terça-feira, 27 de junho de 2017

Adriano Nunes: "Inquietante instante"

"Inquietante instante"


Amanhece.
Ouro e ilusão forjam de verve e
Fulgor a esperança ainda leve.
Vibra o tumulto de tudo
Com o peso de ser o
Tumulto de tudo. Átimo atento
Ao que se reconstrói por dentro
Da prima visão. Estará Apolo
Outra vez disposto a rasgar os céus
Inocentemente? Ou
Basta à existência o que basta
À folha anêmica das expectativas vãs,
O haver manhãs? O que se dissipou?
Amanhece. Metálico
Domesticado canto se ouve:
O despertador se agita: é a vida!
É a vida! É a vida! É a
Vida, a vida já sem rédea,
Que salta de si, de acasos vestida,
Vertida em ser não só vida,
Sem fazer rodeio, sem fazer cena.
Por que tanto nunca mesmo se pôde?
Ah, devir devastador, pretensão pétrea,
Por que à inquietante instante
O sonhar condena?

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