sábado, 3 de junho de 2017

Adriano Nunes: "Este mundo"

"Este mundo"


Na cabeça
De Medusa,
Vida pulsa.
Não só serpes
Que se mexem.
Não só verve
Com veneno.
Sequer víboras
Que se agitam,
Que se torcem,
E não se
Picam, botes
Não engendram,
Não por sorte.
Que não podem
As serpentes
Aderidas
À estranhíssima
Nova Górgona?
Não se atrevem
A ver óptica
Morte, todas
Elas, cobras
Sem um norte.
Eis que logo
Surge, súbito,
Grande grito
Na caverna.
Obras pétreas?
Ou Perseu
Que aparece
Com a lâmina
Luminosa,
Pronta para
Arrancar
A cabeça
Da telúrica,
Num só golpe
De reflexo?
Já despido
Do seu elmo
E do escudo,
Aos céus volta-se.
Morto o monstro,
Nada sabe
Do destino
Que, a acasos,
Seguirá.
O artefato
Da proeza
Junto ao corpo,
Já cansado,
Com pavor
De si mesmo,
Bem carrega.
Na cabeça
De Medusa,
Que não pulsa?
Mesmo morta,
Pedras gera
Com o olhar
Que não era
Mais o dela.
Para Atena
Oferece
Sua astúcia,
Seu ser único,
Por ser filho
Do deus Zeus:
A cabeça
De Medusa,
Este mundo.

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