde,
Secretamente, disperso.
Gema exposta, à tez da tarde,
À espera de um ver diverso,
Voraz, âmago em alarde,
A fundar novo universo.
Enquanto em signos absorto,
O infinito absorvo e canto
O que no pensar decanto,
Pista e ponte e praia e porto,
À prova: tudo recorto
E engendro em mim, com encanto.
Do emaranhado mar de
Miragens, emerge o verso,
Ante o instante que em mim arde,
Secretamente, disperso.
Gema exposta, à tez da tarde,
À espera de um ver diverso,
Voraz, âmago em alarde,
A fundar novo universo.
Enquanto em signos absorto,
O infinito absorvo e canto
O que no pensar decanto,
Pista e ponte e praia e porto,
À prova: tudo recorto
E engendro em mim, com encanto.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Adriano Nunes: "Striptease"
"Striptease"
O amor sem ter máscara
O amor sem ser medo
O amor sem ser mofo
O amor sem ser mina
O amor sem ser muro
O amor sem ser marca
O amor sem ser mudo
O amor sem ser metro
O amor sem ser modo
O amor sem ser mito
O amor sem ser mira
O amor sem ser múnus
O amor sem ser monta
O amor sem ser mágoa
O amor sem ser mídia
O amor sem ser média
O amor sem ser moda
O amor sem ser molde
O amor sem ser mescla
O amor sem ser manha
O amor sem ser mapa
O amor sem ser mártir
O amor sem ser múmia
O amor sem ser meio
O amor sem ser meta
O amor sem ser mula
O amor sem ser morte
O amor sem ser merda
O amor sem ser mesmo
O amor sem ter mácula
O amor sem ser meu.
O amor sem ter máscara
O amor sem ser medo
O amor sem ser mofo
O amor sem ser mina
O amor sem ser muro
O amor sem ser marca
O amor sem ser mudo
O amor sem ser metro
O amor sem ser modo
O amor sem ser mito
O amor sem ser mira
O amor sem ser múnus
O amor sem ser monta
O amor sem ser mágoa
O amor sem ser mídia
O amor sem ser média
O amor sem ser moda
O amor sem ser molde
O amor sem ser mescla
O amor sem ser manha
O amor sem ser mapa
O amor sem ser mártir
O amor sem ser múmia
O amor sem ser meio
O amor sem ser meta
O amor sem ser mula
O amor sem ser morte
O amor sem ser merda
O amor sem ser mesmo
O amor sem ter mácula
O amor sem ser meu.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
domingo, 1 de setembro de 2013
Adriano Nunes: "Setembro" - Para Luís Valério & Cado Selbach
"Setembro" - Para Luís Valério & Cado Selbach
Silente Setembro
Assume o momento
Que em mim quero, e, atento,
De amores me lembro.
Silêncio! Setembro,
O seu lume, o unguento,
Adentra violento
Em mim, membro a membro.
Um florir imenso,
Um fluir, mormente,
Em tudo que penso,
Um farol fulgente,
Poema propenso
A, em flor, dar-se, em gente!
Silente Setembro
Assume o momento
Que em mim quero, e, atento,
De amores me lembro.
Silêncio! Setembro,
O seu lume, o unguento,
Adentra violento
Em mim, membro a membro.
Um florir imenso,
Um fluir, mormente,
Em tudo que penso,
Um farol fulgente,
Poema propenso
A, em flor, dar-se, em gente!
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
Adriano Nunes: "Perpétuo criado"
"Perpétuo criado"
Madrugada em claro...
Entre as regras e
As penas, eu quase
Farol me declaro.
Da grã Roma, a base
Da Justiça, o amparo,
Um édito raro
Que amor extravase!
Astuto Proteu,
És verso, e sou teu
Perpétuo criado.
Este é o meu fado:
Estar como dado
À esp'rança o plebeu.
Madrugada em claro...
Entre as regras e
As penas, eu quase
Farol me declaro.
Da grã Roma, a base
Da Justiça, o amparo,
Um édito raro
Que amor extravase!
Astuto Proteu,
És verso, e sou teu
Perpétuo criado.
Este é o meu fado:
Estar como dado
À esp'rança o plebeu.
Marcadores:
ADRIANO NUNES,
POEMA
Assinar:
Postagens (Atom)